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Entrevista

Saltur pensa em abrir mais espaço para foliões no circuito Barra-Ondina - 11/03/2019

Por Guilherme Ferreira

Saltur pensa em abrir mais espaço para foliões no circuito Barra-Ondina - 11/03/2019
Foto: Priscila Melo / Bahia Notícias

O presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), Isaac Edington, diz ter a intenção de abrir mais espaço para os foliões curtirem a pipoca no Carnaval. Essa pelo menos foi uma das conclusões tiradas a partir de uma análise da festa que aconteceu entre o fim de fevereiro e o início de março. 

 

Na avaliação de Isaac, o Campo Grande já foi beneficiado este ano com a retirada de estruturas. O governo não exerceu o direito de ter seu camarote no circuito e a prefeitura também teria diminuído seu espaço. Para o próximo ano, a ideia é fazer ajustes entre a Barra e Ondina.

 

"Começam a ter outros aparatos de infraestrutura em determinadas regiões que começam a atrapalhar um pouco, em especial no circuito Barra-Ondina. Acho que a gente tem que ser um pouco mais duro lá. Acho que a gente pode melhorar alguns locais e a infraestrutura pública de alguns órgãos - sem citar nomes - pra sobrar mais espaço na rua", comentou.

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, Isaac também comentou sobre a atração de grandes artistas para o Campo Grande e apontou que o retorno de blocos importantes ao circuito depende muito do desejo dos artistas para não precisar sempre do apoio do poder público. "Acho que o artista tem que ter essa coisa: 'Poxa, eu vou no Barra-Ondina, mas eu posso tocar um dia no circuito do Campo Grande'. O artista Saulo fez isso", disse.

 

O presidente da Saltur também descartou a possibilidade de antecipar para outubro a divulgação da programação do Carnaval, como sugerido pelo secretário municipal de Cultura e Turismo, Cláudio Tinoco. Segundo Isaac, o fato da prefeitura e do governo anunciarem suas atrações sem corda perto da folia acontece de propósito, com o objetivo de não prejudicar a venda de abadás dos blocos. "Em outubro você tem muitos processos acelerados para o Carnaval, mas não as atrações que vão tocar no Carnaval", justificou.

 

Qual a avaliação que a Saltur faz do Carnaval deste ano e quais devem ser os pontos que mais vão receber atenção para o próximo ano?
O Carnaval de Salvador tem uma característica de ser muito grande. O aparato de recursos públicos que a prefeitura coloca à disposição da população e dos turistas é fenomenal. Não é puxando a sardinha pro nosso lado. A gente tem uma infraestrutura invejável para ter uma festa como essa. Esse ano tem alguns pontos que eu acho que merecem atenção para o próximo ano. Lógico que tem a infraestrutura que a prefeitura coloca e tal, mas também começam a ter outros aparatos de infraestrutura em determinadas regiões que começam a atrapalhar um pouco, em especial no circuito Barra-Ondina. Acho que a gente tem que ser um pouco mais duro lá. Acho que a gente pode melhorar alguns locais e a infraestrutura pública de alguns órgãos - sem citar nomes - pra sobrar mais espaço na rua. Eu inclusive pedi a nossos parceiros da área de comunicação, gravei toda a área da Barra em drone depois que o arrastão acabou para dar uma olhada melhor nessa infraestrutura ainda construída e sem ninguém para a gente fazer uma avaliação do que a gente pode tirar, remanejar, puxar de um lado, puxar do outro, pra sobrar mais espaço para o folião, que acho que é uma coisa importante. Um ponto que eu acho que é um ponto forte deste ano é que a gente conseguiu equalizar melhor que o ano passado a questão dos buracos que aconteciam no desfile por ter menos blocos. A gente viu o mapa dos blocos, vimos onde tem mais blocos, onde tem menos blocos e aí, por exemplo: a quinta-feira não tinha nenhum bloco. O que a gente fez? Reforçou com a contratação de grandes atrações e passamos a ter uma quinta bombadíssima no circuito Barra-Ondina. O samba roda muito bem nesse horário no Campo Grande, então você teve uma quinta lotada em todos os circuitos. O pré-Carnaval a cada ano se consolida mais. A gente fez uma conta e a gente teve 3,4 milhões de pessoas participando no pré-Carnaval. Esse ano a gente teve até um pré-Carnaval no mar. Esse foi um ponto importante. Ali a gente viu, pelo menos a minha avaliação foi assim: 'O Carnaval vai bombar'. Aquele pré-Carnaval foi um prelúdio do que veio depois, a gente via as pessoas ansiosas para brincar Carnaval. Qual foi o ponto mais forte de todos na minha opinião? As pessoas querendo curtir o Carnaval e muito daquela essência do Carnaval. Você dificilmente encontrava uma pessoa sem estar usando no mínimo um adereço. As pessoas iam fantasiadas pra rua. Eu achava que isso ia se concentrar mais no Furdunço e no Fuzuê, mas isso foi o Carnaval todo.

