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Marca Bahia Notícias

Notícia

Quando a morte do soldado vira propaganda, a vida perde o valor

Por Fernando Duarte

Quando a morte do soldado vira propaganda, a vida perde o valor
Foto: Alberto Maraux/ SSP-BA

O episódio envolvendo um soldado da Polícia Militar em surto psicótico não deveria ser alvo de politização no sentido mais mesquinho do termo. Wesley Soares não estava em seu estado normal e faltou apoio da própria corporação para identificar os sinais de que ele poderia chegar ao ponto em que chegou. Porém isso não autoriza que a morte dele seja usada pelas hostes bolsonaristas para justificar ataques às medidas restritivas ou o caos social vivido no Brasil por conta da pandemia, gestado por esses grupos milicianos. O desrespeito à imagem do soldado segue a todo vapor nas redes sociais, incentivado por irresponsáveis que pensam apenas na autopromoção.

 

Não é novidade que as tropas policiais têm sido utilizadas como massa de manobra de profissionais do caos. Infelizmente, isso acontece na Bahia há mais tempo do que gostaríamos, com os personagens se repetindo. Com a chegada ao poder desse movimento que convencionamos chamar de bolsonarismo, isso ficou mais explícito. Após a confirmação de que Wesley não sobreviveu ao episódio, os anúncios de greve viralizaram no WhatsApp, gerando muita tensão entre os baianos. É um esforço para criar uma histeria coletiva contra o comando-geral e contra o governo da Bahia. Agentes armados não fazem greve. Fazem motim. E isso precisa estar evidenciado para toda a população.

 

A conduta criminosa de quem tenta se aproveitar da morte do soldado precisa ser investigada e punida. Aquele homem que irrompeu o isolamento do Farol da Barra portando um fuzil e atirava pra cima não é um herói nacional. É uma vítima de políticos que desagregam, que pregam a imposição da violência sobre o diálogo e se vangloriam por isso. E, infelizmente, nem todo mundo consegue identificar o quão irracionais são os argumentos utilizados para elevá-lo à condição de mártir, apesar de ele carregar elementos passíveis de uso inapropriado por um séquito de pessoas cegas.

 

As imagens falam por si. O soldado só foi atingido depois que atirou contra os colegas de farda. Fosse um civil naquelas mesmas condições, a negociação teria sido bem menos cautelosa. O que aconteceu na Barra está longe de ser configurado como uma execução, mas essa narrativa convence os descontentes como um canto da sereia. Sem entrar no mérito da operação em si, o episódio e o uso posterior dele falam mais sobre os aproveitadores do que sobre um policial militar em aparente surto psicótico. Essa mensagem precisa ser dita.

 

Incitar agentes de segurança, armados até os dentes, contra quem quer que seja, deve ser alvo de menosprezo pela sociedade brasileira. A cada aplauso ao uso partidário da morte de Wesley Soares, mais rasgamos o resto do tecido social que nos une. O surto dele deveria inspirar o cuidado com a saúde mental de todos, principalmente de quem é exposto diariamente a pressões excruciantes. Mas até aqui, infelizmente, tem inspirado quem deveria ficar calado.

 

Este texto integra o comentário desta terça-feira (30) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.

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