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Entrevista

Forma como sociedade encara comunicação estatal tem que ser revista, avalia Curvello - 04/02/2019

Por Fernando Duarte / Jade Coelho

Forma como sociedade encara comunicação estatal tem que ser revista, avalia Curvello - 04/02/2019
Foto: Priscila Melo / Bahia Notícias

A maneira como o investimento em comunicação é encarada pela sociedade foi criticada pelo secretário de Comunicação da Bahia, André Curvello. Para o titular da Secom é necessário um amadurecimento de todos os setores que compõem a sociedade para a importância da comunicação estatal. “É sempre tratada como clichê, como motivo de crítica. Eu canso de ouvir as pessoas falando ‘poxa, gasta X com publicidade’, mas ali não é invenção, é um orçamento público que está ali, que é aprovado pela Assembleia, e que efetivamente você precisa comunicar”, disse Curvello ao ressaltar a importância da verba investida pelo estado em propaganda para a economia e o mercado.

 

“O Poder Público, como em todas as áreas, é um importante player do mercado”, argumentou o gestor, que disse também que o investimento em publicidade é tratado pelos adversário de “forma política eleitoreira”.

 

Curvello, que foi o primeiro nome confirmado pelo governador Rui Costa para permanência do cargo na reforma administrativa, explicou ainda que desde a reeleição do petista a equipe de comunicação começou a traçar estratégias do setor para o novo mandato. Na avaliação do titular da Secom, apesar de ser um governo de continuidade é necessário deixar claro a população que será diferente, e que não será “mais do mesmo”. “A gente tem que se superar na criatividade, seguindo o ritmo do correria, pra gente ser mais criativo na comunicação para não parecer mais do mesmo”.

 

Sobre a marca “Correria”, atribuída ao governador da Bahia no último mandato, Cuverllo assegura que não foi intencional. Segundo ele a Secretaria de Comunicação aproveitou uma característica percebida e ressaltada em Rui pela própria população: “O slogan foi natural. Quem criou o nome "Correria" foi o povo. Não foi a secretaria de Comunicação, não foi este ou aquele publicitário, esta ou aquela agência. Foi o povo”.

 

“Começou por causa daquele ritmo que ele tem, um ritmo bastante agudo de viagens, e aí ele sai andando e o pessoal começou a dizer que ninguém acompanhava, que era correria pura, e foi pegando isso”, relembrou André Curvello.

Foto: Priscila Melo / Bahia Notícias

 

O secretário de Comunicação foi um dos primeiros confirmados pelo governador para permanecer no posto. Moral alta ou reconhecimento do trabalho?

Bondade do governador.

 

Só isso?

Eu acho que é muito mais pelo fato da proximidade que a área exige. Então eu achei natural que isso acontecesse, porque a comunicação termina ajudando a divulgar as ações do governo. Acho que por isso o governador optou por primeiro anunciar o meu nome. E a gente fica agradecido pelo gesto do governador. O fato de ter sido o primeiro aumenta ainda mais a responsabilidade de prestar um serviço que seja satisfatório, para a sociedade e também para os planos e o planejamento do governador e as ideias que ele tem pra Bahia.

 

Qual a avaliação que você faz da área de comunicação do primeiro mandato de Rui? Esse foi um dos eixos que garantiu a reeleição dele em outubro?

Não. O que garantiu reeleição de Rui foi o trabalho que ele fez. Ele implantou uma política nova no estado. A Bahia estava sentindo falta da figura de um governador mais gestor e menos político, sem desmerecer os outros governadores que o antecederam. Jaques Wagner, por exemplo, foi um excelente governador, eu fico impressionado com o que ele fez pela Bahia, tanto capital quanto interior. Rui deu prosseguimento de uma forma mais gestora de ser. E isso, aliado a esse jeito de Rui, humilde, que é um sujeito que vem da encosta, bairro popular de Salvador, cara humilde, com uma história de vida muito bonita, então isso aí eu acho que as pessoas deram um voto de confiança ao governador, por causa das suas características e do trabalho que ele apresentou. Não é a toa que ele teve a maior vitória da história política da Bahia. A comunicação pode ter ajudado, mas eu digo sempre que a comunicação, se a gente souber como fazer, ela vai refletir o desempenho do governo.

 

Como administrar um governador que teve 75% dos votos das eleições para evitar que as falas assumam um tom de soberba, ainda que não seja a intenção dele?

