Projeto de Lei na AL-BA pode reconhecer Ibicoara como “Capital Baiana do Godó”; veja detalhes
Por Leonardo Almeida
O deputado estadual Eduardo Salles (PP) apresentou um Projeto de Lei que propõe reconhecer oficialmente o município de Ibicoara, na Chapada Diamantina, como a “Capital Baiana do Godó”. A proposta, publicada na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) nesta sexta-feira (17), destaca a importância cultural, histórica e econômica do prato típico feito à base de banana verde cozida com carne ou outros ingredientes.
De acordo com o projeto, o título visa valorizar o papel central que o Godó desempenha na identidade local, sendo presença constante em festas populares, festivais gastronômicos e encontros familiares.
“No Município de Ibicoara, o Godó não é apenas alimento — é símbolo de pertencimento, memória afetiva e celebração. Presente em festas populares, encontros familiares, festivais culturais e eventos gastronômicos, o Godó desempenha papel central na afirmação da identidade ibicoarense e na valorização da cultura alimentar do interior baiano”, disse Salles.
O prato é descrito como uma expressão da culinária sertaneja baiana, com raízes nas comunidades rurais e forte vínculo com a história dos garimpeiros e tropeiros da região. A proposta ressalta que a simplicidade do preparo do Godó carrega saberes tradicionais transmitidos por gerações.
A cidade de Ibicoara já realiza, desde 2022, o Festival do Godó — evento que tem ganhado projeção no calendário turístico da Chapada Diamantina e deve ter, em 2025, sua terceira edição. Segundo o projeto, o festival tem atraído cada vez mais visitantes com sua programação diversificada, que inclui apresentações culturais, música ao vivo e a valorização da gastronomia regional.
Ao declarar Ibicoara como “Capital Baiana do Godó”, o município poderá utilizar oficialmente o título em campanhas promocionais, turísticas e culturais. O projeto também destaca que a medida se alinha às políticas nacionais de valorização da cultura alimentar, previstas na Constituição Federal e no decreto que regulamenta o patrimônio cultural imaterial no Brasil.
“A crescente valorização da culinária de raiz no Brasil, impulsionada por políticas culturais e pelo turismo gastronômico, reforça a necessidade de reconhecimento de práticas alimentares tradicionais como o Godó de Ibicoara. Essa valorização também encontra respaldo na Constituição Federal de 1988, que, em seu artigo 215, §1º, assegura a proteção das manifestações das culturas populares, dos povos indígenas e das comunidades tradicionais, e no Decreto nº 3.551/2000, que regulamenta o registro de bens culturais de natureza imaterial como patrimônio cultural brasileiro”, diz o trecho do projeto apresentado por Eduardo Salles.
O GODÓ E O GARIMPO
Conforme informações do Alpina, hotel conhecido no município de Mucugê, o godó tem origem junto com a explosão do garimpo na Chapada Diamantina, no final do século XVIII e início do século XIX. O prato surgiu na vila de Caeté-Açu, mais conhecida como Vale do Capão, no município de Palmeira.
Na época do garimpo, os trabalhadores costumavam prepará-lo com carne seca e é assim que ele é servido no restaurante do Hotel Alpina, mantendo a tradição secular que o fez famoso. Os garimpeiros passavam dias nas lavras de diamante e, basicamente, se alimentavam do godó enquanto permaneciam por lá.
Na década de 1930, quando o território passou por um período de recessão muito grande, o godó de banana verde e carne seca foi fundamental para evitar a morte de muitas famílias pela fome. O prato sofreu adaptações para ser feito com ingredientes mais baratos e com grande disponibilidade na época.