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Entrevista

Sistema de saúde da capital aponta para 'controle' após pressão da 2ª onda, diz Léo Prates - 29/03/2021

Por Mari Leal

Sistema de saúde da capital aponta para 'controle' após pressão da 2ª onda, diz Léo Prates - 29/03/2021
Foto: Arquivo Bahia Notícias

A pressão da segunda onda da Covid-19 sobre o sistema de saúde de Salvador começa a ceder após a adoção de medidas restritivas, as quais serão intensificadas a partir desta segunda-feira (29), visando estabelecer um cenário propício ao retorno de algumas atividades já na próxima semana. 

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, o secretário municipal da Saúde, Léo Prates, aponta a redução expressiva na quantidade de pessoas aguardando na fila da regulação para os leitos exclusivos ao atendimento da Covid-19, redução na taxa de retransmissão e a estimativa de redução da ocupação de leitos de UTI para a marca de 80%. Segundo ele, em função do aumento no número de leitos, se comparado com a primeira onda da doença, a taxa garante menos pressão sobre o sistema.

 

“Nós já temos o valor RT abaixo de 1, que é um cenário de controle. Epidemiologicamente, quer dizer que a doença voltou ao status de controle. Nós desaceleramos a curva e temos um sistema de saúde, hoje, que não é mais folgado do que já tivemos, mas com relativa folga. Acreditamos que na próxima semana a gente vai poder, sim, começar a flexibilizar”, afirma.

 

O secretário condena ainda a proposta de igualar as faixas etárias de vacinação no Brasil, discutida na última semana com a cúpula do Ministério da Saúde e comenta o processo de busca ativa pelas pessoas que abandonaram a segunda dose de imunização em Salvador.

 

Salvador inicia nesta segunda (29) uma fase mais restritiva das ações contra a Covid-19 e pretende uma retomada escalona para a próxima semana. Do ponto de vista dos indicadores, o que se espera para a próxima semana?

A nossa expectativa é chegar a uma taxa de ocupação de UTIs de 80%, que a gente considera uma taxa sobre controle, já que temos um volume maior de leitos clínicos e de UTI, diferente da primeira onda, e isso vai dar uma folga boa no sistema. Do ponto de vista das UPAs nós já temos um cenário de controle. Estamos amanhecendo com 36 solicitações de regulação, lembrando que já amanhecemos com 149. A expectativa é de que ao longo desta semana as taxas caiam ainda mais. Estamos variando entre 83% e 84% na taxa de ocupação de leitos de UTI e 35 e 42 o número de solicitações de regulação às 6h da manhã. 

 

Com esse possível retorno há o risco imediato de a cidade repetir o cenário vivido no início deste mês de março?

Não se pode descartar qualquer risco. Porém a palavra aqui na prefeitura de Salvador tem sido sempre equilíbrio. Equilibrar as medidas restritivas com as necessidades das pessoas e da economia. O cenário que se avizinhou lá no passado, a gente não tinha escolha. Esse era o único caminho para salvar a vida das pessoas. Nós já temos o valor RT abaixo de 1, que é um cenário de controle. Epidemiologicamente, quer dizer que a doença voltou ao status de controle. Nós desaceleramos a curva e temos um sistema de saúde, hoje, que não mais folgado do que já tivemos, mas com relativa folga. Acreditamos que na próxima semana a gente vai poder, sim, começar a flexibilizar. Não quer dizer que tudo vai voltar ao normal, mas podemos começar. O que temos de fazer é acompanhar. Caso seja necessário, esperamos que não, regressamos para as medidas. 

 


Foto: Arquivo Bahia Notícias

 

No momento mais crítico desta segunda onda, a prefeitura de Salvador decidiu quebrar a regra do zoneamento no atendimento nas Unidades Básicas de Saúde. Essa decisão permanece vigente, mesmo com essa retomada do controle?

Está vigente, sim. A nossa decisão é de manter a restrição das UPAS para pacientes azul e verde [níveis de gravidade da doença]. Achamos que o sistema se organizou melhor dessa forma. Quero até agradecer aos companheiros da atenção primária. A Lei do SUS diz que o acolhimento de qualquer paciente deve ser feito em qualquer unidade de saúde, então, consideramos o atendimento adequado. Agora em abril vamos abrir mais uma unidade básica. Acreditamos que a restrição de paciente azul e verde nos ajudou muito a superar a crise e é um legado que veio para ficar, com a organização do sistema de saúde. A ideia durante a pandemia é manter. A gente pode voltar a sentir uma pressão nas UPAs e a ideia é que elas sejam livres para exercer a sua vocação, que é cuidar dos pacientes com mais gravidade.

 

Já estamos há mais de um ano do início da pandemia, mas ainda encontramos pessoas que tem dúvidas do que fazer, onde buscar atendimento quando apresenta os primeiros sintomas. Poderia detalhar?

Quando ela apresenta os primeiros sintomas da doença, deve procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima. Caso haja alguma dúvida, pode também identificar umas das 58 unidades que estão no Salvador Protege, que é o maior programa do Brasil de enfrentamento ao coronavírus na atenção primária. Pode também buscar uma das unidades de semi-emergência, que fora aquelas que criamos para ser uma espécie de para-choque às UPAS, são as unidades de Itapuã, IAPI, Imbuí e Pirajá. 

