Os cuidados para Salvador não se tornar um novo Leblon
Por Fernando Duarte
As cenas de bares e restaurantes do Leblon lotados no primeiro dia após a liberação pela prefeitura do Rio de Janeiro não devem ser vistas em Salvador em um curto espaço de tempo. Ao que tudo indica, as atividades de bares e restaurantes não serão contempladas nas primeiras etapas, especialmente em um contexto de controle de ocupação de leitos de UTI a partir da regulação constante de pacientes do interior. Tanto que o setor não é citado com frequência entre as atividades prioritárias para serem liberadas no protocolo conjunto, que deve ser apresentado ainda esta semana pela prefeitura da capital baiana e pelo governo do estado.
Os índices de ocupação de leitos clínicos e de UTI em Salvador permanecem altos – mesmo com a abertura de muitas unidades ao longo dos últimos meses. Por isso é tão difícil discutir a reabertura plena para a retomada da normalidade. Alguma flexibilidade deve ser possível caso o índice de contaminação na capital se mantenha estável e um percentual expressivo dos pacientes internados seja do interior do estado. É uma conta difícil de fechar, o que atrasa um pouco o cálculo ideal para reabrir o comércio e os serviços.
A pressão dos shoppings e também de setores religiosos vai, de alguma forma, influenciar para que os centros de compras e os templos estejam na primeira fase de reabertura. É uma ironia que curas para o bolso e para alma sejam consideradas prioritárias em um cenário de terra arrasada como o coronavírus tem fabricado. Para além da autorização da abertura deles, deve haver uma rígida fiscalização para que os setores não sejam pontos de disseminação da Covid-19 em Salvador. E a população terá que ser parceira nesse processo, ajudando a coibir a concentração de pessoas sem propósito.
Mesmo que haja a flexibilização ainda em julho, é preciso muita parcimônia antes de encarar que o desafio do coronavírus foi vencido. Ainda que os protocolos permitam a reabertura de alguns setores, não dá para agir como os cariocas fizeram com os bares e restaurantes do Leblon, ou como os italianos e ingleses com as praias. A ausência de vacina ou de remédio com eficácia comprovada cientificamente impede que a normalidade seja retomada totalmente. Apesar de ainda haver gente que se recuse a aceitar que viveremos um “novo normal” nos próximos meses, quiçá anos.
Com grandes doses de otimismo, talvez as pesquisas gerem uma resposta melhor do que o isolamento social até o final do ano. Antes disso, é cumprir as recomendações e os protocolos de reabertura, torcendo para que nada retroaja e novas ondas de contaminação não aconteçam. Já que os templos religiosos estão na lista de prioridades, quem sabe não ajuda fazer uma oração para que tudo passe o mais rápido possível? Fica aqui minha sugestão.
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