Esse tipo de coisa não contamina o governador pela história de vida que ele tem, pelas dificuldades que passou, pelo que ele é. Um cara que veio lá de baixo, do nada, que consegue chegar a governador com muito trabalho, muita simplicidade e muita humildade. Essa votação aumenta a responsabilidade do governador por reconhecimento, é aquela coisa “eu trabalhei, o povo reconheceu, agora eu tenho que trabalhar mais para manter um nível de governo que agrade e seja aprovado pela maioria da população”. Em se tratando de um estado pobre como é a Bahia, eu acho que o governador manterá o seu pulso firme com a gestão. Um traço marcante de Rui é a gestão firme, tanto é que a Bahia ta aí com contas equilibradas, salários em dia, investimentos. É o segundo estado que mais investe no Brasil. Então isso aí a população vai assimilando e ele vai sendo cobrado. Ele gosta de ser cobrado, ele quer fazer mais, ele é inquieto, e eu acho que essa votação histórica aumenta ainda mais a responsabilidade. Eu acredito que ele vai fazer um governo ainda melhor do que o registrado nos primeiros quatro anos.

 

Mesmo antes das eleições de 2018, houve um investimento forte em redes sociais. Você acredita que isso tenha aproximado a figura do governador da população?

Não tenho dúvida. Primeiro o governador determinou um trabalho de comunicação transparente, que a gente prestasse contas a sociedade sistematicamente, da forma mais transparente possível. Uma recomendação do governador desde o final de 2014 é regionalizar. Então a gente aproveitou a determinação do governador, montamos uma equipe que acordou para a necessidade de uma revolução no processo de comunicação digital e regional, a gente fez esse dever de casa. Uma equipe comprometida, e os resultados apareceram. Tenho certeza que essa aproximação e identificação do governador com a sociedade se dá primeiro pela franqueza dele, pela coragem que ele tem de se comunicar, de ficar olho no olho com as pessoas. E com certeza a comunicação digital através das redes sociais é um elemento que contribui, vai continuar contribuindo, é um processo que não para. O governo da Bahia acordou para isso e está evoluindo. Eu acho que a gente passou por um primeiro estado de aprendizado, acredito que passamos no teste, mas tem muita coisa ainda a ser feita.

Foto: Priscila Melo / Bahia Notícias

 

É um novo momento da comunicação estatal?

Total. Quem não acordar pra esse novo momento ta fadado a fracassar na relação com a sociedade. É totalmente diferente. Se você for analisar o comportamento de gestores, o comportamento do estado de uma maneira geral na área de comunicação digital, de quatro anos atrás para hoje é completamente diferente, ela muda. Eu digo sempre que a tecnologia dita os rumos da sociedade. E essas coisas da comunicação digital de mãos dadas com a tecnologia, ela muda os rumos da comunicação. Hoje o estado ele tem que se comunicar, ele tem que acordar para a comunicação.

 

O governador prefere “escolher” os assuntos que vai comentar e evita perguntas espinhosas da imprensa. A comunicação oficial consegue contornar essa estratégia de Rui em ficar calado quando a imprensa pressiona por posicionamentos do governador?

Não. Eu vou me permitir discordar de você. É que a imprensa tem os seus anseios legítimos, naturais e importantíssimos para uma sociedade democrática. E muitas vezes quem está na gestão pública tem um momento pra passar uma informação ou não, porque aquilo ali pode atrapalhar um projeto, até mesmo projeto administrativo. Às vezes a imprensa tem o anseio de saber uma informação que o gestor público tem o seu planejamento de dar aquela informação na hora certa, Rui não. Eu, como secretário de Comunicação, digo que em alguns eventos ele até bagunça, porque ele fala com todo mundo, ele, do caminho, do momento que ele desce do carro até o local do evento, fala com todo mundo e depois reclama com a gente que está desorganizado. E na verdade é a importância que ele da à imprensa, a atenção que ele dá a imprensa, e ele mesmo quer organizar, "primeiro o site, primeiro a televisão". Ele tem essa preocupação de atender bem, é que é legitimo que existam interesses contraditórios as vezes, entre o próprio assessor de comunicação. Eu já estive do outro lado do balcão, na imprensa, e a gente tem um interesse ali. E do outro lado do balcão, que eu estou agora, a gente tem interesse também. Quando os dois se juntam é muito bacana, no conflito ou na harmonia, um respeitando o outro, quem ganha é a sociedade.

 

Rui conseguiu equilibrar o político do administrador ou a comunicação se tornou mais eficiente para que o governador fosse menos alvo de críticas de aliados?

