Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias

Notícia

Entre caos e apocalipse, ainda não faltam leitos, mas já falta tempo para esperar por um

Por Fernando Duarte

Entre caos e apocalipse, ainda não faltam leitos, mas já falta tempo para esperar por um
Foto: Paula Fróes/ GOVBA

Pode acontecer ainda nesta sexta-feira (11) o anúncio da prorrogação do fechamento das atividades econômicas não essenciais em Salvador e na região metropolitana. Serão dias cada vez mais difíceis, pois os números da pandemia ainda não foram impactados pelas medidas restritivas. E ainda assim falta coragem - e dinheiro - para o lockdown. Ninguém duvide que a medida extrema venha a ser adotada, ainda que a contragosto de parte da população.

 

Didaticamente, não se fala em colapso total da saúde. Como ainda existem leitos de terapia intensiva da chamada reserva técnica, é possível fingir que ainda existem vagas. Porém o buraco é mais embaixo, de acordo com autoridades de saúde. Em Salvador, por exemplo, a secretaria só vai tratar como colapso quando não houver mais atendimento de novos pacientes nas unidades de pronto atendimento e gripários, algo que pode não acontecer. Todavia, já existem casos de pacientes que não conseguiram aguardar o suficiente por um leito de UTI e acabaram morrendo antes de serem regulados. Não por causa da regulação, mas pela demora desses pacientes em procurarem apoio médico.

 

É preciso falar seriamente sobre o assunto. A questão não é fazer terrorismo ou parecer um dos cavaleiros do Apocalipse, como é possível ouvir entre os adjetivos associados à imprensa. É conseguir transmitir o que está acontecendo e o que pode vir a acontecer nesse cenário de guerra. No setor privado, hospitais estão operando no limite da capacidade. Mas nenhum deles vai admitir. Isso gera impactos na imagem e na estratégia de comunicação. No setor público, o limite está sendo expandido, porém está cada vez mais próximo do fim dessa “gordura”. Só aí veremos os gestores admitindo que os esforços foram máximos e que não há mais nada a se fazer. Com mortes sendo contabilizadas a cada dia.

 

Uma conjunção de fatores nos trouxe até esse momento. A negação da pandemia foi um deles, mas não o único. A falta de efetividade na cobrança das restrições, outro. Responsabilizar a população por não cumprir as recomendações sanitárias é um dos caminhos mais fáceis. E é possível listar outras tantas razões para assistir recordes cada vez mais lamentáveis, quebrados diariamente, seja em Salvador, na Bahia ou no Brasil. O peso de lidar com tudo isso é difícil para agentes políticos, profissionais da saúde e para toda a população. Até quando será possível suportar?

 

Ao tempo em que defendemos a retomada gradual da economia, clamamos por um lockdown. A contradição cabe, pois é necessário permitir que empresas e empregos se mantenham, enquanto controlamos o avanço do coronavírus. Não há fórmula perfeita. Entretanto, está cada vez mais próximo o momento em que admitiremos que falhamos.

 

Este texto integra o comentário desta sexta-feira (12) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.

Compartilhar