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Notícia

Com presença em todo o país, CV e PCC têm hegemonia em 13 estados

Por Raquel Lopes | Folhapress

Com presença em todo o país, CV e PCC têm hegemonia em 13 estados
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

As duas maiores facções criminosas do Brasil PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho) estão presentes nas 27 unidades da federação, mas com hegemonia em 13 estados brasileiros.
 

Os dados inéditos obtidos pela Folha são do Fórum Brasileiro de Segurança Pública com informações preliminares de parceria com a Abin (Agência Brasileira de Inteligência). O lançamento do estudo completo está previsto para fevereiro.
 

O documento mostra que o PCC tem hegemonia em Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rondônia, Roraima, São Paulo e Piauí. Já o CV tem domínio sobre seis estados: Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Tocantins e Rio de Janeiro, estado onde surgiu.
 

O estudo combina informes produzidos por superintendências regionais da Abin com a validação das informações por consultores especializados no tema e checagem nas secretarias estaduais de Segurança Pública.
 

Presentes em todas as unidades da federação, as duas facções deixaram de ser apenas grupos restritos aos presídios para se tornar organizações transnacionais, cada uma operando a partir de um próprio "manual de negócios".
 

Os dados indicam que ambas exercem hegemonia no cenário nacional e fazem negócios internacionais, mas adotam estratégias e modelos de governança distintos.
 

O diretor presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, aponta que a configuração atual remonta a 2016, quando o PCC rompeu com o CV após o assassinato de Jorge Rafaat, conhecido como o "Rei da Fronteira" entre Brasil e Paraguai.
 

Rafaat era o grande atacadista que abastecia simultaneamente as duas organizações criminosas. Seu assassinato pelo PCC e a tomada do controle da rota caipira provocaram o rompimento definitivo entre as duas facções. A rota caipira é como ficou conhecido o trajeto que parte da fronteira e leva até o Porto de Santos a droga dos países sul-americanos.
 

A partir desse episódio, instalou-se a guerra que redefiniu o mapa criminal no Brasil. Sem o antigo acesso aos fluxos tradicionais de drogas, o CV foi obrigado a buscar novas rotas de abastecimento e, inicialmente, firmou aliança com a facção Família do Norte, em Manaus. Atualmente, essa organização é considerada extinta por investigadores.
 

Com essa parceria, o CV passou a dominar a rota do Solimões, garantindo seu próprio fornecimento. O controle territorial se tornou, então, a base de sua estratégia de expansão, um movimento que fortaleceu a facção e se consolidou como resposta direta ao avanço do PCC.
 

"Atualmente, o PCC controla a rota caipira e se especializa no atacado e no envio de drogas, principalmente para a Europa, enquanto o Comando Vermelho controla o Alto Solimões e se concentra em abastecer o consumo interno no Brasil, apesar de também ter negócios internacionais, só que de forma embrionária perto do PCC", disse.
 

No entanto, a expansão de cada facção ocorreu por caminhos distintos. O CV caracteriza-se pela expansão territorial agressiva, utilizando confrontos para matar ou integrar traficantes e facções locais.
 

Sua atividade principal foca em abastecer o consumo interno de drogas no Brasil, que é o segundo maior consumidor mundial de cocaína. Para isso, controla territórios que passam pela Amazônia, terras indígenas e chegam aos centros consumidores, como o Sudeste.
 

Como a Folha mostrou, a maconha skunk produzida na Colômbia, que chega por meio da Rota do Solimões, é destinada quase integralmente ao mercado brasileiro e registra crescimento especialmente nas regiões Sul e Sudeste.
 

O estudo aponta que a facção está na Colômbia, Peru, Bolívia e Suriname. Entretanto, dados da Polícia Federal mostram que há negócios também com Argentina, Paraguai e Venezuela.
 

Lima explica que quando houve a expansão do Comando Vermelho para a Amazônia, já existiam modalidades de crime organizado fortemente conectadas a ilícitos ambientais, como desmatamento, garimpo e grilagem.
 

O crime ambiental pré-existente na região possuía tecnologia de lavagem de dinheiro bastante sofisticada, como no caso do ouro, que acabou por capacitar e qualificar a facção a lavar o dinheiro da droga.
 

Já o método de atuação do PCC se baseia na ocupação estratégica de pontos de infraestrutura crítica: portos, aeroportos e estradas que conectam regiões. A facção se especializou no tráfico em grande escala e no envio de drogas, sobretudo para a Europa, mercado considerado mais rentável.
 

O grupo explora intensamente as rotas aéreas e utiliza alianças para acessar diferentes mercados, operando com uma estrutura que se assemelha a uma holding de associados: parceiros que utilizam a logística da facção para garantir que a carga chegue ao destino final.
 

A facção também desenvolveu mecanismos sofisticados de lavagem de dinheiro. Hoje, segundo o estudo, o PCC possui conexões internacionais em 16 países, com destaque para sua presença na Europa — Espanha, Portugal, Itália, Irlanda.
 

Como a Folha mostrou, a Polícia Federal já mapeou que as duas facções fazem negócios com grupos de outros países. O estudo mostra que o Comando Vermelho tem maior concentração na América do Sul enquanto o PCC tem ampliado mais suas rotas para outros continentes.
 

As duas facções também diferem na forma como tomam decisões internas. No PCC, a Sintonia Final atua como instância máxima de deliberação, responsável por arbitrar casos graves: autorizações de assassinatos, punições internas e decisões estratégicas precisam passar por seu crivo.
 

No Comando Vermelho, embora exista o Conselho Final, nem todas as decisões dependem dessa validação, o que confere maior autonomia às lideranças regionais, facilitando sua expansão.
 

Segundo Lima, combater essa nova configuração do crime exige mais do que policiamento. Requer uma ação coordenada que integre inteligência financeira, cooperação internacional, políticas sociais e, crucialmente, proteção ambiental.
 

Entenda as facções
 

PCC se torna holding multinacional, enquanto CV foca sua expansão na América do Sul para controlar as rotas da Amazônia
 

Comando Vermelho
 

- Alcance: Quatro países na América do Sul (Colômbia, Peru, Bolívia e Suriname). Dados da PF também falam em - Argentina, Paraguai e Venezuela
 

- Modelo: Expansão regional amazônica
 

- Atividade principal: Controle de rotas fluviais na Amazônia (Alto Solimões, Vale do Juruá) par escoamento de cocaína
 

Primeiro Comando da Capital
 

- Alcance: 16 países (Paraguai, Bolívia, Colômbia, Uruguai, Itália, Holanda, Portugal, Espanha, Reino Unido, Alemanha, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Tailândia, Camboja e Vietnã)
 

- Modelo: Holding multinacional
 

- Atividade principal: Exportação de cocaína via portos (Santos) e lavagem de dinheiro global
 

Principais rotas que alimentam o tráfico brasileiro
 

- Rota Caipira: MT/MS - GO - MG - SP (Porto de Santos)
 

- Rota do Alto Solimões: Colômbia - Rio Solimões - Amazonas - Distribuição Nacional
 

- Rota da Bolívia (MT): Bolívia - 21 municípios fronteiriços do MT - Rota Caipira
 

- Rota do Vale do Juruá: Peru (Ucayali) - Acre - BR-364 - Distribuição Nacional