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Apesar de promessas, ruas ficam esvaziadas após impeachment

Por Gilberto Amendola | Estadão Conteúdo

Apesar de promessas, ruas ficam esvaziadas após impeachment
Fotos: Max Haack / Ag. Haack / Bahia Notícias
As panelas silenciaram. A temperatura das ruas baixou. Tudo parece ter voltado à velha normalidade. Mas, alto lá, não era contra a corrupção? Não haveria resistência contra aquilo que foi chamado de golpe? Onde estão "coxinhas" e "mortadelas"? Para onde foi todo mundo? No dia 13 março deste ano, a imprensa trombeteava "a maior manifestação da história do País". Segundo estimativa da Polícia Militar, mais de 3 milhões de brasileiros foram às ruas para pedir a saída de Dilma Rousseff da Presidência da República. Dias depois, apoiadores de Dilma também tomaram as ruas e arregimentaram milhares de manifestantes Brasil afora, conforme a PM e organizadores. Atos de abrangência nacional ocorreram até que o afastamento provisório de Dilma fosse votado, em 12 maio. Depois disso, um protesto contra o governo interino contou com atos em quase todas as capitais e levou muita gente à Avenida Paulista, mas a PM não divulgou o público presente. Desde então, só manifestações pontuais, aqui e acolá, nada muito retumbante. A promessa de incendiar o País acabou por não se concretizar. E, ao menos por enquanto, a luta contra a corrupção também se acanhou. A jornalista Carla Louise, que esteve em diversas manifestações a favor do impeachment, confessa que o seu afã já não mais é o mesmo. "Eu sou uma que diminuí o ativismo depois que a Dilma foi afastada. Mesmo não confiando no Michel Temer, acho que ele tem feito algo pela economia. É marotagem dizer que a corrupção acaba com a saída dela (Dilma), mas também é cedo demais para sair às ruas e derrubar ele (Temer)." A empresária e socialite Rosângela Lyra, presidente da Associação de Lojistas dos Jardins e ex-sogra do jogador de futebol Kaká, se destacou durante o período de maior efervescência política porque esteve dos dois lados do embate (contra e pró-governo). "Eu pulei fora das manifestações porque percebi que não era algo contra a corrupção, mas algo contra um partido específico. Agora, acho, a coisa perdeu força porque as pessoas estão tentando retomar suas vidas, estão preocupadas com os seus negócios e empregos." Quando o afastamento temporário de Dilma foi confirmado pelo Senado, imaginava-se uma grande reação das forças que até então apoiavam a petista. As manifestações até foram realizadas, mas não conseguiram mobilizar tanta gente. 


Foto: Bahia Notícias

Erick Vinicius Borges, estudante de Ciência Sociais na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), foi a praticamente todas as manifestações. Se diz entristecido com o esfriamento da resistência. "Ver as pessoas estáticas me incomoda. Penso que os movimentos sociais tenham perdido fôlego e estão em uma fase de reavaliar posições. É muito difícil ser coeso, ter uma boa estratégia e saber o que é possível combater." Os movimentos de "Fica Temer" e "Fora Temer" escolheram o mesmo dia para voltar às ruas: 31 de julho. Os atos simultâneos servirão de termômetro para medir o humor do brasileiro em relação ao governo interino de Michel Temer. Para os grupos, a data é importante para mostrar "quem está do lado de quem". Sobre a diminuição na participação popular nos últimos meses, líderes dos dois grupos consideraram um "movimento natural e estratégico". O coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL), Fernando Holiday, disse que a queda do "calor" das ruas era esperado. "As pessoas tinham uma pauta que era o impeachment da Dilma, e consideram que isso já é fato consumado", afirmou. "As pessoas precisam de mais tempo para assimilar as pautas propositivas, como o combate à corrupção e a privatização." Para a coordenadora da frente Povo Sem Medo, Janislei Albuquerque, a falta de fôlego dos movimentos "Fora Temer" foi um recuo estratégico. "Agora é o momento de visitar escola por escola, sindicato por sindicato e explicar para o cidadão o que está acontecendo." Para Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o grupo passou por uma reflexão e deve voltar com mais força. "As pessoas estão entendendo que o governo interino está atacando direitos básicos. Vamos intensificar os atos a partir de agora." A professora de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC-MG) Isabelle de Melo Anchieta disse não acreditar no "esvaziamento dos movimentos de combate à corrupção". Para ela, o brasileiro construiu a maior manifestação popular de sua história e está vivenciando um período de cidadania. "Desde 2013, as pessoas têm se manifestado contra a corrupção. É algo contínuo e sólido."