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Entrevista

Ricardo Passos, major da Companhia Independente de Policiamento Especializado

Por Lucas Arraz / Francis Juliano

Ricardo Passos, major da Companhia Independente de Policiamento Especializado
Foto: Divulgação / Cipe Chapada

A Companhia Independente de Policiamento Especializado (Cipe) surgiu com a missão de combater crimes contra instituições financeiras, como o ataque a sede da Prosegur em Eunápolis, no último mês (lembre aqui). Para lidar com esse tipo ação criminosa, que geralmente envolve armamento forte e explosivos, a tropa é treinada para lidar com cenários adversos. “Em todo momento, policiais da Cipe lidam com com situações extremas. Pelo tipo de crime que a gente combate, o PM pode passar até 5 dias trabalhando ininterruptamente em lugares sem água”, comenta o major Ricardo Passos, que atua na Cipe Chapada. Além dos ataques a bancos, a companhia do major ainda lida com outro problema: o comércio ilegal de explosivos que abastecem os ataques. Em uma única apreensão em Novo Horizonte, região do semiárido, a Cipe recolheu explosivos suficientes para destruir 2,7 mil caixas eletrônicos (lembre aqui). Sobre o assunto, o policial só agradece uma coisa: “Temos exatamente o mesmo armamento que grandes quadrilhas utilizam no banditismo e no novo cangaço. É o mesmo armamento, graças a Deus, para combater esse tipo de crime”. A experiência de atuação da companhia especializada, porém, deu ao major uma opinião forte sobre o que é preciso para garantir a segurança dos bancos baianos. “A partir do momento que se colocar empresas de seguro fora da cidade, na zona rural, a todo momento teremos explosão”, revelou Passos sobre o projeto que quer proibir empresas como a Prosegur nas áreas urbanas de Eunápolis. A solução para a situação, que ainda é recorrente na Bahia, acaba sendo uma só: “Os bancos precisam investir em segurança. Hoje em dia, com a tecnologia que temos, não era mais para ter nenhum ataque a caixa eletrônico”.

 

O que é exatamente uma Companhia Independente de Policiamento Especializado (Cipe) e quais são suas competências? 

Cipe são unidades popularmente chamadas no interior de Caatingas. A princípio, as 11 unidades de Cipe foram criadas para proteger as divisas da Bahia. A primeira tropa foi criada na região da Caatinga para combater o tráfico de drogas e o novo cangaço, atividade em que marginais invadiam cidades e roubavam bancos antes de fugirem. Essa primeira unidade teve um retorno tão positivo na região que foi instalada que o trabalho foi ampliado para outras regiões. Com a expansão, todas as divisas do estado foram fechadas pelas tropas. Depois de algum tempo surgiu também a necessidades de unidades como essas no miolo do estado. Desde então, as Companhias Independentes de Policiamento Especializado cuidam de determinadas partes da Bahia. Cada Cipe recebe, em seu nome, o bioma em que ela atua. Como a minha, que se chama Cipe Chapada, temos a Cipe Caatinga, que atua em Juazeiro, Cipe Cerrado, Cipe Sudoeste, em Vitória da Conquista, Cipe Mata Atlântica, em Posto da Mata, Cipe Cacaueira, em Ilhéus, Cipe Central, no Vale do Jiquiriçá, Cipe Semiárido, em Xique-Xique, Cipe Litoral Norte, em Esplanada, e a Cipe Polo, que fica na Região Metropolitana de Salvador (RMS).

 

Como um policial se torna parte da uma das Cipe?

O policial tem que passar por um curso de nivelamento que consiste em treinamento intensivo de duas semanas. Ele será levado ao extremo do desgaste físico e mental para avaliarmos a resistência, a fadiga e a resposta frente alguma diversidade. Em todo momento, policiais da Cipe lidam com situações extremas. Pelo tipo de crime que a gente combate, o PM pode passar até 5 dias trabalhando ininterruptamente em lugares sem água. É diferente, por exemplo, de um policial da capital que trabalha de manhã e de noite fica em casa. Por essa razão, a gente procura levar o candidato à exaustão para ver como aquele homem vai se comportar em uma situação de crise. Após as duas semanas de treinamento, ainda avaliamos a vida social do candidato para obter a certeza que não haverá desvio de condutas. 


