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Entrevista

Cátia Damasceno avalia que "tabus" são mais fortes no Brasil do que no exterior - 23/01/2023

Por Leonardo Almeida

Cátia Damasceno avalia que "tabus" são mais fortes no Brasil do que no exterior - 23/01/2023
Foto: Reprodução / Instagram

Cátia Damasceno é dona do maior canal do mundo que aborda sexualidade. Atualmente, ela possui quase 10 milhões de inscritos e cerca de 688 milhões de visualizações em seus vídeos. Além do canal, a especialista também escreveu o livro “Bem Resolvida” e possui o blog “Mulheres Bem Resolvidas”, ensinando seu público feminino a buscar o autoconhecimento e, consequentemente, alcançando a boa autoestima e a independência.

 

Conhecida como “quebra tabus”, afirma que tratar sexualidade no Brasil é mais difícil que nos países europeus. Cátia fala que o assunto, normalmente, é tratado ainda nas escolas no exterior, enquanto no Brasil o tema ainda é tratado como tabu, até mesmo, dentro da mesma família.

 

“Na Europa e nos Estados Unidos a sexualidade é trabalhada na escola, mas não acho que deve ser um papel exclusivo da escola, tem que ser algo conversado dentro de casa. Enquanto os pais não quebrarem esse bloqueio com eles mesmos e não conversarem com os próprios filhos e não conversarem em casal, nós ainda teremos muita dificuldade de falar sobre sexualidade no Brasil”, disse Cátia.

 

Veja a entrevista completa:

Foto: Divulgação

 

Quem é Cátia Damasceno? 

Cátia Damasceno é uma mulher batalhadora, que ama o que faz incondicionalmente. A pandemia me afetou bastante por estar longe de meu público, longe de meus palcos e longe de meu teatro, estava sentindo muita falta de tudo isso, porque eu amo as pessoas. Então, Cátia Damasceno é uma pessoa que ama incondicionalmente qualquer ser humano que quer ser feliz na vida. A forma que encontrei de ajudar as pessoas foi através de sua estima, de sua sexualidade e de seu relacionamento, acho que essa é a Cátia profissional. Além disso, sou mãe de 4 bebês lindos, sou esposa, sou filha e sou uma boa empreendedora.

 

Você possui um trabalho amplamente reconhecido, sendo o maior canal sobre sexualidade no mundo, como tudo começou?

Eu trabalho com sexualidade faz 16 anos, sou fisioterapeuta por formação e fiz minha primeira pós-graduação em saúde perinatal. Daí montei um Day Spa onde eu trabalhava com gestantes com preparação para o parto e recuperação pós-parto, eu ensinava as mulheres a fazer o fortalecimento do períneo. Muitas mulheres conversaram comigo que os exercícios também ajudam na hora da relação, depois disso comecei a estudar mais e realmente foquei o meu trabalho na questão da sexualidade. A vida foi me levando a isso, e eu como boa empreendedora não deixei a oportunidade passar.

 

Em seu livro “Bem Resolvida” você conta sobre sua história. Convivência com seus pais conservadores, um casamento precoce, dois filhos e retrata até como se esqueceu de ser “mulher”, qual a maior dificuldade que você já passou para chegar em quem você é hoje?

Vencer os meus próprios preconceitos, exatamente por ter um pai muito rígido de criação religiosa e militar. Quando comecei a trabalhar com a sexualidade eu achava aquilo muito errado, achava que era pecado e que deus iria me castigar por estar trabalhando com o pompoarismo. Por outro lado, eu tinha duas crianças para poder sustentar e não podia deixar de trabalhar para poder botar comida dentro de casa e poder pagar uma conta d’água, uma conta de luz, porque sim meu amigo, já cortaram minha luz e minha água alguma vezes na vida, por não ter condições de pagar. Durante os meus primeiros dois anos de trabalho, eu ainda tinha um preconceito comigo muito grande, 6 anos de estudo para falar sobre sexo? Que horror. Até que um dia, eu fui para um chá de lingerie no sudoeste e eu estava com um crucifixo que meu pai me deu, assim que a mãe de minha amiga abriu a porta, ela perguntou ‘você reza’? Eu respondi de cara ‘E você não dá não?’. Naquele momento eu não entendi que a sexualidade não tinha relação com a sexualidade, mas depois de receber várias mensagens de mulheres falando como o relacionamento delas melhorou, comecei a entender que não trabalhava exclusivamente com sexualidade, mas, também com relacionamentos e autoestima.

