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Brasileiros perderam R$ 9,9 bilhões com day trade na pandemia, diz estudo

Por Matheus dos Santos | Folhapress

Brasileiros perderam R$ 9,9 bilhões com day trade na pandemia, diz estudo
Imagem meramente ilustrativa | Foto: Rovena Rosa / Arquivo Agência Brasil

Quase um milhão de pessoas recorreram ao day trade (compra e venda de ativos na Bolsa no mesmo dia) durante a pandemia de coronavírus no Brasil e perderam R$ 9,9 bilhões no período. É o que revela um estudo da FGV (Fundação Getulio Vargas) obtido com exclusividade pela reportagem.
 

Os prejuízos podem ser ainda maiores, pois o levantamento, que utiliza dados da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), desconsidera custos de corretagem e gastos dos investidores com cursos e plataformas.
 

Para medida de comparação, o programa de bolsas para o ensino médio do governo federal, Pé-de-Meia, tem um custo estimado de R$ 12 bilhões para 2025.
 

O estudo, publicado na Revista Brasileira de Finanças, indica que perdas financeiras predominam no day trade. No período pré-pandemia, entre 2017 e 2020, 95,8% dos dias registraram resultado negativo para os investidores brasileiros. O número subiu para 96,4% após março de 2020.
 

"Independentemente do contexto, quase todos os dias as instituições financeiras extraem valor das operações realizadas pelas pessoas físicas —após a pandemia, as perdas diárias se tornaram maiores", escrevem Fernando Chague e Bruno Giovannetti, professores da EESP-FGV (Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas) e autores da pesquisa.
 

Segundo o levantamento, a média de day traders era de 25 mil por dia antes da pandemia. O número saltou para 88 mil durante o período —no auge, 108 mil pessoas faziam day trade diariamente.
 

Considerando a perda de R$ 9,9 bilhões e o contingente de quase 1 milhão de pessoas (968,5 mil) que recorreu ao day trade, o prejuízo médio foi de R$ 10,2 mil por indivíduo.
 

Giovannetti afirma que o período de confinamento intensificou a prática. "Quando chega a pandemia, a vulnerabilidade aumenta muito, com perdas de emprego. O discurso do day trade, que é de uma fonte alternativa de renda, se torna mais atraente com as pessoas dentro de casa."
 

Segundo ele, a opção predileta é por contratos futuros, que permitem ao investidor comprar ou vender ativos como dólar e commodities em uma data futura e a um preço estabelecido. Esse tipo de ativo permite a alavancagem, isto é, operar com valores maiores que os que a pessoa tem.
 

"Se ele investe R$ 1.000, que é o que tem, o ganho vai ser baixo, mas com a alavancagem, consegue operar valores 200 vezes maiores. Na prática, movimentando recursos superiores aos que efetivamente tem, pode lucrar mais".
 

O estudo afirma que os investidores que aderiram ao day trade não têm um perfil predominante. Profissões como administradores (12,1%), empresários (6,9%), analistas de sistemas (4,3%) e engenheiros (4,4%) foram as mais comuns, mas vendedores (2,8%), motoristas (1,4%), cabeleireiros (0,6%) e feirantes (0,5%) também aderiram.
 

Para Giovannetti, falta maior fiscalização dos agentes desse mercado, para que eles sejam obrigados a informar os riscos desse tipo de operação. "Também falta cuidado para que os dados sobre day trade sejam divulgados de forma simples e clara. A informação sobre perdas é, muitas vezes, omitida", diz.
 

A CVM, entidade responsável por monitorar as operações na Bolsa, define o day trade como "uma prática regular no mercado de ações e de derivativos". O órgão também destaca que a atividade exige preparo técnico, emocional e financeiro.
 

"As evidências apontam que a probabilidade de perdas é muito maior do que a de ganhos consistentes. Por isso, a educação financeira e o gerenciamento de riscos são fundamentais para quem deseja realizar esse tipo de operação", diz em comunicado.
 

A CVM recomenda ao investidor verificar se a instituição possui registro junto ao órgão e avaliar a procedência das informações recebidas. "[É aconselhado que ele] não acredite em promessas de retornos elevados, rápidos e com baixo risco, características comuns em esquemas irregulares", afirma.
 

Para Giovannetti, o discurso do day trade se assemelha ao mercado de apostas esportivas, as bets, que também sugerem a possibilidade de ganhos instantâneos.
 

"É uma escala ainda mais nociva. O day trade tem uma complicação técnica. Abrir conta em uma corretora e aprender a operar mercado futuro são tarefas complicadas, e mesmo assim as perdas são grandes. O estudo é um alerta para as bets, que são mais simples de operar."
 

Segundo dados da SPA (Secretaria de Prêmios e Apostas) do Ministério da Fazenda, as empresas de apostas esportivas e jogos online faturaram R$ 17,4 bilhões no Brasil de janeiro a junho deste ano.
 

Apostadores brasileiros perderam, entre vitórias e derrotas, R$ 23,9 bilhões entre junho de 2023 e junho de 2024, de acordo com o Itaú.
 

COMO FUNCIONA O DAY TRADE?

O day trade é uma negociação iniciada e encerrada em um dia, envolvendo os mesmos ativos e que pode durar horas ou minutos.
 

Para os investidores interessados, basta criar uma conta em corretora, transferir o dinheiro e fazer compra e venda de ativos financeiros. Não é necessária análise de crédito.
 

Segundo Cristiano Correa, professor do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais), os ganhos do day trade costumam estar vinculados à divulgação de resultados de empresas ou a eventos aguardados pelo mercado financeiro, como a definição da taxa de juros.
 

Para ele, a prática exige estudos. "Não se pode esquecer que o mercado de renda está pagando 15% ao ano. O investidor precisa compreender que não é necessário tomar um risco muito grande para ter um bom retorno financeiro."
 

No day trade, o ideal é que as pessoas usem posições de stop —stop loss e stop gain—, parando em determinadas situações de prejuízo ou ganho. "Caso contrário, o investidor perde, tenta recuperar o prejuízo e acaba perdendo mais ainda", diz Correa.