Governo alemão minimiza polêmica sobre Belém e diz que Merz não vai se desculpar
Por José Henrique Mariante | Folhapress
Friedrich Merz não depreciou Belém ou o Brasil durante discurso na semana passada. Portanto, não vai pedir desculpa. Em uma entrevista de tons ásperos com jornalistas alemães, Stefan Kornelius, porta-voz e secretário de Comunicação do governo Merz, buscou minimizar a polêmica que desde segunda-feira (18) persegue o primeiro-ministro da Alemanha.
"Gostaria de esclarecer mais uma vez o contexto, pois percebo uma certa agitação em torno deste tema que pouco tem a ver com os fatos", declarou Kornelius, nesta quarta-feira, em Berlim, quando indagado se o governo pensava em pedir desculpa.
O secretário então passou a fazer um breve relato da visita do premiê a Belém, no último dia 7, idêntico ao passado por seu gabinete à Folha na terça. Na capital paraense para a Cúpula dos Líderes da COP30, Merz lamentou não ter tido tempo para conhecer melhor a "beleza natural" de Belém e da Amazônia.
A proximidade entre os dois países também foi destacada. "Queremos continuar a fortalecer as relações com o Brasil, incluindo a economia e o comércio. A Feira de Hannover, que o presidente Lula prometeu visitar no próximo ano, também servirá para esse fim. A Alemanha mantém uma parceria estratégica com o Brasil. A cooperação bilateral é estreita e baseada na confiança. Nesse sentido, a impressão do primeiro-ministro sobre esta viagem muito curta à América Latina foi bastante positiva."
Diferentemente da véspera, quando o governo alemão não comentou as críticas brasileiras e internacionais à fala de Merz, Kornelius desta vez arriscou uma explicação.
"A observação referia-se, essencialmente, ao desejo da delegação de iniciar a viagem de volta após um voo noturno muito cansativo e um longo dia em Belém. Quando o primeiro-ministro diz ‘vivemos em um dos países mais bonitos do mundo’, isso não significa que outros países não sejam também muito bonitos."
Completou o comentário afirmando que considerava "muito apropriado o primeiro-ministro descrever a Alemanha como um dos países mais bonitos do mundo."
Na semana passada, em discurso no Congresso Alemão do Comércio, Merz usou o Brasil como referência negativa para enaltecer a Alemanha. "Senhoras e senhores, nós vivemos em um dos países mais bonitos do mundo. Perguntei a alguns jornalistas que estiveram comigo no Brasil na semana passada: 'Quem de vocês gostaria de ficar aqui?' Ninguém levantou a mão. Todos ficaram contentes por termos retornado à Alemanha, na noite de sexta para sábado, especialmente daquele lugar onde estávamos."
O vídeo com esse trecho do discurso de Merz viralizou, provocando críticas de autoridades brasileiras e ambientalistas alemães que estão na COP30.
Perguntado novamente se o primeiro-ministro não iria se desculpar e se ele não via dano na relação entre os países, Kornelius respondeu: "Duas vezes não".
Em uma troca de argumentos ríspida com um dos jornalistas, Kornelius declarou: "Você está insinuando que o primeiro-ministro ficou repugnado com a cidade. Isso não é verdade".
O questionamento então se espalhou para os outros integrantes da comitiva alemã em Belém. O porta-voz respondeu que não havia ministros no voo do premiê, mas, diante da insistência, assessores de outras pastas acabaram se pronunciando, em tom conciliatório, relatando "conversas muito interessantes e estimulantes no local, especialmente com a população indígena".
"Foi um dia muito curto. Ele passou muito tempo no centro de conferências. À noite, houve realmente uma breve visita ao delta do Amazonas, a um restaurante, onde, aliás, ele seguiu o conselho do presidente brasileiro e comeu comida brasileira. Foi muito bom", declarou Kornelius, em referência ao comentário de Luiz Inácio Lula da Silva de que Merz deveria ter ido a um boteco na capital paraense.
"Devo repetir que o primeiro-ministro não se manifestou com descontentamento. Ele disse que vivemos em um dos países mais bonitos do mundo. Ele se referia à Alemanha. Posso repetir que o Brasil certamente também é um dos países mais bonitos do mundo. Mas acho que não é repreensível que o chanceler alemão faça uma pequena hierarquização nesse sentido", declarou o secretário, diante da insistência dos jornalistas.
Depois de defender a atual política ambiental do país e afirmar que a Alemanha se comprometeu a fazer uma "contribuição significativa" ao TFFF, o fundo de florestas lançado oficialmente pelo Brasil na COP30, Kornelius se viu obrigado a voltar à polêmica.
"Já expliquei isso várias vezes e só posso repetir: o primeiro-ministro está longe de fazer comentários depreciativos sobre o Brasil. Ele fez uma comparação. Além disso, ele aproveitou intensamente essa viagem muito curta ao Brasil para aprofundar as excelentes relações que a Alemanha mantém com o Brasil."