 

Em comparação a países europeus, o Brasil é mais liberal em diversos assuntos, em sua opinião porque o sexo ainda é tratado como tabu no país?

Na verdade, nossa sexualidade não é mais bem resolvida que os de europeus, na Europa as mulheres fazem topless sem nenhum problema, imagine fazer um topless aqui no Brasil. Na Europa e nos Estados Unidos a sexualidade é trabalhada na escola, mas não acho que deve ser um papel exclusivo da escola, tem que ser algo conversado dentro de casa. Enquanto os pais não quebrarem esse bloqueio com eles mesmos e não conversarem com os próprios filhos e não conversarem em casal, nós ainda teremos muita dificuldade de falar sobre sexualidade no Brasil. Em meus vídeos e livros eu abordo com uma linguagem mais descontraída, foi algo que eu tive que aprender, sou uma comunicadora por natureza é da minha característica, já fui professora de inglês por alguns anos e essa habilidade de dar aula foi me treinando a ser uma melhor comunicadora, inclusive foi meu único emprego de carteira assinada. O humor sempre fez parte da minha, eu sou assim, divertida, faço piada com tudo, tudo em minha cabeça tem conotação sexual, é terrível. Saindo do apartamento vi uma propaganda de operadora “faça aqui sua internet móvel”, li motel e falei ‘Gente vão fazer um motel na porta do prédio’, minha cabeça é meio distorcida mesmo. É exatamente assim por eu não ver nenhuma maldade e não ver nada de errado em falar sobre sexualidade.

 

O que é o pompoarismo? Quais são os seus benefícios?

Pompoarismo nada mais é que ginástica pélvica, é uma técnica milenar que surgiu na Índia e já é praticada há mais de 1500 anos. Aqui no Ocidente só tomamos conhecimento em meados da década de 40, quando um ginecologista norte-americano, Arnold Kegel, começou a desenvolver esses exercícios para ajudar pacientes com incontinência urinária. Só que aí as mulheres começaram a relatar outros benefícios e foi justamente esses benefícios ligados a parte da sexualidade. O que eu fiz? Eu adaptei alguns exercícios, trazendo para o lado fisioterapêutico, ensinado às mulheres a contraírem sua região genital, as ensinando a fazer exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico. Com os exercícios nós ganhamos duas coisas maravilhosas em nossa vida. Primeiro: saúde, mulher que pratica os exercícios da ginástica íntima não vai ter problemas de incontinência urinária, não vai ter cólica menstrual, ajuda a passar pela fase da menopausa de uma forma mais leve, já ouvi relatos de alunas que até a TPM melhorou bastante, facilita o processo de parto vaginal e na recuperação pós parto. Segundo: os benefícios sexuais, os exercícios melhoram a lubrificação, melhoram a libido, melhora o orgasmo não só da mulher como também o do parceiro, porque a gente consegue fazer movimentos diferentes.

 

Em seu curso, você comenta que o pompoarismo ajuda na autoestima, como os exercícios podem ajudar nisso?

Então, quando a gente consegue ter a nossa sexualidade bem resolvida com a gente, você vai para uma relação sexual e sai dessa relação satisfeita, você não sai frustrada ‘poxa, não consegui ter um orgasmo, não consegui de novo’. Você entra em um ciclo que é um ciclo positivo, você tem seu orgasmo, tem um orgasmo diferente com seu parceiro, proporciona para ele uma sensação diferente, aí o cara percebe e já te faz um elogio e o ser humano é movido a elogios. Uma coisa que percebi nesses anos de trabalho, com a melhora da autoestima a mulher tem uma melhora em todos as áreas da vida, não só na sexualidade, a mulher começa a enxergar suas virtudes, começa a se desenvolver na carreira, em casa, no trabalho, na sua maternidade. É impressionante como esse ciclo realmente eleva a autoestima da mulher. Então eu sou defensora assídua da prática do pompoarismo, seja para saúde, seja para a sexualidade, seja para a melhora da autoestima. É algo que só traz benefícios, não tem nenhum malefício.

