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Entrevista

Carlinhos de Tote, gerente de meio ambiente do Projeto CO² Manguezal

Por Bruno Leite

Carlinhos de Tote, gerente de meio ambiente do Projeto CO² Manguezal
Foto: Bahia Notícias

Fundado há cerca de cinco anos dentro da Fundação Vovó do Mangue, o Projeto CO² Manguezal é mais uma etapa na trajetória de Carlinhos de Tote junto às causas ambientais. Após anos no serviço público, com passagens pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), pela extinta Superintendência de Desenvolvimento da Pesca (Sudepe) e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o ambientalista, agora aposentado, executa no projeto e na fundação ações de educação ambiental na região do Recôncavo.

 

Desde que foi implantado, o CO² Manguezal impactou cerca de três mil crianças através de atividades de educação, produziu mais de 46 mil mudas de mangue e mais de 6 mil mudas de mata atlântica, promoveu capacitações, estudos e monitoramentos, visando sempre a preservação e recuperação de mangues em uma área que desde 2000 faz parte da Reserva Extrativista Marinha da Baía do Iguape (Resex).

 

A Fundação Vovó do Mangue, realizadora do projeto, foi criada em 1997 por estudantes da cidade de Maragogipe, que considerando a relação sincrética entre a mitologia das religiões de matriz africana e os ritos e crenças do catolicismo, escolheram um nome que fizesse, ao mesmo tempo, uma alusão a Nanã e a Santa Ana.

O bioma, presente em todo o litoral brasileiro tem, segundo Carlinhos de Tote, uma grande importância e que está ameaçada. “Além de filtro, o manguezal é a maternidade da vida marinha, é o albergue de aves, é o maior mercado a céu aberto e gratuito da população, e agora sabemos que há também uma alta absorção desse carbono. Então, o crescimento da população tem mais subtraído deste ambiente do que colocando lá”, explica.

 

 

Como surgiu a Fundação Vovó do Mangue?  

A Fundação Vovó do Mangue surgiu em 1997, exatamente no mesmo dia de aniversário da cidade, no dia 8 de maio. Um grupo de estudantes de Maragogipe fundou a instituição baseado nestes princípios da mitologia. De lá para cá vários projetos foram tocados, como o ‘Viva o Mangue’, e agora, através de um convênio que ganhamos por edital da Petrobras, estamos trabalhando com a proteção e recuperação de áreas degradadas, tanto em Maragogipe, Cachoeira e São Félix, que formam uma reserva extrativista desde 2000, quanto na Baía de Todos-os-Santos, em São Francisco do Conde.

 

Isso através do CO² Manguezal?

Sim. Primeiro foi o projeto do manguezal e a segunda etapa agora é com o nome de CO² Manguezal, que é um assunto que vem despertando interesse universal. Você sabe que todos os países, as potências, estão preocupados com a questão do carbono, não é? Agora em agosto nós vamos apresentar os resultados de conclusão destes estudos.

 

Pelo que percebi, o CO² conta com algumas parcerias com instituições. De que maneira elas apoiam o projeto?

Nossa fundação tem como parceiros o Instituto Chico Mendes [ICMBio], as prefeituras municipais e uma parceria forte com a UFRB [Universidade Federal do Recôncavo da Bahia]. Essas parcerias é que nos dão condições para que possamos exercer. Nas prefeituras, por exemplo, a gente tem a questão das escolas, porque nós temos três linhas bastante atuantes neste projeto: uma é você trabalhar com a educação ambiental, que é a parte que eu gerencio e é voltada para o fundamental I; a segunda é o trabalho com os pescadores; e a outra é o trabalho com os agentes multiplicadores

 


Foto: Flickr / Vovó do Mangue

 

Quem são esses agentes multiplicadores?

São a população, o pessoal da área de saúde, os agentes comunitários e as lideranças locais. Todos eles querem se apropriar destes conhecimentos, destes resultados e passar isso para suas comunidades de uma forma como nós fazemos: lúdica, interativa, inclusiva e reflexiva. A gente tem tido bons resultados.

 

Quantas pessoas estão envolvidas neste projeto?

Hoje nós temos mais de quinze pessoas envolvidas diretamente com o projeto. Temos, além destes, os agentes multiplicadores e os diaristas, que são pescadores e marisqueiras que recebem o treinamento para trabalhar nessa parte de produção de mudas, coleta de propágulos, no trabalho do plantio, do monitoramento. Uma coisa que nos chama a atenção são os resultados que esse projeto tem obtido. Por exemplo: hoje, quem toma conta da nossa sede de campo é uma marisqueira que começou lá no curso de pescadores e marisqueiras, a Rita Nanci.

 

Quais os desafios que vocês enfrentam hoje em relação à preservação e à recuperação do mangue?

Rapaz, eu diria que estas dificuldades não são de agora, são coisas antigas. Os estudos de manguezal e os estudos do carbono são mais recentes, mas a história do manguezal é muito antiga. As dificuldades perpassam séculos e séculos e de repente a gente convive com coisas que não são novas. Veja, há muito tempo nós trabalhamos com pescadores e no passado eles não estavam muito inseridos no processo, o pessoal não sabia ler. Hoje eles foram se apropriando disso com as tecnologias e com o envolvimento do projeto. Outro problema é o lixo, que tem sido uma preocupação mundial e que, em relação ao mangue, a comunidade teve que perceber que ele funciona como um filtro, porque ele é o primeiro a reter. Se a população não tomar esta consciência de que aquele lugar tem essa grande importância e não perder o preconceito de que ele é um lugar fétido, que dá mosquito ou que é destinado aos chamados ‘povos da lama’, a gente não vai resolver o problema, que é de todos.

 


Foto: Flickr / Vovó do Mangue

 

Como é a relação hoje da cultura desta população que vive próxima ao mangue com o CO² Manguezal e de que maneira isso tem impulsionado o projeto de vocês?

Isso fortalece mais. Remeter a questão da sua identidade como pescador, como produtor de alimento, como uma mulher marisqueira é importante. Eu trabalho com música, teatro e com o verso para educar, quando cantamos e declamamos coisas próximas à vida destas pessoas, gera uma identificação. E é essa maneira de educar que eu acredito que seja a base de transformar. Conheço, por exemplo, comunidades que diminuíram sensivelmente a pesca com bomba quando a gente levou este problema para eles de forma dramatizada.

 

Há alguma preocupação por parte de vocês sobre as mudanças nas políticas governamentais no âmbito do meio ambiente?

Primeiro eu queria dizer o seguinte: o que virá a gente não sabe. Agora o que nós estamos fazendo bem feito são as metas e o cumprimento destas atividades [assumidas no ato de inscrição no edital], para mostrar a importância de um trabalho sério, bonito e envolvente. Nós temos esse convênio até dezembro e depois nós temos um aditivo que leva até março. Mas até agora não temos nenhum indicativo do Executivo de que haverá continuidade. Há uma luz se abrindo de que o governo está implementando ideias ou noções de que devamos trabalhar desde agora com o infantil.