Sabino busca cúpula do União Brasil para permanecer no cargo e mira ganho eleitoral com COP
Por Victoria Azevedo | Folhapress
O ministro do Turismo, Celso Sabino, procurou integrantes da cúpula do União Brasil, aliados no Congresso e colegas do governo Lula (PT) nos últimos dias numa ofensiva para tentar permanecer no cargo, com o argumento de fortalecer sua candidatura ao Senado em 2026.
A federação União Progressista, uma aliança do partido com o Progressistas (PP), anunciou desembarque do governo nesta semana e determinou que políticos com mandato que ocupem cargos na Esplanada devem deixar os postos até o dia 30 de setembro, sob pena de serem expulsos.
Sabino é deputado federal licenciado pelo União Brasil e foi indicado pela bancada do partido na Câmara e nomeado para chefiar o ministério em julho de 2023. Ele também é presidente do diretório estadual da sigla no Pará, seu reduto eleitoral, e integrante da executiva nacional do partido.
Na terça (2), os presidentes do PP, Ciro Nogueira, e do União Brasil, Antonio Rueda, anunciaram o desembarque da gestão federal. A decisão mirou apenas Sabino e o ministro do Esporte, André Fufuca (PP-MA), já que permitiu a permanência no governo de outras pessoas indicadas por políticos desses partidos e determinou a saída apenas dos "detentores de mandatos".
Na quarta (3), a executiva nacional do União Brasil respaldou a decisão da federação em reunião. Sabino não acompanhou o encontro. No mesmo dia, horas depois, o ministro almoçou com o presidente da República, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e os ministros Waldez Góes (Desenvolvimento Regional), Frederico de Siqueira Filho (Comunicações) -ambos indicados por Alcolumbre- e Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) no Palácio da Alvorada.
De acordo com relatos de dois participantes do almoço, Sabino reforçou o desejo de permanecer no governo e recebeu o aval do petista, que teria afirmando que quer compromisso e lealdade de quem permanecer em sua gestão. Sabino indicou que procuraria a cúpula de seu partido para tentar construir um acordo que o permita continuar na Esplanada. Procurado, o ministro não respondeu.
"Tanto o presidente Alcolumbre quanto os três ministros reafirmaram apoio ao presidente Lula e querem estar junto com o governo, são pessoas que já estavam no governo. Importante que quem quer sair, saia, ninguém é obrigado a ficar. Mas quem ficar, tem que apoiar o presidente Lula, os programas do governo e fazer articulação no Congresso Nacional para nossos projetos e propostas. Isso ficou bem claro", disse Gleisi nesta quinta-feira (4) à imprensa.
Depois do almoço, Sabino se reuniu com o ex-prefeito ACM Neto (União Brasil-BA), presidente da Fundação Índigo, ligada ao União Brasil, e um dos nomes da oposição ao governo Lula no partido. Ele também fez telefonemas a aliados do Congresso e do governo e recebeu apoio de parlamentares que o procuraram desde o anúncio do desembarque. De acordo com relatos, Sabino conversa diariamente com Rueda e com o líder do partido na Câmara, Pedro Lucas (MA).
No resto do dia, despachou de sua sala no Ministério do Turismo, trabalhando, sobretudo, com temas relacionados à COP30 (Conferência de Mudanças Climáticas) da ONU, que será realizada em novembro em Belém, no Pará.
O ministro é um dos mais envolvidos do governo com o megaevento e tem buscado soluções para delegações estrangeiras que afirmam ter dificuldades com questões logísticas, sobretudo de hospedagem. Ele acredita que conseguirá consolidar sua candidatura ao Senado no próximo ano com o protagonismo no evento que ocorrerá em sua base eleitoral.
Segundo relatos de sete interlocutores do ministro, Sabino tem reforçado que até abril (prazo para desincompatibilização para quem concorrerá a cargos eletivos em 2026) o ministério terá uma série de entregas e seus aliados poderão ter ganhos políticos com isso, além do pagamento de emendas parlamentares.
Ele também tem apelado para a COP30, afirmando que não é possível abandonar pela metade o trabalho feito até agora, e que o megaevento dará visibilidade no Pará para sua candidatura ao Senado.
Uma possibilidade aventada é que Sabino se licencie do partido até abril. Essa iniciativa, no entanto, enfrenta resistências entre integrantes da cúpula do União Brasil.
Há também quem aposte numa interferência de Alcolumbre junto ao partido para garantir a permanência de Sabino. O presidente do Senado é um dos principais aliados de Lula no Congresso Nacional e foi contrário à decisão de desembarque. Essa opção, no entanto, é tida como remota, já que a cúpula da legenda é majoritariamente formada por nomes da oposição à gestão petista.