 

Você comentou sobre ter mais rigor na ocupação de espaços no circuito Barra-Ondina para dar mais espaço aos foliões. O que exatamente pode ser retirado dali?
Esse ano por exemplo teve o camarote do Comcar [Conselho do Carnaval], que foi legal, eles pediram...mas será que é ali? Vamos ver outro lugar? Vamos deixar o canteiro central [de Ondina]. O espaço que a gente tem para acessibilidade...vamos tentar concentrar isso em algum ponto e deixar mais limpo aquele canteiro central. Acho que as estruturas são muito grandes. Esse ano a gente reduziu a estrutura do Campo Grande e sobrou espaço lá na frente. A gente precisa ter mais espaço na rua.


Esse ano a gente também ouviu algumas críticas em relação à saída de trios por conta de alterações na programação. Como é possível evitar esse tipo de confusão? Existem muitos problemas com a documentação dos trios elétricos?
Eu acho que esse ano a gente teve um ponto extremamente positivo. A gente tem um grupo de aproximadamente 80 pessoas que trabalham exatamente no monitoramento e controle dos horários dos espaços. Esse foi o ano que funcionamos melhor. Por outro lado, a gente teve um processo muito indisciplinado. A gente tem que ter algum mecanismo pecuniário para resolver essa questão. A gente teve um dia, não me recordo agora se foi sexta ou sábado, algum dia importante, e simplesmente sete agremiações não apareceram. Estavam inscritas para sair e não apareceram. A sorte é que justamente por a gente estar muito afinado neste processo a gente conseguiu equalizar e não ficaram buracos no circuito, mas poderia ter ficado. A gente precisa criar algum mecanismo lá que seja pecuniário, tem que mexer no bolso da entidade ou do dono do bloco. Se o cara se inscreveu, a gente tem que ter um processo para que se cumpram as coisas. Eu não tenho hoje como punir, como multar o sujeito. Eu gostaria de fazer isso. A gente tem que sentar internamente lá e ver de que forma a gente pode fazer.  Um circuito, para ele rodar bem, deve ter entre 25 e 30 entidades no máximo. Aí eu tenho lá, por exemplo, 38 entidades registradas - entidades eu incluo blocos, trios independentes... - e na hora não aparecem sete. Teve dias que não apareceram nove. Não dá. E eu não tenho como punir esse sujeito.


Mas é só por causa de ausências que acontecem esses problemas na saída dos trios?
Na saída o que acontece é o seguinte: algumas dessas entidades se planejam para sair, chegam lá e não estão prontas. Aí o que a gente tem que fazer: atrasa um pouco, tem que pegar quem está atrás e puxa pra frente. Aí o sujeito não gosta. Todo mundo acha que tem o seu espaço na rua. Outra coisa que é muito prejudicial e infelizmente a gente tem que ser muito mais duro previamente é o tamanho dos equipamentos, que são muito grandes. A gente tem todo um trabalho na central de vistoria e quando o sujeito chega na avenida o trio elétrico dele está totalmente diferente do que estava e a gente não tem como simplesmente barrar o trio elétrico na avenida porque infelizmente as pessoas que estão lá esperando essa atração não podem ser penalizadas pela irresponsabilidade. A gente conseguiu melhorar, mas teve pelo menos oito equipamentos que rodaram fora do permitido. Aí prejudica, bate em rede da Coelba...isso é um problema da falta de sensibilidade e muitas vezes nem é o proprietário do trio, às vezes é o dono da atração que está no trio elétrico que modifica o trio. A gente vai ter que ser mais duro nisso se a gente quiser melhorar a performance do circuito e não ter acidentes. E acho que a gente só resolve isso também de forma pecuniária, mexendo na parte mais importante, que é no bolso das pessoas que cometeram essas irregularidades.


