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Entrevista

Diretor do Irdeb nega que TVE seja 'chapa branca' e defende comunicação pública - 09/03/2020

Por Lucas Arraz / Mauricio Leiro

Diretor do Irdeb nega que TVE seja 'chapa branca' e defende comunicação pública - 09/03/2020
Fotos: Paulo Victor Nadal/ Bahia Notícias

O diretor do Instituto de Radiofusão Educativa da Bahia (Irdeb), Flávio Gonçalves, acredita que a rede de rádio e TV públicas podem ser líderes de audiência. Em entrevista ao Bahia Notícias, o diretor revelou que a emissora está em 4º lugar na Bahia.

 

Com a negociação sendo feita pelo governador Rui Costa (PT), ele revelou que o pedido do governador foi que a atuação da TV e da rádio não fossem “chapa branca”, e ele foi procurado por ter um perfil mais jovem.

 

Com a extinção da Agência Brasileira de Comunicação, Gonçalves classifica como “lamentável” a medida tomada pelo governo Bolsonaro. E, para o diretor, para o povo ter acesso a sua cultura é necessário a televisão e a rádio pública para fornecerem o que é produzido no país.


Como a TVE e Rádio Educadora lidam com a questão da audiência?

Nós queremos ser como as televisões públicas são no mundo. Se você for na Inglaterra, você vê isso. Queremos ser, pois acreditamos no conteúdo que a TV e a rádio pública oferecem. O conteúdo agrega a população, temos o conteúdo de entreter, informar e educar é fundamental para uma sociedade com mais conhecimento. Ela apresenta a população e leva conhecimento. Se no mundo a TV pública é líder de audiência, porque não na Bahia. Foi feita uma pesquisa que coloca a TVE em quarto lugar, a frente até da Bandeirantes. 

 

Vindo da Empresa Brasileira de Comunicação para gerir o Instituto de Radiofusão Educativa da Bahia, como se deu essa decisão, e porque aceitou?

Eu sou jornalista. Trabalhei em veículos impressos, em assessoria, em televisão, rádio. Sou funcionário concursado da Empresa Brasileira de Comunicação, na eleição de Rui Costa (PT), fui procurado por, segundo ele, um perfil mais jovem. Chegaram no meu nome, foi encaminhado para ele, e tivemos uma conversa. E nessa conversa nós falamos sobre o papel da TV e da rádio pública, e falamos também sobre o que imaginamos e o que esperamos sobre o que assistir. Ele disse que a TV e a rádio não têm que ser “chapa branca”, tem que ter qualidade e credibilidade. E se fosse assim, eu nem iria. Ele me garantiu que eu teria liberdade para fazer algo que fosse melhor. Não temos patrão, mas prestamos um serviço para a sociedade. 

 

Com a extinção da Agência Brasil de Comunicação por parte do governo Bolsonaro, como você vê essa medida do governo federal?

Lamentável. Se você for na Europa ninguém fala sobre fechar as televisões públicas, nem nos Estados Unidos, em Angola, no Japão. A diversidade que se encontra na televisão pública e na rádio pública é importante. Esses países produzem conteúdo, na França passam filmes franceses na televisão aberta. Para que tenhamos acesso aos filmes nacionais é necessário que tenhamos a televisão pública. Na Argentina, eles transmitem os jogos da seleção. Em Angola também. Os patrimônios do povo têm que chegar ao povo, e tem que dar acesso, e com base no interesse público. Na Constituição Federal temos que ter esses sistemas. Infelizmente as declarações do presidente dão conta de fecharem, e isso está na contramão de tudo isso.

 

Vemos o movimento de interiorização da emissora baiana. Quais os próximos passos? Existe um plano para isso?

Estamos colocando o sinal de digital da TVE no estado. A população, com razão, por e-mail, carta, telefone, pede o sinal da TV no interior. As pessoas de lá acabam acompanhando o que ocorre em São Paulo do que aqui da Bahia. Eles também pagam impostos para financiar a televisão pública. Em 2018, Rui Costa foi reeleito e colocou como meta de governo, interiorizar o sinal digital da TVE para o interior. Inauguramos em Barreiras, Prado, Teixeira de Freitas e Itamaraju. Estamos tentando garantir que todos tenham acesso de qualidade para a informação de qualidade. Estamos chegando em municípios que só tinham um ou dois canais de TV. As emissoras comerciais não têm interesse em levar o sinal para lá.

 

Até o final do mandato do governador Rui Costa, qual a expectativa de levar o sinal de cobertura?

Nesse primeiro mandato, nós estamos no processo de levar a TV para 2/3 para a população do estado. E para 2 em cada 3 baianos terem o sinal digital da TV. É um processo de integração do estado, são as pessoas podendo acompanhar o que acontece no nosso estado. Às vezes tem mais relação com outros estados, e queremos integrar o estado. 

 

Em 2018 fez os debates do governo do estado, em 2020, os debates políticos vão se repetir na emissora?

Nós, em 2016, fizemos o primeiro debate com entrevistas exclusivas e fizemos os debates. Eles não foram 11 da noite, foi as 7 da noite, para permitir que as pessoas assistam. É fácil falar que as pessoas não se interessam por política com debates tão tarde. Em 2020, faremos os debates em Salvador, em Feira de Santana e em Vitória da Conquista. São os dois maiores colégios eleitorais do interior, e com possibilidade de segundo turno e estamos com sinais digitais nessa região. A TVE fará ao vivo na TV e nas redes sociais, para ouvir as propostas.

 

Com o investimento da rede em repórteres e apresentadores negros, a ideia é expandir para cargos de gerência, e isso é uma preocupação de fato?

Com certeza. Em 2016, assumimos o compromisso com a Organização das Nações Unidas, e nós temos na Bahia que a maioria é negra, e a maioria que paga impostos é negro. Se você for lá temos vários funcionários negros. Apresentadores, comentaristas esportivos, e com também mais com o conteúdo. Fizemos uma amostra de cinema com temática negra. Fizemos um documentário sobre figuras negras aqui da nossa cidade, transmitimos shows da Concha Negra. É um compromisso nosso, de ser a emissora mais negra da Bahia. E influenciamos outras emissoras, e perdemos funcionários para eles também. A população se identifica. Temos até desenho infantis, para ter uma sociedade que respeite a diversidade. 

 

A TVE foi alvo de crítica por transmissões de cunho político, como exemplo as entrevistas com a ex-candidata à presidência Manuela D’Ávila e o ex-presidente Lula. Como o senhor avaliou as críticas? Não acha perigoso, como a transmissão da saída do ex-presidente Lula da cadeia?

Não. Acho que isso faz parte do compromisso com a diversidade. Temos o compromisso de informar educar e entreter. O acesso se dá através de entrevistas, transmissões. Nós entrevistamos Dráuzio Varella, que produz conteúdo para TV comercial. Alguém questionou essa entrevista? Passou por tema da política? Sim. Ninguém questionou. Fizemos com grandes personagens do Brasil e do exterior. É informação? É. Qual o problema de entrevistar uma figura como o ex-presidente Lula, que tantos entrevistaram, e a TVE entrevistou. Só quando nós publicamos deu 5 milhões de acesso. Os meios de comunicação fizeram reportagens sobre essa entrevista.