O que é a cocaína negra, variedade encontrada no Brasil que escapa de cães farejadores
Por Carlos Villela | Folhapress
A operação policial que apreendeu 34 kg de cocaína negra em Manaus em outubro expôs um método ainda pouco comum, mas em uso crescente, para ocultar a droga e escapar da identificação por policiais e cães farejadores.
A variante negra passa por processos de escurecimento com substâncias como carvão, corantes e produtos químicos.
O uso dessas substâncias, especialmente carvão ativado, ajuda a mascarar o odor da droga, dificultando a identificação por cães farejadores.
Segundo a Receita Federal, a droga também não reage ao teste preliminar feito com tiocianato, o que dificulta a identificação inicial. A substância deixa a cocaína, branca, com a cor azul.
A cor e os agentes químicos adicionados permitem que a substância seja moldada em formatos diferentes e incomuns. Segundo um relatório da Agência de Serviços de Fronteira do Canadá, já foram identificadas peças religiosas produzidas com ela, além de carregamentos escondidos dentro de cartuchos de tinta para impressora e em rótulos de corante industrial.
Quando chega ao destino final, a droga passa por um novo processo químico para extrair a cocaína pura.
Por causa disso, o valor da droga é muito maior do que a variedade normal. De acordo com a Polícia Civil do Amazonas, que encontrou a carga em uma casa de alto padrão no bairro Ponta Negra, cada quilo pode chegar a US$ 100 mil (R$ 530 mil).
Ações de combate ao narcotráfico já identificaram que as cargas da variante são oriundas da fronteira amazônica, principalmente do Peru e da Colômbia, e seguem para a a Europa, América do Note e Oceania.
Os 50 kg apreendidos em Manaus —34 kg da variação negra e 16 kg da branca— vieram do Peru e iriam para a Austrália no fundo falso de quadros e móveis, segundo a investigação.
A última apreensão em território amazonense foi em 2019, na cidade de Manacapuru, a cerca de 65 km da capital.
A Receita Federal apreendeu em 2021 no Rio Grande do Sul uma carga de 26 kg de cocaína negra enviada de Manaus e escondida em pacotes de açaí em pó. Na ação, um homem colombiano foi preso.
Em 2015, o Departamento de Operações de Fronteira de Mato Grosso do Sul anunciou a apreensão de seis bolsas de couro com fundos falsos recheados com a substância. A mulher que levava a carga disse que foi contratada para buscar as drogas na Bolívia e levar até a capital paulista.
Em 2023, 2,7 kg foram apreendidos no aeroporto de Vitória (ES). Segundo a Polícia Federal, a mulher seguia para São Paulo, mas seu destino final era a Índia.
Um ano antes, foram encontradas em São Paulo versões em tons de marrom, vermelho e amarelo, disfarçadas em embalagens de achocolatado, suco de maçã em pó e maca peruana.
Há relatos de apreensão de cocaína negra desde a década de 1990. Em 1998, a primeira apreensão registrada na Colômbia foi feita no aeroporto de Bogotá. A droga estava escondida dentro de cartuchos de impressora em uma carga que seguiria para a Itália.