Outra questão que a gente também ouviu é que as vistorias só começaram em cima da hora, na terça-feira que antecedeu o Carnaval. Isso aconteceu exatamente para que mudanças de última hora pudesse acontecer ou não tem relação com isso?
Não, não. A vistoria teve um atraso na estrutura sim. Porém, a gente monta uma estrutura com uma margem de segurança e muitos desses trios elétricos estão fazendo Carnaval no interior, estão fazendo Carnavais em outras cidades e acabam chegando, mesmo com a central de vistoria pronta, muito em cima. Em tese a gente consegue absorver. Isso não é um grande problema. O problema é o trio elétrico chegar, passar na vistoria, e ele descaracterizar quando chega na avenida. Isso nos impede de ter uma ação efetiva para não prejudicar o folião que está lá. 


Mas essa vistoria pode acontecer anteriormente?
Não, ela tem que acontecer realmente na semana que antecede o Carnaval, independente de qualquer coisa. O que a gente quer é: o trio elétrico que passou na vistoria seja o mesmo trio elétrico que sobe no estacionamento da Graça. 

 

Não fica um pouco apertado a vistoria começar na semana do Carnaval?
Não, não. Ela tem que começar na semana do Carnaval porque ele tem que  ser vistoriado e ir para o local de saída. Não é uma coisa que você pode fazer antes. 


O secretário Cláudio Tinoco comentou que acha ideal a programação do Carnaval ser lançada até outubro do ano anterior à festa. Você concorda com essa avaliação? É possível fazer o lançamento com essa antecedência? 
Isso é impossível. Em outubro você tem muitos processos acelerados para o Carnaval, mas não as atrações que vão tocar no Carnaval. Isso não é uma coisa tão simples. O Carnaval em outubro, o máximo que a gente pode fazer é um lançamento institucional. Isso a gente já faz inclusive. Mas você dizer que em outubro você já está preparado para dizer as atrações, os blocos...isso é impossível. No sistema como é hoje é impossível. O que pode fazer é: institucionalmente, você falar do Carnaval de Salvador, fazer ações promocionais como a gente faz todo ano. As próprias atrações, como isso funciona? As próprias entidades que têm suas próprias atrações têm toda uma dinâmica de horários, têm reuniões onde é definida a ordem de saída junto com o Comcar, e muitas dessas atrações têm seus compromissos fora. Em outubro você não tem ainda essa agenda dos artistas. A gente pode até começar a negociar, mas o artista precisa ter a agenda dele, a agenda do bloco, a agenda dele fora e o nosso processo de negociação. É muito difícil você ter isso tudo em outubro.Tem uma complexidade que envolve o conteúdo que não é só o desejo da gente em fazer. Esse conteúdo não está sob nosso controle total. Mas que em outubro a gente pode fazer uma ação promocional mais forte, pode sim, como já fazemos todos os anos com o lançamento do réveillon em São Paulo e uma ação institucional para o Carnaval. Para 2020, a gente pode obviamente fazer algo diferente, como a cada ano a gente faz algo diferente. Outra coisa é: 'Ah, foi divulgada a programação da prefeitura muito em cima'. Tem uma questão aí que é importante a gente fazer de forma muito responsável. Muitas atrações que nós contratamos são as mesmas atrações de blocos. O Bloco Eva, que tem Felipe [Pezzoni]. Estou dando um exemplo. A gente dialoga com os blocos para não prejudicar os blocos, para não prejudicar a venda dos blocos. Se eu disser a nossa programação dos trios muito antes, eu vou interferir na vida dos blocos. Só por essa razão eu não posso divulgar a programação das grandes atrações da prefeitura com muita antecedência para não prejudicar a venda dos blocos. Propositadamente nós divulgamos na semana do Carnaval as atrações contratadas pela prefeitura justamente para que a gente não prejudique a venda dos blocos. Nós gostaríamos muito de não precisar contratar atrações. O ideal é que a gente não precisasse contratar atrações. A gente só não pode deixar o Carnaval cair de pedestal, da sua posição, e ele só não caiu porque a gente teve a sensibilidade e a capacidade de fazer uma gestão desse conteúdo, colocar as grandes atrações justamente onde não tem blocos e ser muito responsável nessa questão de só divulgar isso na semana do Carnaval justamente para não prejudicar a venda dos blocos. Isso não é uma falha, é uma virtude da prefeitura. 


