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São João cancelado é um baque não só para economia, mas para alma do nordestino

Por Fernando Duarte

São João cancelado é um baque não só para economia, mas para alma do nordestino
Foto: Reprodução/ São João da Bahia

Alento para a economia de cidades do interior, o São João em 2020 não será como no passado. A pandemia do novo coronavírus impede a realização dos tradicionais festejos, que levam milhares de pessoas para pequenos centros e injetam milhões no comércio e na prestação de serviços. Quem não aproveita uma ida no interior para aproveitar as promoções típicas de uma boa feira? Porém, como evitar aglomerações é uma regra primordial para diminuir a disseminação da Covid-19, o próximo mês de junho será bem menos radiante.

 

Algumas dezenas de municípios já confirmaram o cancelamento da festa. Mesmo o famoso São João de Campina Grande, na Paraíba, com duração de quase um mês, informou que em junho é inviável manter a festa. Consequências da crise que não bateu à porta: simplesmente a arrombou. E o impacto disso não será sentido em um pouco tempo. Para cidades como Ibicuí, por exemplo, que praticamente depende dos festejos juninos para dar fôlego à economia local, será um ano perdido. Por enquanto, inclusive, não haverá um plano de contingência para abarcar os sofridos municípios.

 

A principal preocupação das autoridades públicas é conter o avanço da pandemia. Estão certos. Ninguém vai discordar em alocar todo e qualquer recurso para tentar evitar que muitas pessoas morram por Covid-19. Mas é preciso lembrar que, mesmo com a hipótese de transferência de renda em prática, como o “coronavoucher”, o benefício não vai atingir produtores rurais, por exemplo, e comerciantes informais do interior do interior da Bahia. Não porque o governo não quer, mas porque essas pessoas seguem invisíveis durante todo o ano e só aparecem na época das festas juninas. Além do alento dos festejos, a celebração de Santo Antônio, São João e São Pedro serve como a gordura adquirida para o restante do ano. Em 2020, isso não vai acontecer.

 

Se municípios maiores, que concentram outros serviços ao longo do ano, como Irecê, vão sentir o impacto do coronavírus, imagina Amargosa, que vive sob a expectativa do São João? É doloroso não apenas no bolso, mas na alma dos nordestinos, especialmente dos interioranos. Nenhuma festa resume tão bem o sertanejo forte, o espírito do interior quanto a fogueira reunindo a família e os amigos e os shows, da invasão sertaneja ao trio pé-de-serra. Para além dos lamentos por causa do novo coronavírus, teremos muita tristeza para administrar. Só nos cabe, qual Luiz Gonzaga, perguntar a Deus do Céu: por que tamanha judiação?

 

Este texto integra o comentário desta quarta-feira (8) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Valença FM e Alternativa FM Nazaré.