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Democracia: o poder que emana do povo - mas não o empolga para defendê-lo

Por Fernando Duarte

Democracia: o poder que emana do povo - mas não o empolga para defendê-lo
Foto: Leandro Aragão/ Bahia Notícias

A abstrata democracia não é algo que empolgue o "povo" a defendê-la. Em meio a uma pandemia, qualquer mobilização se torna ainda mais complexa. Para a maioria da população, importa pouco o sistema de governo que a rege. Talvez esses sejam alguns dos fatores que expliquem a baixa adesão às mobilizações convocadas neste domingo (7) em Salvador. Ninguém quer colocar a própria vida em risco em torno de uma abstração. 

 

Essas pessoas não estão erradas. Viver, ter comida, um teto e direitos básicos de um cidadão são razões importantes o suficiente para esquecer que o país vive em um clima de instabilidade política maior do que nas últimas décadas. Esperto será o lado da moeda que melhor souber aproveitar dessa fragilidade do povo para manter o próprio status quo, pois tanto a direita - que hoje governa o país - quanto a esquerda - que teve boas oportunidades até 2016 - só pensam na própria sobrevivência. Ainda que alguns finjam melhor que outros.

 

É inegável a escalada autoritária que vivemos. Enquanto forças policiais não viram qualquer problema em manifestar apoio ao governo federal, ao haver qualquer sinal de que os protestos seriam contrários, surgiram os defensores de que era contraditório propor aglomerações a favor da democracia. Há um jogo calculado de disputas narrativas que, até aqui, tem sido vencido pelo Palácio do Planalto, mesmo que existam indicativos de que não há cristalização definitiva. Por isso, as batalhas discursivas terão papel fundamental ao longo dos próximos meses. Entendê-las é o desafio de quem tentar "decifrar" essa realidade - algo bem próximo do realismo fantástico da literatura.

 

Encontrar um meio termo entre ideias, por enquanto abstratas, como democracia e liberdade, e as reais necessidades do "povo" talvez leve mais tempo do que o necessário. A maçã do mito salvador da nação foi entregue a Eva em 2018. Por mais que, pouco a pouco, se perceba que o pecado original já foi cometido, não dá para cravar que haverá a reinterpretação precisa do futuro que construímos agora, no presente.

 

Defender a democracia é necessário. Imprescindível, eu diria, dentro do atual contexto brasileiro. Pena que a disposição para fazê-lo esbarre em uma pandemia, em uma nação desigual e em um país que oferece bem menos que promete. Nessas horas, a ignorância pode ser uma benção. 

 

Este texto integra o comentário desta segunda-feira (8) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios A Tarde FM, Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Alternativa FM Nazaré e Candeias FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.

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