
Campanha está liberada. Aula presencial não
por Fernando Duarte

O governo da Bahia confirmou a suspensão das aulas presenciais na rede pública e privada até o dia 15 de novembro. É a atitude mais adequada, em um cenário de pouco controle da disseminação do novo coronavírus. Porém a nova data ser a mesma do primeiro turno das eleições de 2020 é uma infeliz coincidência - e vamos tratar como coincidência para não fazer juízo de valor. Campanha eleitoral pode acontecer. Aulas presenciais, não. É uma inversão de valores, mas ninguém vai admitir isso.
O governador Rui Costa é apenas um elemento nessa disputa narrativa. É certo que há uma pressão grande para o retorno das aulas presenciais, porém as comunidades escolares são um eixo muito mais fragilizado para modificar o status quo da classe política. Veio dela a força para que a eleição fosse mantida em 2020. E vem dela a pressão para que a campanha eleitoral aconteça como se não tivéssemos uma pandemia. É uma sucessão de erros que o país pagará no médio e longo prazo.
O fio da meada foi dado pelo secretário de Educação, Jerônimo Rodrigues, antes mesmo da publicação do decreto que manteve a suspensão das aulas. “Escola é aglomeração de forma presencial. Até o dia 15 de novembro vamos ver muitos eventos de aglomeração eleitoral e as escolas não podem ser mais uma”, disse. Sim, escolas geram aglomerações. Campanhas eleitorais também. No entanto apenas as primeiras estão com atividades limitadas. Os candidatos a prefeito e a vereador em todo o estado agem como em outros anos, ignorando as recomendações sanitárias e de saúde.
Se não é possível reabrir as salas de aula presenciais, não há porque autorizar a realização de atos políticos, sejam comícios, caminhadas ou reuniões públicas. Mas não foi o que aconteceu desde o início da campanha eleitoral. No final de semana inicial, o limite de pessoas para eventos subiu para 100. Agora, ainda com escolas sem atividade, esse limite cresceu para 200. Até quando podemos tapar o sol com a peneira e não enxergar que há certo nível de incoerência nessa ação? Candidatos a cargos públicos precisam ser responsabilizados também por agirem de maneira tão errática. Seja com a pressão para seguir com a campanha, seja com o endosso para que as aulas presenciais sigam suspensas.
Enquanto assistimos a mais um episódio do circo político, os estudantes seguem prejudicados pela pandemia. E a sociedade também se omite. Aulas presenciais deveriam ser liberadas? Não. Mas campanhas eleitorais também não.
Este texto integra o comentário desta segunda-feira (26) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.
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