Operação no Rio vazou e mortes começaram antes de incursão em favelas, mostra documento
Por Folhapress
As forças de segurança do Rio de Janeiro tinham conhecimento de que a operação policial de terça-feira (28) havia vazado quatro horas antes do início da incursão nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte, mostra documento a que a Folha de S.Paulo teve acesso.
Por volta de 1h da manhã de terça (28), cerca de 20 homens em motos entraram em confronto com policiais militares em um dos acessos dos conglomerados de favela. Dois deles morreram depois, no hospital.
A Secretaria de Estado de Segurança Pública foi procurada, mas não respondeu até a publicação deste texto.
Ao término, dois baleados se identificaram como chefes do Comando Vermelho no Espírito Santo e afirmaram aos policiais que estavam fugindo porque sabiam da operação iminente. O vazamento foi relatado pelos agentes em um registro de ocorrência.
A operação, batizada de Contenção, mirou a facção.
No documento, os policiais militares afirmaram que realizavam patrulhamento de rotina na estrada Ademar Bibiano, em Del Castilho, quando avistaram aproximadamente 20 motocicletas saindo do Complexo do Alemão. Ao perceberem a aproximação da viatura policial, o grupo fugiu em direção à avenida Itaoca.
Nas proximidades da estação de Bonsucesso, da SuperVia, os homens efetuaram disparos contra três agentes —um subtenente e dois sargentos, que revidaram com um total de 25 disparos de fuzil, ainda segundo o documento.
"Após estabilização do terreno, os PMs fizeram um 360º e localizaram os referidos homens baleados/feridos, sendo que um portava um fuzil Taurus T4 cal 5.56 nº suprimida, c/ 1 carregador e 12 munições, enquanto o outro detinha uma pistola Glock cal 9mm c/ 1 carregador sem munições, além de 3 granadas caseiras. Os demais elementos se evadiram em direção da comunidade de Manguinhos", diz trecho do registro.
Os agentes informaram à polícia que os baleados "ainda apresentavam sinais vitais" e foram socorridos na viatura para o Hospital Salgado Filho, onde morreram. Eles ainda não foram identificados.
"Vale ressaltar que os criminosos informaram que eram oriundos do Espírito Santo, onde eram lideranças da facção Comando Vermelho daquela unidade da federação. Disseram também que estavam saindo do Cpx [complexo] do Alemão, por conta da informação vazada de que haveria operação policial nas comunidades daquele complexo", consta no registro.
Mesmo com conhecimento de que a facção já sabia da operação, cerca de 2.500 policiais fizeram a incursão às 6h. Ela resultou na ação mais letal da história do estado, com 121 mortes, de acordo com a contabilidade oficial.
Inicialmente, o governo Cláudio Castro disse que eram 64 mortos. Mas desde as primeiras hora desta quarta-feira (29), moradores do Complexos da Penha, onde ocorreu a ação, retiraram dezenas de corpos de uma área de mata, que foram se acumulando em uma praça.
No início da tarde, o governo Castro confirmou que o número era bem maior do que o anunciado inicialmente, com 119 mortos, sendo 4 policiais —a gestão afirma que todos os outros eram suspeitos de serem criminosos. Mais tarde, o número subiu para 121.
