Opinião: Dois de Julho é fraco politicamente e dentro da expectativa para ano não eleitoral
Por Fernando Duarte
Até a passagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tornou o Dois de Julho de 2025 impactante do ponto de vista político na Bahia, como tradicionalmente tende a acontecer. A data não passou inócua, mas ficou muito distante das possibilidades. Parte disso pode ser justificada pelo fato de ser um ano ímpar, quando não há tensão eleitoral iminente. Mas não só. As próprias claques, que fazem barulho e aquecem as ruas na Lapinha ao Pelourinho, quase passaram silentes frente a grupos que se manifestavam contra – seja em tom crítico ao prefeito Bruno Reis, seja com direcionamento ao governador Jerônimo Rodrigues.
Lula voltou a ter um ambiente popular e favorável a ele. Tanto que, pela quarta vez consecutiva, participou do desfile cívico. O presidente não conclui o circuito e desaparece na mesma velocidade com que surge, próximo à metade do trajeto do cortejo. A presença dele funciona como uma espécie de alento a fase impopular com que tem lidado nas relações políticas em Brasília e até mesmo com a população. O petista segue como um fenômeno popular, mas não quer dizer que não existam razões para preocupação.
A opção por conceder entrevista exclusiva ao Jornal da Manhã, da TV Bahia, é um sinal disso. É a primeira vez, em muito tempo, que Lula opta por falar a uma televisão baiana em detrimento das já comuns entrevistas a Mário Kértesz, na rádio Metrópole. E a escolha pelo telejornal matutino de maior audiência não é obra do acaso: o presidente demanda por aumentar a popularidade e nada melhor do que ficar exposto aos espectadores em um formato plastificado – e repleto de limites – como entrevistas no padrão Globo, reproduzido pela TV Bahia.
Além de Lula, o governador Jerônimo Rodrigues também não completou o trajeto, até o Pelourinho. Deixou o cortejo nas imediações do Carmo, antecipando a dispersão de aliados, que até seguiram, mas sem a liderança maior. Jerônimo esteve par e passo com Jaques Wagner no começo, subiu com o presidente no carro aberto e, na sequência, ainda andou um pouco mais entre os populares antes de sair completamente dos desfiles cívicos. Outra figura que apareceu com Lula foi o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e ficou tanto tempo quando o presidente – quase nada, se comparado aos anos em que o próprio Rui esteve como personagem principal ou coadjuvante nas disputas locais.
Pelo lado do prefeito Bruno Reis, a mobilização seguiu completa e até o final do cortejo. No entanto, quem acompanhou, relatou que o grupo ficou muito aquém de outros anos, quando a euforia tomava conta dos envolvidos. Mesmo o pré-candidato ao governo e ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, que podia surfar na popularidade do aliado que venceu em 2024 nas urnas com sobra, teve uma passagem bem discreta.
Como ato cívico, o Dois de Julho se manteve como uma grande festa popular – ainda que bem menor. Felizmente. Para os políticos, no entanto, foi um ano bem atípico, ainda que não seja ano eleitoral e as expectativas fossem bem baixas. Tanto que a maioria deles “cortou trecho” para imagens e foi embora. E alguns nem foram. Sorte de quem torce o nariz para a apropriação que esse setor faz do movimento popular.