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Entrevista

Vilas-Boas critica ritmo de vacinação em municípios e diz que prefeitos estão 'patinando' - 08/02/2021

Por Jade Coelho / Bruno Luiz

Vilas-Boas critica ritmo de vacinação em municípios e diz que prefeitos estão 'patinando' - 08/02/2021
Fotos: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias

O secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, critica a lentidão das campanhas de vacinação contra Covid-19 em municípios baianos. Para o titular da Sesab, é "inadmissível" que, passados mais de 20 dias após a aplicação das primeiras doses do imunizante, prefeituras tenham cobertura vacinal na casa dos 25%.

 

O dado mostra que prefeitos têm “patinado” na montagem da estrutura de imunização, afirma Vilas-Boas, que pede medidas mais drásticas para acelerar a vacinação. “É inadmissível que, passados quase 20 dias da primeira dose, nós ainda tenhamos mais de 120 mil doses nos municípios sem serem utilizadas. [...] Ou os prefeitos trocam os coordenadores de vacinação, ou trocam os secretários”, reclamou, em entrevista ao Bahia Notícias. 

 

Ainda sobre o interior, o titular da Sesab avalia que o número de testagens realizadas na Bahia retomou ao padrão anterior do período eleitoral, quando parte dos gestores municipais reduziram a quantidade de exames encaminhados ao Lacen-Bahia. "Dentro do Lacen, nós estamos com o número de exames sendo realizados dentro do que a era a média do ano passado, em torno de 5 mil a 6 mil exames por dia, o que é muito alto, e uma taxa de positividade de 40%, o que é muito alto", disse.

 

Ele ainda disse que as reações adversas às vacinas têm sido leves e em baixa quantidade no estado e que não há contraindicações para quem queira tomá-la. Leia abaixo a entrevista completa.

 

Estamos vendo essas dúvidas todas sobre as variantes da Covid-19. A Bahia prepara algum plano de contingenciamento, de protocolo para o caso de receber pacientes com essa variante?
Você só sabe que alguém tem uma variante depois de ele ser internado e fazer um sequenciamento. Você não tem como saber antes de internar, exceto se ele vier de uma área de alto risco pra ter variante, como é o caso da Amazônia. Essa decisão de receber pacientes da Amazônia foi de receber pacientes sem Covid-19, ou com Covid inativo, já passados os 10 dias, para que a gente não tivesse risco de passar para a Bahia a variante do Amazonas. Mas estamos preparados para caso venha a acontecer uma explosão de casos, como aconteceu no Amazonas, São Paulo e, agora, acontece no Ceará. 

 

Na comunidade científica, se fala que a situação pode piorar, alguns alertam que pode vir um tsunami, para além desta segunda onda. Qual o nível de alerta da Sesab para isso?

Alerta total. Só que não tem nada que podemos fazer para evitar, exceto vacinar o mais rápido possível. A vacina é a única garantia de que a população de alto risco não vai ser internada e morrer. Por isso que a vacina é importante em dois pontos: para evitar a internação e o óbito. E terceiro, para evitar que surjam novas mutações, novas variantes. Quanto maior a cobertura vacinal, menor o número de infectados, menor chance de surgimento de mutações. O que está a nosso alcance é trabalhar insistentemente com os municípios para eles acelerarem a vacinação. É inadmissível que, passados quase 20 dias da primeira dose, nós ainda tenhamos mais de 120 mil doses nos municípios sem serem utilizadas. 

 

Qual a justificativa dada pelos municípios para isso acontecer?
É multifatorial. Parte disso foi remontagem das equipes de saúde para transição das gestões, parte foi inexperiência de alguns gestores novos. Tem muita gente patinando aí, que não tá conseguindo. Ou os prefeitos trocam os coordenadores de vacinação, ou trocam os secretários. Porque, se você olhar, tem dezenas de municípios com menos de 25%, mais da metade com menos 50% [de doses aplicadas], não tem cabimento. E eles estão sendo apoiados pelo Conselho dos Secretários Municipais de Saúde. Tem apoiadores do Cosems que ligam, perguntam se estão precisando de alguma coisa. Não há razão para isso. Uma outra coisas que eles alegam, e é verdade, é que essa vacinação da primeira fase foi muito dirigida. Você tinha que ir buscar o profissional de saúde, é diferente de você montar um stand numa UBS e dizer “povo, venha para cá se vacinar, que qualquer um que entrar aqui eu vacino”. Essa vacinação foi dentro dos hospitais, precisava checar se a pessoa de fato era profissional de saúde, houve, e ainda há, patrulhamento muito grande, o que é bom, tanto da sociedade quanto dos órgãos de controle, para que não se vacine o público que não é alvo. Isso, por um lado, criou receio, até medo por parte de alguns gestores, mas, por outro, garantiu que a vacina chegue, dentro de sua maior parte, nas pessoas que precisam receber. Se houver flexibilização, você acaba vacinando quem é de baixo risco, quando você deveria vacinar pessoas de médio e alto risco. Se você vacinar os de baixo risco, não vai ter impacto na redução de internações e de óbitos. Infelizmente, hoje temos que fazer prioridade dentro da prioridade. Nós teríamos que ter vacinado 1.780.000, mas temos doses para, por enquanto, 350 mil.