 

Salvador está avançado no processo de vacinação dos grupos prioritários, mas na semana passada houve discussão sobre uma proposta de igualar a vacinação em nível nacional, considerando esses grupos etários, o que poderia atrasar o calendário aqui. Qual a sua avaliação dessa proposta?

Sou contra essa proposta de igualar porque hoje prejudica a execução da cidade. O que aconteceu é que muitas capitais começaram a vacinação pelos idosos e foram pegando trabalhadores da saúde acima de 70 anos e... Eles agora estão entrando na fase mais burocrática. Nós começamos por trabalhadores da saúde e estamos quase terminando esses trabalhadores. Estamos agora avançando nos idosos e comorbidades. Como essas capitais começaram pelos idosos, agora estão tendo que correr atrás do prejuízo nos trabalhadores da saúde. Eles estão entrando em uma fase mais burocrática. Aprendi com meu pai que a fase mais difícil a gente faz logo para se livrar. E essa fase é mais difícil, assim, no combate as fraudes, definir protocolos, criar a lista de vacinação. É uma coisa bem trabalhosa. Mas nós já vencemos essa etapa e acho injusto agora igualar. Isso seria uma trava para Salvador. Eu estou mais longe nos idosos do que muitas capitais. Sou totalmente contra. Eu acho que tem que respeitar a temporalidade de cada um. Nós fizemos a nossa parte. Para você ter ideia, já vacinamos 104.500 trabalhadores da saúde. O Ministério da Saúde diz que são 134 mil aqui em Salvador. Ou seja, eu já andei bastante. Isso agora para mim é prejuízo. 

 


Fonte: Arquivo Bahia Notícias

 

Você comentou em evitar fraudes. O que chegou a ser diagnosticado nesse período inicial, vocês chegaram a registrar casos?

O que fizemos que nos ajudou bastante foi, primeiro, a gente fez um planejamento prévio, apesar de ser impopular e muita gente se chatear. Isso foi o que nos salvou e fez ter uma processo limpo. Fizemos uma lista prévia. Os renais crônicos, por exemplo. Fizemos a lista com todas as clínicas, pegamos a lista dos nossos atendimentos, montamos uma lista única e a pessoa só se vacina após essa inspeção da nossa equipe. É um pré-cadastro que nos ajuda bastante a combater fraude. Não é só a pessoa chegar com uma declaração. Ela tem que provar para lá na ponta ser vacinada. Veja que muitas capitais estão tendo muitos problemas com isso, algumas até com suspensão de vacinação. Acho que nós conseguimos dar exemplo para o Brasil de organização e de combate às fraudes. Criamos também o Detetive Fura-fila para averiguar eventuais desvios de conduta, o que foi um acerto porque, além da questão de combater à fraude, dá também aquela sensação de que a pessoa está sendo vigiada. Nós também criamos protocolo para evitar falsa vacinação. Nossa orientação é que o técnico mostre a ampola da vacina, mostre a seringa cheia, vacine e mostre a seringa vazia. Eu só tive um problema até agora comprovadamente, que foi a questão de uma técnica de enfermagem que, já cansada,  não foi má fé, ela não atarrachou bem a seringa e quando apertou esguinchou a vacina. Rapidamente chamamos a pessoa para refazer a vacinação. Foi apenas uma falha humana que eventualmente pode acontecer, infelizmente. Teremos aí a fase das comorbidades, que é preocupante.

 

E já há algum protocolo prévio, já que é uma fase que expande bastante o perfil dos vacinados?

Estamos pensando em fazer, e vamos ter até uma reunião com o Ministério Público, para dar acesso [ao nosso sistema] ao MP. Então, tudo que o MP quer ter acesso ele tem acesso online. Ele tem uma senha do nosso sistema. Aqui não tem jeitinho, não tem preocupação. Minha mãe com 76 anos, foi vacinada ontem. Eu tenho o direito de me vacinar, mas não me vacinei para dar o exemplo aos trabalhadores e trabalhadoras que eventualmente ainda não se vacinaram, mostrar que estamos na liderança, não para ter qualquer tipo de benefício, mas para poder conduzir da melhor forma possível. Temos feito reuniões sistemáticas sobre a vacinação com o MP. Estamos bastante preocupados porque o Ministério da Saúde não cumpriu o que acordou com os Estados do Nordeste. A vacinação da influenza era para começar agora em março. Só vai começar 12 de abril e nós vamos, no auge da vacinação contra a Covid-19, vamos ainda entrar no sistema de vacinação. Essa é uma coisa que está me tirando o sono. 

 

Vocês anunciaram que cerca de 3 mil pessoas abandonaram a segunda dose da imunização contra a Covid-19. Como a prefeitura está atuando, tem feito uma busca ativa?

A gente está apelando para as pessoas, mesmo por nota, por meio de vocês da imprensa. Nós estamos trabalhando a cabeça das pessoas, mas também fazendo duas coisas. A lista de pessoas que não tiveram segunda dose está sofrendo uma busca ativa na atenção primária, porque eu tenho unidades de saúde em quase todas as localidades de Salvador. Essas unidades estão fazendo a busca ativa. Temos ainda a ’vacina express’, vamos tentar vacinar mesmo que seja em casa. E estamos finalizando um processo de disparo de mensagens por Whatsapp para lembrar a essas pessoas também.