Vacinas a serviço da saúde e do marketing político
por Fernando Duarte

A aprovação pela Anvisa dos pedidos de uso emergencial feitos pelo Instituto Butantan e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para vacinas contra o novo coronavírus ficou em segundo plano na batalha pelo marketing travada entre o governador de São Paulo, João Doria, e o governo federal. O que deveria ser motivo de celebração serviu como mais um episódio das sucessivas crises e tensões entre atores políticos. A saúde, principal foco dos imunizantes, foi a desculpa para uma briga mesquinha e que nem todos estão dispostos a enxergar.
Enquanto vai haver muito esforço em insensar a "resiliência" de Doria frente a campanha do presidente Jair Bolsonaro contra a CoronaVac, é preciso lembrar que o Instituto Butantan é uma organização pública e que independe dos humores do ocupante do Palácio dos Bandeirantes. Junto com a Fiocruz, eles formam uma rede de referência no desenvolvimento de ciência e tecnologia, mesmo com ações de desinvestimento perpertradas por governantes de todas as matrizes ideológicas. Ao celebrar esses dois imunizantes aprovados pela Anvisa, vamos reconhecer os técnicos das instituições e da própria agência de vigilância sanitária. Os méritos desse processo devem-se muito mais a eles do que a qualquer pateta que esteja em posição política.
Passada essa fase, vai ser colocada à prova, mais uma vez, a expertise combalida do general Eduardo Pazuello, o senhor amém do Ministério da Saúde. Depois do ato da Anvisa e do marketing de Doria, o ministro já começou mal, mentindo. Como se não bastasse a trapalhada de anunciar um voo para Índia antes das doses estarem disponíveis ou a tragédia em Manaus (AM), com anuência do ministério, cabe a esse senhor o dever de distribuir a vacina pelo Brasil. Se ao menos conseguir cumprir o Plano Nacional de Imunização, talvez a nossa desgraça em 2021 não seja tão ruim quanto esse começo de ano rascunhou.
Para o nosso azar, o governador com um rei na barriga vai reservar doses para a população paulista. É típico daquele que joga bem para a plateia, mas que no fundo prefere seguir olhando sempre para o próprio umbigo. "É mérito", vão dizer. Dadas as circunstâncias históricas que levaram São Paulo a ser o que é, as ações do duo Bolsodoria em 2018 e a falta de credibilidade para falar em "preocupação com o povo", é de bom tom analisar friamente os passos dessas figuras. Não existe almoço grátis, como também não existe vacina grátis. O preço, inclusive, é bem mais custoso do que essa guerrilha de ex-aliados. Mas isso apenas o tempo irá comprovar.
Que bom que tivemos a boa notícia de que há vacinas disponíveis para os brasileiros. Agora nosso esforço precisará reparar o estrago dos movimentos antivacinas, dos negacionistas e também dos políticos marqueteiros. Quem sabe assim conseguiremos vencer a Covid-19.
Este texto integra o comentário desta segunda-feira (18) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.
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