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Entrevista

Léo Péricles defende projeção de pessoas com história na luta social para parlamento brasileiro - 26/09/2022

Por Bruno Leite / Leonardo Costa

Léo Péricles defende projeção de pessoas com história na luta social para parlamento brasileiro - 26/09/2022
Foto: Igor Barreto/Bahia Notícias

Sendo o primeiro candidato a presidente da República pelo partido Unidade Popular, criado em 2016, Leonardo Péricles defende uma nova constituinte em seu plano de governo. Em documento de 12 páginas, candidato à Presidência ainda propõe suspensão do pagamento da dívida pública e auxílio emergencial de um salário mínimo. 

 

“Eu acho que é um grande processo democrático e político. Se a gente conseguir formar uma assembleia nacional constituinte, as forças nossas não serão tão desiguais como são hoje. A nossa proposta, inclusive, é inspirada no Chile, porque lá foi proporcional ao povo. Não se usou os partidos como instrumentos. Então, a maioria são trabalhadores”, pontuou. 

 

O candidato a presidente da República convocou, durante a campanha, apoiadores para uma marcha em protesto pela sua não participação nos debates televisionados entre os concorrentes no pleito eleitoral. 

 

“É um absurdo não sermos convidados para os debates, porque as emissoras não são proibidas de nos convidar. Essa lei antidemocrática, de 2015, nos impede de ter acesso ao tempo de TV e rádio, que é um atentado contra democracia e contrária a constituição, que permite ampla liberdade de organização partidária”, disse. 

 

Quando perguntado pelo Bahia Notícias sobre as candidaturas proporcionais, o postulante ao Palácio do Planalto disse: “A nossa estratégia principal é projetar lideranças que já tenham histórico de atuação nas lutas sociais e populares”. 

 

Candidato, eu queria que o senhor se apresentasse para que os leitores do Bahia Notícias possam o conhecer.

Sou Léo Péricles, morador de periferia a minha vida inteira. Sou filho de Dona Lurdes, uma dona de casa, e Seu Francisco, um pintor de automóveis, que sempre se esforçaram muito para conseguir me sustentar. Eu sou formado em manutenção de máquinas pelo Senai, profissão que eu trabalhei alguns anos, até ter um dinheiro para fazer um cursinho de eletrônica. Eu cheguei a fazer, mas não atuei na área. Foi nesse período que eu conheci o movimento estudantil e comecei a militância no movimento secundarista lá em Belo Horizonte, Minas Gerais, de onde eu venho. Lá eu fui presidente da Associação Metropolitana dos Estudantes e lutei pelo Meio Passe, onde saímos vitoriosos. Contestamos o transporte coletivo, porque é um absurdo ele estar na mão do poder privado. Foi um dos primeiros contatos que eu tive com lutas centrais pelo povo brasileiro. Em seguida, eu tive uma passagem pelo movimento universitário, na minha breve passagem pela UFMG [Universidade de Minas Gerais]. Desde 2011, eu voltei a atuar na luta pelas periferias, principalmente por moradia, e todos os outros temas sociais que envolvem essa causa. 

 

Candidato, quando surgiu a ideia de fundar o Unidade Popular? 

Eu moro em uma ocupação urbana chamada Eliana Silva que a gente organizou. A gente conquistou centenas de moradias, porque fomos responsáveis pelo jornada de junho de 2013. Foi quando chegamos a conclusão de que havia um esgotamento dos outros partidos e decidimos criar uma nova sigla. Em 2014 a gente começou o trabalho e entre 2016 e 2018 conseguimos o apoio de mais de um milhão de pessoas em todo o país para criar o Unidade Popular. Essa realização foi muito grande e extraordinária, porque fomos o único partido que conseguiu registro nessa nova legislação arbitrária. Inclusive, o presidente Bolsonaro tentou, com o apoio de grandes empresários, mas não teve sucesso. É isso agora nos credencia para disputar a Presidência da República. 

 

Como vê a não participação de representantes da esquerda como o senhor e Vera Lúcia (PSTU) e até Eymael (DC) nos debates televisivos?

