Petrobras cede espaço a Marinha no porto de Belém, mas prossegue envio de suprimentos a sonda
Por Folhapress
A Petrobras cedeu à Marinha espaços no porto de Belém, durante o período da COP30, mas prosseguiu com o envio de suprimentos –a partir da base logística na capital do Pará– à sonda que faz a perfuração no bloco 59, na costa amazônica do Amapá, em busca de petróleo.
A distância entre os dois pontos –o porto em Belém e o local onde ocorre a perfuração, na altura de Oiapoque (AP) – é superior a 500 km. Mesmo assim, a estatal mantém na capital paraense uma base de apoio à operação de exploração.
A capital do Pará sedia a COP30, a conferência do clima da ONU, a mais importante cúpula voltada às tentativas de contenção das mudanças climáticas.
Nesta quinta (6) e sexta-feira (7), chefes de Estado e de governo se reuniram em Belém para a Cúpula dos Líderes, evento que antecedeu o início das tratativas diplomáticas da COP30, que começam nesta segunda (10) e prosseguem até o dia 21.
No discurso de abertura da cúpula, o presidente Lula (PT) defendeu a superação da dependência dos combustíveis fósseis. O chefe do Executivo disse ser necessário "se afastar" dessa fonte de energia, e depois anunciou a intenção da criação de um fundo voltado à transição energética, abastecido com dinheiro do petróleo.
Lula pressionou o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para a concessão da licença para prospecção de petróleo no bloco 59, na bacia Foz do Amazonas, que fica a 160 km da costa de Oiapoque, na margem equatorial brasileira. A perfuração começou no mesmo dia da licença, em 20 de outubro.
O governo do petista e a Petrobras executam um plano de expansão de exploração de combustíveis fósseis, agora na costa amazônica.
No mesmo dia do discurso de abertura da Cúpula dos Líderes, uma embarcação deixou o Porto do Belém rumo à sonda NS-42, que opera no bloco 59, como mostram registros de monitoramento de embarcações da ferramenta Marine Traffic. Segundo o monitoramento, a previsão é de chegada à sonda neste sábado (8).
Esse barco fez uma "operação de load na margem equatorial" no começo de outubro, conforme publicação nas redes sociais de uma empresa contratada pela Petrobras –a Global Ship Service– para operar no Porto de Belém, com serviços que incluem a "coleta e transporte de resíduos na margem equatorial".
As embarcações da Global Ship ficam atracadas no Porto de Belém, na altura do armazém 11. Registros da CDP (Companhia Docas do Pará), responsável pelo porto, mostram o status de "desatracado" para uma embarcação da Global Ship, ação que estava prevista para 2029, conforme os mesmos registros públicos.
Também há a informação sobre a atracação de um navio da Marinha no porto de Belém, entre 5 e 26 de novembro, período que compreende a realização da COP30.
Em nota, a Petrobras afirmou que equipes seguem atuando na perfuração do bloco na costa do Amapá.
"Os modais e rotas de transporte definidos não têm relação com a realização da COP30 em Belém", disse.
"A Petrobras define a logística com base em uma série de fatores, como melhor modal, otimização de malha e estratégias contratuais. Esses fatores são observados em todas as regiões que a companhia opera, inclusive nas atividades de perfuração do poço Morpho, no litoral do Amapá."
A CDP afirmou estar "ciente" das tratativas entre Marinha e Petrobras para a atracação dos navios da Marinha, no berço utilizado pela estatal no porto de Belém.
Segundo a Marinha, duas embarcações receberam autorização para atracar nos armazéns 11 e 12 do porto de Belém: o navio-aeródromo multipropósito Atlântico e o navio de pesquisa hidroceanográfica Vital de Oliveira. A chegada das embarcações contou com avaliação técnica da secretaria extraordinária para a COP30, afirmou a Força, em nota.
O objetivo das embarcações é dar suporte em logística e segurança durante a conferência do clima. "Foi necessário movimentar meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais de outras sedes para Belém. Por conta das dimensões, os mesmos necessitavam estar atracados na área comercial do porto de Belém", cita a nota.
A área é utilizada por diversos operadores logísticos, a Petrobras entre eles, e por isso houve reuniões com esses operadores para "mitigar dificuldades operacionais temporárias". Segundo a Marinha, houve "anuência plena de todos ao construir um ambiente colaborativo e sinérgico, pois foi compreendida a importância das ações de segurança para o sucesso da conferência".
A reportagem fez contato com a sede da Global Ship em Salvador, que forneceu um contato de representante em Belém que não respondeu às mensagens.
Reportagem publicada pela Folha de S.Paulo no último dia 2 mostrou que a Petrobras alterou a rota de voos que transportam as equipes responsáveis pelo suporte e trabalho de perfuração do poço na costa amazônica, de forma a evitar os deslocamentos a partir de Belém durante a realização da COP30.
Funcionários que precisam se deslocar a Oiapoque, no extremo norte do país, foram avisados pela Petrobras que os voos contratados para esse transporte –operados pela companhia aérea Azul– deixariam de ser operados a partir de Belém, ou tendo Belém como ponto de chegada. Esse ponto passou a ser Macapá.
Na justificativa apresentada, a estatal argumentou que a mudança se deve à realização da COP30 durante o mês de novembro. Assim, Belém deixa de ser a base dos voos voltados às equipes de trabalho de 26 de outubro a 30 de novembro, conforme o comunicado.
