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Entrevista

Jussara Barbosa, secretária-geral do Sindicato dos Bancários da Bahia

Por Francis Juliano

Jussara Barbosa, secretária-geral do Sindicato dos Bancários da Bahia
Foto: Divulgação / Sindicato dos Bancários da Bahia

Cidades como São Felipe, Ipirá, Correntina, Jeremoabo e Amélia Rodrigues têm algo em comum. As agências do Banco do Brasil (BB) – explodidas por quadrilhas de roubo a banco – deixaram de trabalhar com dinheiro. O fato gera caos e empobrece o município, como afirmou ao Bahia Notícias a secretária-geral do Sindicato dos Bancários da Bahia, Jussara Barbosa. “Não tendo dinheiro circulando, a cidade entra em declínio. Se eu saio de minha cidade para sacar dinheiro em outra, eu aproveito e passo no mercado, na farmácia, na lojinha e compro mercadoria nessa outra cidade”, argumenta. Segundo ela, mesmo com os lucros sempre crescentes dos bancos, em particular do Banco do Brasil, não há uma preocupação em reabrir as agências. Para ela, só uma mobilização geral dos moradores, o que inclui a classe política, pode fazer com que os estabelecimentos voltem a funcionar normalmente. “A população tem que acionar todo mundo. Mexer com a prefeitura, com a Câmara de Vereadores, deputados estaduais e, principalmente, os deputados federais, que estão em Brasília”, disse. Confira abaixo a entrevista na íntegra:

Foto: Divulgação / Sindicato dos Bancários da Bahia


O que o Banco do Brasil diz em relação à volta dos serviços para as cidades onde agências foram atacadas explodidas?
Desde julho do ano passado, o Banco do Brasil diz o seguinte: quando há um sinistro, ou seja, uma explosão, o banco, através de um grupo de técnicos em Brasília, uma equipe que engloba a parte de segurança, dá um prazo de 60 a 90 dias para dizer como vai atuar naquela unidade. Se vai reformar a agência, se vai voltar a trabalhar normalmente, se vai atuar sem uso de dinheiro, ou se a agência vai ser fechada. A questão de São Felipe [no Recôncavo] mesmo, o banco exigia assim: “qual a segurança que vamos ter para reabrir a agência? O que a cidade tem feito em termos de segurança?”.

 

Mas não seria o Estado que deveria responder pela segurança? As polícias são do Estado.
Os municípios também devem responder. Só que os municípios são contingenciados, tem menos verba. Tem algumas cidades que o Batalhão da Polícia tem quatro, cinco policiais. E aí o banco fala: “eu vou abrir agência para ser explodida?”.


Os bancos não deveriam investir também na segurança das próprias agências?
Os bancos investem, mas, infelizmente, apenas em segurança tecnológica. Eles investem em tecnologia para que o hacker não entre em sua conta. Porque aí, o prejuízo é do próprio banco. Mas em termos de segurança física, não. Se espera que os municípios, e o Estado, façam essa parte. 

 

E os grandes lucros dos bancos, não serviriam para a segurança das próprias agências?
Com certeza. Um exemplo é que existem maquinários, terminais de autoatendimento, que quando ocorre a explosão, automaticamente o dinheiro é incinerado. Isso seria um excelente investimento. Porque o ladrão iria se arriscar mais para fazer isso.

 

Isso é aplicado aqui na Bahia?
Muito pouco. Existe em poucas máquinas que mancham o dinheiro quando ocorre a explosão. A máquina joga uma tinta e o dinheiro fica todo manchado. Mas os meliantes já arranjaram uma forma de solvente que tira a tinta das cédulas. No entanto, já há maquinário que quando explode dispara um gás muito forte, como uma neblina muito densa, capaz de não se enxergar nada a um palmo do nariz. Isso ajuda, mas esse gás se dissipa com o tempo. Então, só poderia ser usado se a gente tivesse um contingente policial capaz de chegar a tempo de abordar esses criminosos.

 

Banco em Ipirá fechado para saques | Foto: Francis Juliano / Bahia Notícias

 

Qual o lucro do Banco do Brasil nestes últimos meses?
O lucro sempre aumenta. O Banco do Brasil teve lucro de R$ 2,75 bilhões no primeiro trimestre deste ano, uma alta de 12,5%, resultado do aumento das receitas [o que entra no banco] com tarifas e redução das despesas de provisão. Uma alta lucratividade, mas que na verdade não foi tão alta assim. Porque o banco dispensou, aposentou, um número muito grande de funcionários. A folha salarial desonerou também o banco. Houve uma diminuição de cargos, de função, de pessoal, e cada vez mais tem menos gente nas agências do Banco do Brasil. É uma tristeza ver o Banco do Brasil dessa forma, em uma diminuição brutal de funcionários e o banco ainda diz que nos próximos anos a meta é reduzir pela metade os funcionários.