É um absurdo não sermos convidados para os debates, porque as emissoras não são proibidas de nos convidar.  Essa lei antidemocrática, de 2015, nos impede de ter acesso ao tempo de TV e rádio, que é um atentado contra democracia e contrária a constituição, que permite ampla liberdade de organização partidária. E não tem nenhuma lei que possa contrariar isso, na nossa humilde avaliação. No entanto, aprovaram a legislação, dizendo que tem muito partido no Brasil. Isso é uma mentira, pois tem várias democracias do mundo que tem 80 partidos. O problema é como os votos são captados no Brasil, que a compra de voto continua. Esse fundão, toda grana que eles arrecadam com grandes empresários, que nós negamos esse tipo de de política, que destruíram a política brasileira, na nossa avaliação. Nesses debates, faltou entrar no assunto central do país vive, principalmente no governo da fome, da miséria e do desemprego, que é o governo Bolsonaro. Ele ainda faz apologia a vários torturadores, contrariando as leis brasileiras e os tratados internacionais. Isso é crime contra a humanidade.

 

Falamos do surgimento do UP, mas queria saber qual a estratégia do partido hoje para eleger uma bancada? 

A nossa estratégia principal é projetar lideranças que já tenham histórico de atuação nas lutas sociais e populares. Pessoas que já tiveram oportunidade de se vender e mudar de lado e não fizeram isso. A maioria se destaca na luta por moradia, direitos das mulheres, juventude, sempre com papel exemplar de ter uma firmeza de ir até o fim pelo que acredita. Então, a gente entende que esses são os melhores filhos do nosso povo e seguem os melhores exemplos para convocar o povo para lutar em conjunto. 

 

O único presidente negro que o Brasil foi Nilo Peçanha. O que falta para o Brasil eleger novamente outro representante negro? 

O Nilo Peçanha apesar de ser negro, não se reivindicava como tal. Então, eu considero que essa tarefa ainda está por ser realizada. A nossa candidatura não é histórica só por temos um homem candidato a presidente, mas por termos uma chapa completa negra. Um dos pilares da nossa candidatura é ser antirracista e nós entendemos que é possível conquistar os nossos desejos e ter um presidente negro. Trabalhamos por isso.

 

O senhor divide seu plano de governo em dois eixos e dentro de um deles há a proposição de uma nova constituinte. O senhor não acha que poderíamos retroceder, considerando a atual formatação do Congresso? 

Eu acho que é um grande processo democrático e político. Se a gente conseguir formar uma assembleia nacional constituinte, as forças nossas não serão tão desiguais como são hoje. A nossa proposta, inclusive, é inspirada no Chile, porque lá foi proporcional ao povo. Não se usou os partidos como instrumentos. Então, a maioria são trabalhadores. Para aprovar, a gente vai precisar ter força social e nós primeiro trabalhamos nas forças sociais e essas precisam se rearticular no Brasil. 

 

A gente tem um desenho eleitoral, as pesquisas demonstram que há a possibilidade de um segundo turno entre Bolsonaro e Lula. Onde o UP vai se localizar caso isso ocorra?

Estamos trabalhando para o Léo ir para o segundo turno. Não trabalhamos com nenhuma outra hipótese até agora. Nenhum outro partido defende o programa que a UP defende, então defendemos o nosso. Grandes viradas já aconteceram na história e estamos trabalhando por elas, inclusive para ir para os debates. 

 

O senhor fala sobre haver uma dissonância entre os interesses populares e os interesses burgueses. Dá para dizer que existe um intuito progresista na política ao mesmo tempo que existem forças evangélicas? 

Os reais evangélicos nós gostamos muito deles. Temos eles em nosso partido. Estão nas periferias onde atuamos. Os verdadeiros são contra a tortura, até porque Jesus não foi morto em um desastre  de camelos numa esquina de Jerusalém, mas torturado, pregado numa cruz. Cada dia mais entendemos que esse aí é um falso profeta, o Jair [Bolsonaro] é na verdade um demônio.