(Apreensão da Cipe | Foto: Divulgação)

 

No último ano a tropa da Chapada fez, em uma única apreensão em Novo Horizonte, o recolhimento de explosivos suficientes para destruir 2,7 mil caixas eletrônicos. O que faz a circulação de explosivos ser tão intensa nesta região?  

Novo Horizonte é uma cidade que vive do garimpo de lítio e rutilo. Como a novela da Rede Globo [O Outro Lado do Paraíso], as pessoas do município dependem economicamente da mineração ou de trabalhos ligados a prefeitura. Com a grande quantidade desses minérios, que são usadas na confecção de computadores, como também na construção de ferramentas da indústria petroquímica, a cidade passou a concentrar chineses. Você chega em Novo Horizonte e metade da população é de chineses que vão para o local para comercializar os minérios. A obtenção das pedras, porém, só é possível com explosão de áreas. A associação de garimpeiros faz o seu trabalho e tem o controle dos explosivos utilizados por meio de chips. O grande problema são os garimpeiros clandestinos que obtém explosivos por meio de ações criminosas, como ataque a mineradoras. Esse desvio de explosivos motivou a criação de uma base fixa da Cipe em Novo Horizonte. De lá, monitoramos e revistamos, em planos de evitar que os criminosos cheguem até as armas.


A Cipe tem a estrutura e o apoio necessários para atuar na prevenção de desvios de explosivos para o comércio mercado ilegal?

Com certeza. Todas as nossas equipes recebem treinamento e qualificação. E graças a Deus temos o que tem de mais moderno em armamentos. Temos exatamente o mesmo armamento que grandes quadrilhas utilizam no banditismo e no novo cangaço. É o mesmo armamento, graças a Deus, para combater esse tipo de crime. 

 

Para além da Cipe, geralmente, o efetivo de policiais de uma determinada cidade do interior consegue lidar com as quadrilhas de ataque a bancos?

Não. Boa parte das cidades pequenas e médias conta apenas com dois ou três policiais por cidade. O policiamento local tem muita dificuldade na hora de combater grandes quadrilhas de roubo a banco. Hoje, a polícia militar passa por um momento muito crítico no que tange o efetivo. Temos 30 mil homens, enquanto o ideal seria, no mínimo, 40 mil homens.

 

 

Para contornar a questão do policiamento local e evitar ataques como o visto na sede da Prosegur no último mês, a Câmara de Eunápolis está preparando uma lei que pretende proibir a instalação de instituições financeiras em áreas urbanas. Uma medida como essa contribui para a segurança da população?

Não ajuda não, amigo. Essas leis muitas vezes são feitas mais com o objetivo popularesco do que com informação prática necessária. A partir do momento que se colocar empresas de seguro fora da cidade, na zona rural, a todo momento teremos explosão nesses locais que guardam valores. O que precisamos é melhorar a quantidade de policiais na cidade. Melhorar o policiamento local. Precisamos também de investimento por parte do poder privado. Os bancos precisam investir em segurança. Hoje em dia, com a tecnologia que temos, não era mais para ter nenhum ataque a caixa eletrônico. Já existem tecnologias que destroem notas na iminência de um ataque, tecnologias de proteção que, infelizmente, os responsáveis não se interessam em investir. Boa parte do valor investido em segurança por bancos para evitar crimes cibernéticos. Para os bancos, eles pouco ligam se uma agência é explodida. A imagem choca, mas o banco é rapidamente reconstruído. O que precisa se levar em conta é que, quando uma agência é assaltada, isso cria um problema social que afeta a economia local da cidade. Afeta o pequeno agricultor, os moradores que vão para outras cidades para buscar rendimentos e gera mais custos para as pessoas. Se a sede da Prosegur tivesse guarita, paredes blindadas, grande quantidade de seguranças, a história seria diferente… O problema não está no local. A iniciativa privada deveria investir mais na sua segurança.