O flerte antidemocrático só é válido quando se trata do bolsonarismo?
por Fernando Duarte

A última semana terminou com uma decisão controversa do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que determinou a suspensão de contas de 16 bolsonaristas no Twitter. Ainda em maio, este mesmo grupo de seguidores do presidente Jair Bolsonaro havia sido alvo de mandados de busca e apreensão e quebras de sigilo no inquérito das Fake News, o que foi criticado pelas mais diversas vertentes políticas. Por mais que gere uma enxurrada de memes e de elogios vindos dos adversários, a suspensão das contas abre um precedente perigoso. E se a medida se tornar frequente?
Não que eu concorde com o que qualquer um dos alvos da determinação do STF escreve. Inclusive, discordo completamente. Naqueles perfis, a desinformação talvez seja o que aparece com maior frequência. Além de alimentar o discurso de ódio típico do bolsonarismo, que vive em processo de constante alimentação para que não perca a força política. Porém não deveria ser necessária uma decisão controversa de um ministro do STF para que identificássemos a postura inapropriada e antidemocrática dos autores.
É proposital, até, não identificá-los. Parte da estratégia desse segmento é reforçar a própria imagem raivosa, para dar alimento aos trolls e à comunidade que sobrevive à custa dessa política de desinformação. E todos os listados por Moraes podem ser considerados mestres nessa arte. Foram se especializando ao longo dos últimos anos, viveram seu ápice durante a campanha eleitoral de 2018 e estavam em um momento de regozijo. Até que apareceu o inquérito das Fake News.
Como não há uma legislação específica para tratar da disseminação de conteúdo falso com fins eleitorais - a lei aprovada no Senado, inclusive, é bem limitada nesse sentido -, o STF moveu os pauzinhos num arremedo hermenêutico para tentar justificar as ações contra esse grupo. A Corte, todavia, abriu um precedente delicado ao chamar para si uma responsabilidade que deveria ter nascido na Procuradoria-Geral da República ou no Ministério Público Federal. O vácuo causado pela omissão gerou esse cenário de incerteza que pode colocar a sociedade brasileira em posições ainda mais limítrofes.
Não adianta celebrar a ação contra os disseminadores de Fake News. Principalmente quando há um quê de subjetividade na interpretação do que é uma informação falsa. Longe de defender os bolsonaristas, é preciso ter cuidado com a névoa que pode esconder uma semente autoritária. Sob o risco de ser tarde demais.
Este texto integra o comentário desta segunda-feira (27) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios A Tarde FM, Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Alternativa FM Nazaré, Valença FM e Candeias FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.
Notícias relacionadas
Notícias Mais Lidas da Semana
Podcasts

'Terceiro Turno': Vacinação começa (e a crise por mais vacinas também)
O Brasil presenciou nesta semana o início do fim da pandemia da Covid-19, que já causou 212 mil mortes no país. A vacina contra a infecção causada pelo novo coronavírus foi aprovada e distribuída aos estados e municípios. A tão esperada vacinação começou, causou momentos de muita emoção e alimentou a esperança da população brasileira, que até então só assistia outros países iniciarem a imunização. Mas o número de doses ainda é muito pequeno e está longe do necessário, até mesmo para a imunização do primeiro grupo prioritário. Até o momento não há qualquer definição sobre datas para que uma nova remessa de doses cheguem por aqui. No Terceiro Turno #61 os jornalistas Ailmas Teixeira, Bruno Luiz e Jade Coelho discutem a falta de definição para chegada de novas doses das vacinas, a burocracia da Anvisa e a aposta da Bahia no imunizante russo Sputinik V.
DESENVOLVIMENTO SALVANDO VIDAS
Ver maisBuscar
Enquete
Artigos
Queremos respeito à democracia e à diversidade religiosa
No nosso 21 de janeiro, Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, destacamos a importância do nobre debate que esta data provoca, as amplas reflexões e mobilizações por todo o Brasil. Em tempos propagação do ódio, desrespeito à Constituição Federal e violência contra a democracia, preferimos seguir dialogando, valorizando a vida, sua beleza e diversidade, a força e a fé da nossa gente. É dia de evocar o respeito à liberdade de crença ou, até mesmo, ao direito de não professar nenhuma fé.