

Após ser considerado um sucesso de público e marketing, o Festival Virada Salvador foi obrigado a se adaptar aos tempos de pandemia. A prefeitura já tinha sinalizado que os moldes do Réveillon seriam diferentes, mas a apresentação aconteceu apenas nesta segunda-feira (23). Diferente de anos anteriores, quando aglomerações eram necessárias para criar o apelo turístico, a versão de 2021 demanda uma nova estratégia, que coloca a capital baiana de maneira definitiva entre os grandes centros de eventos.
Com transmissão simultânea em três emissoras de televisão, duas abertas e uma fechada, a festa comandada por Ivete Sangalo e Gusttavo Lima tem condições de transformar o Réveillon de Salvador na principal referência da festa no Brasil. Copacabana, que por muitos anos foi considerada a maior virada de ano do país, perdeu o posto e a importância depois dos sucessivos erros dos gestores fluminenses e cariocas. O resultado disso foi a criação de uma lacuna nesse mercado, que Salvador há tempos buscava preencher.
A escolha do Forte São Marcelo, tendo como pano de fundo o frontispício da primeira capital do Brasil, incluindo aí o Elevador Lacerda, foi acertada. Diferente de São Paulo, por exemplo, que não possui o mesmo apelo visual, a fortificação na Baía de Todos-os-Santos é um atrativo tão grande quanto a festa em si. E voltou aos holofotes depois que artistas como Anitta reinseriram o forte no circuito cultural. É uma aposta que deu certo até aqui, após muito tempo de ostracismo e de quase abandono de um equipamento cujo potencial parecia esquecido.
Incrustado no meio do mar, o espaço onde o palco será instalado irá impedir a formação de aglomerações. Ou seja, a cidade vai oferecer um “Festival Virada Salvador” que permitirá às pessoas assistirem ao evento em lugares que não gerem centros de contaminação - isso se partirmos do pressuposto de que a população vai obedecer as recomendações sanitárias. É possível que haja uma mobilização em embarcações, mas nada que se compare às outras edições da festa. É elitista, mas no atual contexto não é necessariamente um problema.
Enquanto isso, há o embate entre os realizadores de eventos e os poderes públicos. O governo baiano e a própria prefeitura de Salvador são reticentes na autorização de festejos de Réveillon. Ainda não há informações claras sobre o comportamento do vírus e o distanciamento social ainda é a principal forma de evitar a disseminação do coronavírus de maneira desenfreada. Então achar um meio termo é uma alternativa interessante criada.
Caso a estratégia venha a funcionar dentro da expectativa, Salvador entrará no imaginário popular brasileiro não apenas como cidade do Carnaval. Ainda é pouco para um município com tanto capital cultural subaproveitado. Porém em meio ao caos de 2020, qualquer boa notícia precisa ser celebrada. No dia 31 de dezembro, o Réveillon só será televisionado. No próximo ano, com uma vacina, aí a aglomeração não será apenas permitida. Será necessária e ainda maior.
Este texto integra o comentário desta segunda-feira (23) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.
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