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Mercado de tornozeleiras eletrônicas é dominado por 5 empresas, que esperam dobrar ganhos até 2030

Por Alex Sabino | Folhapress

Mercado de tornozeleiras eletrônicas é dominado por 5 empresas, que esperam dobrar ganhos até 2030
Foto: Reprodução

Objeto central no debate político brasileiro desde a prisão de Jair Bolsonaro, a tornozeleira eletrônica é um artigo restrito. Cinco empresas disputam o setor no país com dispositivos que não são vendidos por seus fabricantes, são apenas alugados.
 

A quantidade de tornozeleiras eletrônicas cresceu 20 vezes no Brasil entre 2016 e 2024, estimam empresas do setor. No ano passado, estavam em uso cerca de 122 mil unidades. O crescimento, segundo participantes da indústria, deve continuar.
 

"Nos próximos cinco anos, este número vai dobrar", diz Sávio Bloomfield, presidente da Spacecom, fabricante nacional e líder no mercado. O motivo é a tendência da Justiça de adotar regimes menos severos do que a prisão.
 

A Spacecom, com sede em Curitiba, domina 80% do mercado no Brasil, mas o equipamento usado por Bolsonaro era da UE Brasil Tecnologia. É a companhia que tem contrato com o governo do Distrito Federal.
 

Procurada pela reportagem, a UE Brasil não quis se manifestar sobre o tema ou passar informações. A alegação é que se trata de área sigilosa por lidar com assuntos de segurança pública.
 

As principais concorrentes são as fabricantes brasileiras Geocontrol, a Synergye e a britânica Buddi, que disputam contratos com governos estaduais e secretarias de segurança pública para fornecimento do equipamento, que são os clientes deste setor.
 

As tornozeleiras, dependendo do tipo de tecnologia que empregam, são alugadas por cerca de R$ 250 mensais por preso, o que pode representar uma economia para os cofres públicos.
 

Dados da Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais) mostram que o custo médio de cada preso no sistema carcerário varia entre R$ 1.100 e R$ 4.300, de acordo com o estado. Se considerada a média de R$ 2.331, cada detento custa ao poder público, por ano, R$ 28 mil.
 

Este total significa que o detento em regime fechado é R$ 25 mil mais caro que o aluguel anual da tornozeleira (R$ 3.000).
 

MONITORAMENTO
Em geral, as fabricantes de tornozeleiras oferecem mais do que as tornozeleiras em si ao poder público.
 

"É um acordo de prestação de serviço. Não se trata de apenas fazer a locação. Depende do que deseja cada estado no processo de licitação. É definida a quantidade de tornozeleiras, o valor, se teremos de colocar uma central de monitoramento ou isso ficará a cargo do estado, a quantidade de técnicos de campo. Tudo varia", afirma
 

Algumas tornozeleiras enviam sinais de localização uma central, por exemplo. As mais modernas enviam os dados uma vez a cada minuto.
 

O sistema é composto por transmissor GPS, modem de comunicação e uma central que funciona 24 horas por dia. Caso alguma anormalidade aconteça, o aparelho manda um aviso e o centro de monitoramento inicia os protocolos de emergência. Isso inclui acionar a polícia e o magistrado encarregado do caso.
 

A carcaça é feita de um plástico resistente, como poliuretano. A pulseira é de fibra sintética ou uma borracha resistente. Deve ser durável e à prova d'água. Na parte interna, tem sensores, dispositivo GPS e bateria. A trava de segurança pode ser de aço ou plástico reforçado, com sensores para alertar em caso de rompimento.
 

Todos os estados brasileiros têm contratos com empresas privadas para fornecimento de tornozeleiras eletrônicas.
 

Algumas empresas importam a parte eletrônica, que pode vir dos Estados Unidos, do Reino Unido ou da China. A Spacecom afirma trabalhar com tecnologia 100% nacional. O valor de fabricação de cada unidade depende da tecnologia, mas pode variar de R$ 2.000 a R$ 4.500.
 

"O futuro é a miniaturização ainda mais significativa do equipamento, com maior autonomia de bateria. As de hoje duram 48 horas", completa Bloomfield.
 

Os próximos modelos devem também aperfeiçoar sistemas antifraudes. Hoje, eles detectam se houve corte na fita de proteção, percebem calor excessivo (como no caso da solda usada por Bolsonaro), umidade, movimentos bruscos, impacto e se houve tentativa de cobri-lo com algum material para interromper o sinal.
 

Não carregar a bateria também é considerado uma infração do benefício concedido pela Justiça.
 

Os acordos para fornecimentos de tornozeleiras representaram, no ano passado, cerca de R$ 30,5 milhões de faturamento para as empresas. Mas a receita total é maior, já que serviços, como o monitoramento, a manutenção e o uso de pessoal para cuidar dos equipamentos, não estão incluídos neste montante.
 

Dentro do mercado de sistemas de monitoramento eletrônico no Brasil, as tornozeleiras são 0,21% do total. Com a inclusão de câmeras, monitores e demais sistemas biométricos, o mercado movimentou cerca de R$ 14 bilhões em 2024, segundo representantes do setor.
 

As tornozeleiras ganharam notoriedade durante a Operação Lava Jato. A doleira Nelma Kodama, primeira mulher presa no contexto do escândalo, conhecida como "dama do mercado", acumulou seguidores nas redes sociais ao postar fotos usando acessórios de luxo que combinavam com a tornozeleira.
 

Na época, fabricantes do setor receberam sondagens de grandes empresas envolvidas no escândalo interessadas em comprar tornozeleiras eletrônicas, que seriam doadas à Polícia Federal, de acordo com participantes do mercado. A vantagem seria que os equipamentos estariam disponíveis caso seus executivos fossem condenados por corrupção, o que poderia evitar a prisão deles.
 

"O mercado de tornozeleiras é um dos que mais vai se beneficiar da política de diminuir a população carcerária no país", constata Sávio Bloomfield.