Você comentou em alguns momentos sobre a preocupação em preencher a programação do Campo Grande...
E na Barra. Na quinta na Barra, por exemplo, não tinha bloco nenhum. E na terça a gente tinha menos blocos. Então a gente bombou muito a quinta. A gente botou muitas atrações na quinta, muitas na terça, e pontualmente três ou quatro nos outros dias. No domingo, segunda e terça no Campo Grande a gente 'pancadeou' mesmo de atrações. Inclusive na Praça Castro Alves que, esse ano, posso dizer que voltou a ser do povo com o pôr-do-sol da Praça Castro Alves. Tivemos três dias com uma média de 50 mil pessoas na Praça Castro Alves.

 

O Campo Grande teve atrações de peso este ano, mas todas praticamente apoiadas pelo poder público, seja prefeitura ou governo. Existe alguma forma de incentivar a ida dos blocos para o Campo Grande para que ele não dependa dos trios patrocinados pela prefeitura e pelo governo?
Vou te dar um exemplo que eu achei super bacana. Nós contratamos o artista Saulo pra tocar. Ele tinha disponibilidade na agenda dele só até determinado dia porque ele ia fazer shows fora e estava a fim de fazer no máximo três apresentações este ano. O empresário dele, que é Ricardo Lelys, conversamos com ele. Eu fiz: 'Poxa Ricardo, a gente queria Saulo na quinta'. E eu queria Saulo ou domingo ou segunda ou terça no Campo Grande. Ele fez: 'Não, Isaac, eu até topo quinta, mas Saulo quer tocar sábado no Campo Grande. E eu não consigo tocar domingo. Eu só consigo tocar sexta e sábado. Saulo não vai poder fazer domingo. Agora, ele gostaria muito de tocar sábado e não é em Ondina não. É no Campo Grande'. Eu sentei com o prefeito, conversei com o prefeito...vamos contratar Saulo. Saulo fez: 'Poxa, eu quero tocar sábado no Campo Grande, porque eu quero ver o Campo Grande cheio no sábado. Isso foi uma iniciativa do artista Saulo. Nós o contratamos sábado. Resumindo a história: foi um dos melhores momentos do Carnaval na minha opinião. A pipoca que Saulo arrastou no sábado no Campo Grande foi uma coisa fenomenal. Você pode pegar as imagens aí que você vai ver. Então este conteúdo criou um grande atrativo para a população no sábado. O que é que eu acho? Existe uma forma artificial de fazer isso? A gente já está fazendo. Está funcionando. Agora, a gente fazer um incentivo pro...acho que isso depende muito dos artistas. Acho que o artista tem que ter essa coisa: 'Poxa, eu vou no Barra-Ondina, mas eu posso tocar um dia no circuito do Campo Grande'. O artista Saulo fez isso. Acho que esse é um movimento do conteúdo, é um movimento dos empresários que têm seus artistas e do próprio artista de também querer colaborar e não só todo mundo querer tocar ou fazer sua mobilização de blocos...e é lógico que tem o outro lado que é a população querer. Eu costumo dizer que o Carnaval é muito grande, tem muita gente que diz que entende do Carnaval, quem entende mesmo de Carnaval é o folião, ele sabe o que ele quer, ele sabe o que faz sentido pra ele. Acho que a gente tem que ter uma colaboração daqueles que gostam do Carnaval, daqueles que vivem do Carnaval, e que já ganharam muito dinheiro com Carnaval, se posicionaram muito no Carnaval que se a gente quiser manter ele vivo, que também olhem um pouquinho do lado de cá. Já tiraram muito, está na hora talvez de devolver um pouquinho para a gente manter esse Carnaval vivo.

 

Um assunto que ficou muito evidente neste Carnaval foi a duração da folia. Esse debate você não acha que deveria ser feito mais dentro do Comcar? A prefeitura e o governo devem realmente discutir essa questão?
Muito francamente, essa é uma discussão inócua agora. Há pelo menos quatro anos não se mexe nisso. Parece até que aumentamos, nós não aumentamos o Carnaval. Tem quatro anos que tem pipoco, quatro anos que tem pré-Carnaval, tem quatro anos com a mesma quantidade de dias, nós seguimos rigorosamente a conta no Carnaval dos bairros. Quando o prefeito aumentou o Carnaval nos bairros a PM chegou pra nós e disse: 'Olhe a gente só tem condição de atender x bairros por dia'. Nós cumprimos religiosamente. A Polícia Militar é uma grande parceira da cidade. Acho que neste momento a gente discutir se deve aumentar ou diminuir, eu não acho que a gente tem que estar discutindo isso. O que eu acho que tem que fazer é sempre pensar 'up', como melhorar o que a gente tem. Isso não quer dizer que a gente tem que aumentar ou diminuir a quantidade de dias.