 

Caso a Anvisa libere a autorização para a Sputnik V, em quanto tempo a gente conseguiria vacinar esse público de risco?
A Sputnik V, e nenhuma outra vacina sozinha, será capaz de vacinar a população brasileira toda. A Coronavac tem prometido 100 milhões de doses até dezembro. Nós somos aí cerca de 8% da população brasileira. Então, nós teríamos 8 milhões de doses. Seriam 4 milhões de pessoas ao longo de 10 meses, 400 mil pessoas por mês, em média. Nós temos 16 milhões de pessoas no estado. Você tem que juntar Coronavac, com a vacina da AstraZeneca, com a Sputnik V. Sputnik está prometendo 150 milhões de doses até dezembro. Mesmo que você junte Sputnik com Coronavac e AstraZeneca, ainda assim, você não consegue vacinar toda a população brasileira. Não vai ter dose para vacinar todo mundo ao longo de 2021. Uma parte, como estava previsto desde antes, ficará para o primeiro semestre de 2022. Mas, garantindo que a população de risco alto e médio risco esteja vacinada, o que acontecerá nestes primeiros quatro meses, a gente vai ter condições de observar, em dentro de 60 dias após completar a vacinação de cada grupo desse, uma redução expressiva no número de internações e de óbitos. 

 

Durante o processo eleitoral, houve queda no número de testagens. O próprio governador Rui Costa sinalizou isso, que os prefeitos estavam testando menos. E agora, com esses índices que estamos tendo, o senhor ainda acha que há menos testagens ou isso já voltou ao patamar de antes?
Já voltou. Dentro do Lacen, nós estamos com o número de exames sendo realizados dentro do que a era a média do ano passado, em torno de 5 mil a 6 mil exames por dia, o que é muito alto, e uma taxa de positividade de 40%, o que é muito alto. Tem muita infecção e estamos fazendo muitos diagnósticos. Mas, quando você olha para a taxa de internação, o número de pessoas que precisam ser internadas e o número de pessoas que estão ocupando leitos, esse tem se mantido estável. Isso significa que você tem uma alta taxa de contágio, de casos novos, em pessoas que não precisam ser hospitalizadas. Provavelmente, quem está saindo pra rua são os mais jovens.

 

A secretaria já tem ciência de alguma reação à vacina? Tivemos informação de uma idosa que estaria com Covid, foi vacinada, teve reação e teria chegado em estado grave ao Hospital Espanhol. 
Não temos essa informação. Estamos acompanhando os eventos adversos. Eu determinei que fossem categorizados em função da vacina do Butantan e da AstraZeneca. Estamos acompanhando o percentual de incidência de eventos adversos em uma do que na outra, e o percentual de eventos adversos é baixíssimo nas duas. É maior na AstraZeneca, mas é coisa muito baixa, coisa de 0,02%, muito pouco. O que tem é dor no braço, dor no corpo, dor de cabeça, febre de 39 graus. Não teve evento adverso sério nenhum. Você vai encontrar alguns eventos. Por exemplo, um motorista nosso, da secretaria em Jequié, tomou a vacina e, cinco dias depois, estava péssimo. Ele pegou Covid, não foi a vacina que deixou ele mal. Ele está com Covid.

 

Eu tenho dúvida sobre se as pessoas infectadas podem tomar a vacina. Às vezes, elas estão assintomáticas, ainda não sabem…
Você pode estar infectado ou não estar infectado, tomar a vacina e, daqui a 15 dias, pegar Covid, pois você não gerou os anticorpos e células T killer suficientes para se proteger, só vai ter isso na segunda dose.

 

E tem alguma contraindicação sobre tomar a vacina estando doente?
Não, não tem isso. Quando você olha o universo das vacinas, você tem gente que vai ter AVC depois da vacina, que vão infartar depois da vacina. Tem uma série de coisas que não têm nada a ver com a vacina, mas, como está vacinando milhões de pessoas, os eventos estão acontecendo e terão alguma associação temporal com alguma coisa depois da vacina. Você não vai ter 60 dias em que ninguém não vai infartar, não vai sofrer um AVC. Dessas pessoas idosas que estamos vacinando, vai ter gente que vai morrer de causa natural, tendo tomado a vacina uma semana antes. Isso não quer dizer que a vacina causou o óbito. É por isso que há estudos, e os estudos mostram que ninguém morreu durante os experimentos, quando tomou a vacina.

 

Sobre o Hospital Metropolitano, o governo está em conversas para viabilizar o contrato de Parceria Público-Privada (PPP). Como está isso?
Estamos bem adiantados. Nós fizemos uma audiência pública que terminou na semana retrasada. Foram colhidas várias sugestões e questionamentos, estamos absorvendo algumas sugestões. A previsão é que, no começo de março, a gente consiga levar para a licitação da PPP. Já tem alguns grupos interessados. 

 

O ano de 2020 foi o pior dos últimos 10 anos em cobertura vacinal na Bahia. Como a Sesab pretende correr atrás do prejuízo, melhorar os números?
Esse momento de pandemia ainda continuará atrapalhando a vacinação ordinária da população. Muita gente que está em casa, ainda não vai para a escola. Vai ser um ano difícil. Já vínhamos trabalhando para que houvesse reversão. Conseguimos reverter a vacinação do sarampo e de febre amarela. Tivemos condições de trabalhar, até o início da pandemia, num processo de reversão. Aí veio a pandemia e não tivemos como continuar. O fato de as pessoas estarem preocupadas com a situação fazem com que elas esqueçam de vacinar.