 

Como fica a questão das cidades que estão sem serviços bancários após as explosões?

A gente vai até a direção do banco, conversa, e eles dizem, muitas vezes, que a instrução é não reabrir a agência. Eles consideram fazer a agência funcionar, mas sem dinheiro, o que significa que a agência estará ali para fazer negócio, empréstimo, seguro. A questão é que não tendo dinheiro circulando, a cidade entra em declínio. Se eu saio de minha cidade para sacar dinheiro em outra cidade, eu aproveito e passo no mercado, na farmácia, na lojinha e compro mercadoria. Além disso, eu me arrisco nas estradas. Tem também o risco de ser assaltado, porque os assaltantes ficam de olho em quem se desloca para sacar dinheiro.

 

Há exemplos de cidades que estão se movimentando para retomar os serviços bancários?
Em São Felipe se fez todo o protocolo que o banco pediu. A cidade aumentou o número de policiais, aumentou as rondas, a cidade está com mais vigilância, câmeras foram instaladas pela cidade, mas o banco ainda não voltou a trabalhar com numerário [dinheiro].  A cidade está bem organizada. Conseguiram apoio de vereadores, comerciários, representantes do comércio, representante da zona rural, igreja. Estiveram aqui na superintendência do Banco do Brasil, em Salvador, e mostraram disposição de ir até Brasília. É uma cidade que está extremamente organizada para a reabertura da agência. 

 

Os moradores de São Felipe estão sem agência deste quando?
Na verdade, ocorreram duas explosões lá, a última em 2016. De lá para cá, a agência só trabalha com negócios, sem serviços com dinheiro. Só o Bradesco da cidade funciona. Mas isso, volto a dizer, traz muito prejuízo. Porque precisa circular dinheiro para ir na banquinha comprar tomate. Precisa de dinheiro para comprar uma água mineral. Ah, mas tem gente que diz: “e não pode comprar com o cartão de débito?”. Mas o agricultor na feirinha vai vender como? Ele, muitas vezes, não tem máquina de cartão.

 

Os ataques a banco na Bahia são diferentes do que ocorre em outros estados?
Olha, esse tipo de assalto, com explosões, de destruição das agências, é um modo próprio da Bahia. Outro dia teve um caso em Mato Grosso do Sul com características muita parecidas com o que se vê aqui, e quando se descobriu, os assaltantes eram baianos. E na Bahia, o Banco do Brasil é o mais prejudicado. Tem agência desde o sul ao norte do estado. É o que é mais presente no interior.

 

Foto: Divulgação / Sindicato dos Bancários da Bahia

 

Por ainda ter a União como principal acionista, o Banco do Brasil não tem uma função social de servir à população, mas até do que obter lucro?
Olha, a União tem um pouco mais de ação em relação aos outros acionistas. Mas está quase meio a meio. Pouco mais de 50,1% é da União e 49,9% é privado. Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste antes eram bancos públicos com missão social, agora são bancos de economia mista com visão social. Está cada dia mais saindo do social, se eximindo dessa responsabilidade de atender o mais carente, de puxar a taxa de juros mais para baixo. O governo que nós estamos vivendo tem uma visão de privatização. Para ele, tudo que é público deve ser privatizado. O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, mesmo, subiram vertiginosamente as taxas de juros, equiparando às taxas cobradas pelo Bradesco e pelo Itaú.  

 

Na sua visão o que deve ser feito pelas cidades que estão afetadas pela falta dos bancos?
Primeiro, tem que haver uma mobilização da sociedade. O banco tem um programa de gestão de segurança que é disponibilizado para conhecimento da comunidade. Mas a população tem que acionar a rede política. Mexer com a prefeitura, com a Câmara de Vereadores, deputados estaduais e, principalmente, os deputados federais, que estão em Brasília. Tem que mobilizar também comerciantes, agricultores, ou seja, todo mundo, para que, falando no mesmo idioma, se cobre a abertura dessas agências. As pessoas precisam mostrar o quanto de prejuízo essas cidades estão tendo. Elas podem vir até a superintendência do Banco do Brasil aqui em Salvador e conversar. Não somos nós que vamos decidir pela reabertura, mas podemos fazer a ponte entre a sociedade civil e a direção do banco.