 

Existe pompoarismo masculino? Como funciona? e quais são os benefícios dos exercícios para os homens?

Os exercícios masculinos funcionam da mesma forma que os femininos, a diferença é que os homens não têm o uso de acessórios. Mas, ele pode usar a pressão da própria mão contra o pênis, pode usar o recurso de uma toalha para causar um peso, mas é um acessório a mais, porque a musculatura o homem já tem o períneo, ele já vai fazer a prática do contrair e soltar. Qual é a diferença da prática dos homens para as mulheres? As mulheres têm uma vantagem nesse quesito, quando você faz um exercício em qualquer área de seu corpo, você aumenta a irrigação sanguínea local. Nas mulheres, exercitar a região vaginal vai causar uma melhora da lubrificação, já nos homens vai causar uma ereção e por isso, não dá para praticar em público. A mulher pode praticar no ônibus, no metrô, no trabalho, em casa e em qualquer lugar que se sinta confortável, ninguém está vendo, você tá fazendo seus exercícios de ‘contrair e soltar, contrair e soltar’ e ninguém percebe. O homem tem essa desvantagem, porque se ele começar a praticar ele vai ter uma ereção em lugares públicos não é muito aceitável. A gente ensina aos rapazes a melhorarem a ejaculação precoce, ajuda e muito porque o homem ele vai aprendendo a ter um controle sobre sua ejaculação, melhora a disfunção erétil, ajuda na manutenção, na melhora da qualidade do tempo de ereção desse pênis. Então o homem vai ter uma ereção mais rigorosa, uma ereção por mais tempo, ele tem um controle ejeculatório melhor e com isso ele tem uma melhora de sua qualidade sexual e com certeza, a mesma coisa que acontece com as mulheres, vai aumentar a autoestima desse homem e vai o fazer ter relacionamentos mais intensos. Recebi muitos relatos de mulheres durante a pandemia, dizendo que os homens estão desenvolvendo uma ejaculação precoce e disfunção erétil, por conta dessa pressão toda deste momento único que estamos vivendo, é uma ansiedade e um stress muito grande e isso vai se mostrar na hora da performance sexual tanto nos homens quanto nas mulheres.

 

Qual é o próximo passo de Cátia Damasceno?

Eu me pergunto isso sempre, conquistei tantas coisas, maior canal do mundo, livro escrito, programa na televisão, eu me pergunto o que mais posso fazer? Também não tenho essa visualização, mas sinto em meu coração que ainda não cheguei lá, que ainda tem muita coisa para ser feita. Quem sabe ter um programa só meu na televisão? Seria interessante poder acontecer.

 

Qual a mensagem que você quer passar para todas as mulheres que te acompanham?

Algo que eu fiz e que fez eu chegar onde cheguei, que é a busca pelo desenvolvimento pessoal, quando a gente busca evoluir como pessoa e nos colocar em primeiro lugar, isso para uma mulher é um papel muito difícil, porque a gente sempre coloca as pessoas em primeiro lugar. Quando me coloquei em primeiro lugar dentro da minha vida, dentro dos meus relacionamentos com o meu marido, com os meus filhos e hoje com a minha mãe, as relações ficaram muito mais fáceis, porque estou focando na pessoa que consigo controlar, que sou eu mesma. Para isso, é preciso muito autoconhecimento e autodesenvolvimento, quando a gente se muda, conseguimos impactar e mudar as outras pessoas naturalmente. Depois que se descobre o nosso valor, não deixamos mais ninguém nessa vida abuse da gente. Se eu tivesse autoestima desde o começo não teria vivido um relacionamento abusivo.