Desmatamento na caatinga é impulsionado pela transição energética na Bahia
Por Eduarda Pinto
Conhecido pelo clima semiárido, temperaturas elevadas e chuvas escassas, o caatinga despontou como um ambiente ideal para o investimento em transição energética no Brasil. A caatinga é o quarto maior bioma do país e o maior da Bahia e atualmente abriga 62% das áreas de usinas fotovoltaicas do Brasil, que totalizaram 35,3 mil hectares. É o que aponta o relatório produzido pela MapBiomas e divulgado nesta quinta-feira (18).
Do total de hectares ocupados pelas usinas de produção de energia solar, cerca de 3.800 estão localizadas na caatinga baiana, representando o segundo maior contingente entre os estados analisados. Destacando a problemática do desmatamento no bioma, nesta área ocupada por usinas no território baiano, a maior parte das usinas, cerca de 71% está localizada em áreas de vegetação savânica nativa, um total de 2753 ha. O estado fica atrás apenas de Minas Gerais, que registra 26% do contingente total, o equivalente a 5,6 mil ha.
Transições de cobertura e uso da terra no bioma Caatinga para usinas fotovoltaicas entre 2016 e 2024 por estado. Foto: Reprodução / MapBiomas
Em entrevista, o professor Washington Rocha, coordenador da equipe da caatinga do MapBiomas destaca que a transição energética do país e a matriz energética limpa não podem ultrapassar os limites da conservação. “A gente tem notado, ainda não tenho esse número, mas há uma porcentagem muito significativa [das usinas fotovoltaicas] que estão em áreas ainda não desmatadas, ou seja, estão desmatando para implantar essas usinas”, explica.
O pesquisador destaca ainda que o estudo tem como um dos objetivos destacar as alternativas para a prática. “Não só na caatiga, mas no cerrado, existem opções de instalação de áreas que já apresentam desmatamento, alguma degradação e acho que aquelas deveriam ser as áreas prioritárias para a instalação desses empreendimentos”, destaca.
A segunda maior região ocupada pelas usinas são os espaços de mosaicos de usos, sendo 21,2% do total. Os mosaicos são espaços de usos mistos. Outros 6,6% das usinas foram implantadas em espaços de pastagens agropecuárias.
O estudo do MapBiomas revela ainda que (descrição dos usos da caatinga baiana). Os dados são de um levantamento sobre as mudanças ocorridas na cobertura e uso da terra na Caatinga, cobrindo o período entre 1985 e 2024.
A CAATINGA BRASILEIRA
O estudo indica que, em 2024, a caatinga ocupa 86,2 milhões de hectares, ou 10,1% do território nacional, e, em 40 anos, sofreu uma perda de 9,25 milhões de hectares de áreas naturais. O número indica uma perda de 14% da área natural. Entre os tipos de formações naturais mais afetadas, a savânica, vegetação clássica do semiárido, foi a mais afetada, com uma perda de 15,7% no período, o equivalente a 8,9 milhões de hectares.
Em sua área total, apenas 59%, ou 51,3 milhões de hectares, ainda é ocupada por vegetação nativa, mantida sem ação humana. Quando contabilizamos também corpos d’água, praia, duna e areal, a área natural da Caatinga sobe para 52,9 milhões de hectares, ou 61% do bioma.
A Bahia está entre os estados com maior índice de áreas nativas. Foi o quarto estado, com 58% das áreas naturais preservadas, atrás apenas do Piauí (82%), Ceará (68%) e Pernambuco (60%). Os estados com menor proporção de áreas naturais no ano passado foram Minas Gerais (50%), Rio Grande do Norte (50%), Alagoas (27%) e Sergipe (24%).
Enquanto as áreas naturais sofrem grandes perdas, as áreas chamadas conhecidas como “antrópicas” tiveram um aumento de 39% nos últimos 40 anos, somando 9,2 milhões de hectares de expansão. A maioria destas áreas de uso ou manejo humano são utilizadas para a agropecuárias, 37%, ou 32,3 milhões de hectares, e as pastagens são o principal uso (27%). Entre os usos agrícolas, as lavouras temporárias predominam com 1,4 milhão de hectares (74%), enquanto as lavouras perenes ocupam 483 mil hectares (26%).