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Marca Bahia Notícias

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Medo de agulha pode render muito além de um meme

Por Fernando Duarte

Medo de agulha pode render muito além de um meme
Foto: Reprodução/ Redes sociais

Já faz alguns anos que Nando Reis compôs Relicário, mas parece que ele estava prevendo o que estava por vir: “o mundo está ao contrário e ninguém reparou”. Nesta quarta-feira (20), veio da cidade de Valença uma cena inusitada, envolvendo um senhor que mora na Casa Francisco de Assis, uma instituição de longa permanência. No vídeo, que viralizou nas redes sociais, ele leva um susto com a agulha e tira o braço para não tomar a vacina contra o novo coronavírus. O senhor seria o primeiro da cidade a receber a imunização.

 

Não só crianças têm medos de agulha. Pessoas mais velhas também. No entanto, o vídeo pode ser facilmente desvirtuado para uma teoria de conspiração que se encaixa nos padrões atuais. A cena pode parecer que o idoso foi forçado a ser vacinado - apesar de bastar uma observação mais atenta para ficar claro que foi apenas o medo da picada. Mas isso não parece funcionar em tempos de redes sociais.

 

Ao ver a cena, talvez por ser minha cidade natal, eu sorri. Na verdade, gargalhei. Talvez também por influência do Zé Gotinha que aparece ao fundo e me assusta mais do que agulhas. No entanto, pouco tempo depois, fui alertado sobre essa hipótese de que o vídeo descontextualizado pareceria uma vacinação compulsória. A pessoa que enviou a mensagem foi descompromissada. Apenas é um atento consumidor das redes em tempos de cancelamentos e mentiras. E ele não está errado.

 

A lenda da vacinação obrigatória, por exemplo, é um desses absurdos que, repetida mil vezes se tornou uma verdade. As pessoas confundiram propositalmente obrigatória com compulsória. Ninguém vai ser retirado de casa para tomar vacina ou algo similar. Porém o estado brasileiro pode exigir a vacina para permitir acesso a serviços. Até porque a não imunização estenderá um problema de saúde pública como a pandemia. E os custos dessa crise serão pagos por todos - ainda que os pobres sejam atingidos de maneira mais dramática.

 

Porém, quem se manifesta contra a vacina obrigatória, tende a não se incomodar quando tiver que viajar e o destino exigir o cartão de vacinação. E não se engane achando que os destinos dos mais ricos, como Europa e Estados Unidos, não vão demandar a imunização contra a Covid-19 antes de entrar nos respectivos territórios. Isso é padrão para outras doenças, que dirá para o coronavírus, que se mostrou tão perigoso ao longo dos últimos 12 meses.

 

O velhinho de Valença, coitado, pode ser usado por essas pessoas que pregam contra a imunização em massa da população sem nem ter noção de que isso era possível. Talvez não seja necessariamente ele, mas outro ilustre desconhecido que pode ser alvo de mais uma mentira contada tantas vezes ao ponto de se tornar verdade. Por isso, talvez seja bom recorrer a outra música de Nando Reis: “Quando o segundo sol chegar, para realinhar as órbitas dos planetas...”.

 

Este texto integra o comentário desta quinta-feira (21) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.

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