Campanha terá calça apertada e coxinha, diz Doria, que minimiza rejeição
Por Igor Gielow | Folhapress
Desde que surgiu no cenário político com a vitória surpreendente em primeiro turno para a prefeitura paulistana em 2016, João Doria (PSDB) lida com um paradoxo: costuma ter a gestão elogiada até por adversários, mas enfrenta resistências inclusive de aliados.
"Isso é natural, faz parte da política. Você não deve se incomodar com isso, deve administrar isso. A campanha vai ter calça apertada, coxinha, pastel. Foi assim em 2016, foi assim em 2018", afirmou, alinhando alguns "hedges" para enfrentar pontos criticados.
Doria enfrenta o governador Eduardo Leite (RS) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio nas prévias presidenciais do PSDB neste domingo (21) .
Como um dos vídeos de sua campanha dizia, ele se assume "chato", "coxinha", "calça apertada" --este último epíteto gestado pelo filho presidencial Carlos Bolsonaro nas redes. Nesta entrevista, reforça a ideia e se vende como "um líder confiável, e não palatável".
Aí ele mira a tática de seu principal rival interno, Leite, que acusa o paulista de ser desagregador. Não só ele: aliados potenciais como ACM Neto (DEM) e Gilberto Kassab (PSD) dizem rejeitar negociar com um candidato Doria em 2022.
O tucano relativiza, citando que em São Paulo há 13 partidos na base do governo, inclusive o PSD e o DEM, para não falar no centrão que apoia Jair Bolsonaro. Ao mesmo tempo, prega "autonomia executiva" para o governo, hoje "totalmente dependente do Legislativo".
Símbolo do estilo abrasivo do tucano, a campanha das prévias o opôs de forma dura a Leite, bancado pelo seu maior rival no PSDB, o deputado Aécio Neves (MG).
A situação chegou ao paroxismo nesta semana, com a tentativa do grupo de Leite de postergar as prévias e a revelação, feita pelo jornal Folha de S.Paulo, de que o gaúcho passou adiante um pedido de adiamento da vacinação --contra Covid-19 feito pelo Planalto --logo a Doria, então em guerra com o Planalto para trazer imunizantes ao país.
Se a tensão nos bastidores foi ao teto, Doria e Leite baixaram as armas no debate realizado na quarta (17) pela rede CNN. O tom do paulista nesta conversa com a reportagem foi semelhante, com o tradicional aceno de trégua: "Não haverá perdedores", disse, mesmo que ele perca.
O mesmo se pode dizer acerca da dita terceira via, que ganhou a adição bombástica do ex-juiz Sergio Moro, com quem vinha conversando. No discurso público de Doria, visto por aliados e adversários como alguém que não toparia abrir mão de uma cabeça de chapa, todos estarão unidos. Ele diz ser cedo se aceitaria uma vaga de vice, previsivelmente, e fala em critérios múltiplos (pesquisa, potencial de voto, histórico etc.) para definir o nome do que chama "centro democrático".