Não, eu repito, eu acho que a comunicação tem um papel de relevância, mas assim, a gente nada mais é do que um prestador de serviço do líder. Quando você tem um líder que equilibra as contas do estado, que consegue fazer uma revolução no quesito investimentos em saúde no Brasil, quando você tem um líder que não atrasa salário diante de um cenário de crise aguda, que desde 2015 a gente está vivendo, as coisas vão ficam mais fáceis para a comunicação. A sociedade reconhece, mesmo adversários reconhecem. O Rui que eu acho que a sociedade entendeu, principalmente as camadas mais populares, é o Rui do trabalho. Rui é um sujeito que é obstinado pelo trabalho, eu acho que a diversão dele é trabalhar. Ele diz que a coisa que ele mais gosta de fazer e estar em casa, e é verdade, aquele paizão, maridão, apaixonado pelas filhas que ele foi ter já na beira dos seus 50 anos, e que ele curte a família e curte trabalhar. Então não vejo Rui como aquele político com ambições de fazer carreira política, as coisas com ele aconteceram naturalmente, ele é um cara obcecado pelo trabalho, só quem tá lá... Quando eu conto bastidores de como o cara trabalha dizem que é mentira, então as vezes a gente fica lá até meia noite, eu chego em casa e digo que tava trabalhando, e minha mulher fala "é claro que eu não acredito". Mas é verdade, a gente trabalha, a gente segue o ritmo com muito prazer. Você vê, quando ele vai entregar uma encosta ele chega chama gente e chora contando o drama de pessoas, porque sabe que a gente não vai conseguir atender e resolver todas as mazelas sociais, então ele sofre com isso, e trabalha pra conseguir melhorar cada vez mais a vida das pessoas.

 

O que dá mais trabalho, lidar com políticos e órgãos estaduais ou com a imprensa reclamando de políticos e órgãos estaduais?

Eu vou responder forma bastante popular: é pau a pau. Mas é normal, a grande questão eu acho que a gente está num processo ainda de amadurecimento, é que a gente tem que conviver com a imprensa. Eu tenho 35 anos de mercado, eu comecei muito cedo. Eu já passei por diversos veículos de comunicação, já passei por agência de publicidade, por secretaria municipal de Comunicação, na capital e no interior, e já fui editor de jornal. Enfim, é muito importante, eu acho que a nossa democracia é muito nova, e as vezes a gente não consegue compreender que a nossa democracia tem muito a aprender ainda. E a imprensa é um alicerce da democracia, então faz parte da imprensa cobrar. E muitas vezes a imprensa não sabe cobrar. Ela recebe a informação e antes de apurar devidamente ela faz uma cobrança, o que é normal, é bom, cabe ao gestor público ir lá e esclarecer. A gente está lá no cargo público para prestar esclarecimento. Obviamente que existe uma estratégia de você passar um plano que você tem, no momento que você julgar certo, mas cabe a imprensas estar ali, alertando. Quantas vezes a imprensa passa a informação correta e alerta para a gente corrigir rumo? Essa questão da imprensa eu adoro, eu adoro conviver. Dá muito trabalho pra atender capital e interior, tem muito ruído, a gente é muito prejudicados pelas fake news. As fakes news são um câncer na comunicação, um câncer que a gente vai saber tratar gradativamente. Vai saber tratar quando a gente tiver um amadurecimento que nos leve a percepção de que as fake news é um perde-perde, todo mundo perde. E com relação ao dia a dia do órgão público, a gente tem que lutar para que cada vez mais a gente aumente o nosso compromisso principal, que é o compromisso de servir à sociedade e ser transparente. Essa coisa do cargo público é muito passageira, se engana quem acha que não. Você está e ao mesmo tempo você não está. Mas o verbo é sempre estar, você não é, aquele cargo não lhe pertence, no período que você tiver ali você tem que servir a sociedade. Você é pago pela sociedade para servir a sociedade.

 

Normalmente quando se fala em apertar os cintos em empresas e órgãos públicos, a área de publicidade/ marketing é uma das primeiras a ser afetada. Nessas horas, é preciso fazer mais com menos. Como a comunicação estatal da Bahia se comportou nesse período de “crise”?

Os políticos gostam da comunicação quando a comunicação está do lado deles, ou seja, se eu sou aliado de um gestor e o gestor determina um investimento, orçamento X em comunicação, aí eu aplaudo. Se eu não sou do lado eu critico. É um ciclo ruim, mercado sai perdendo com isso. A comunicação ela é colocada no orçamento público, e entra ano e sai ano, isso é sistemático, isso é transparente, é legal, e faz bem ao mercado. Porque o poder público, como em todas as áreas, é um importante player do mercado. Nós estamos dando entrevista para o Bahia Notícias, é importante que o Bahia Notícias tenha verba pública, assim como a televisão, como o rádio, como os jornais impressos, que passam por um momento crítico. A gente precisa tratar isso de uma forma madura, eu acho que a gente não amadureceu em relação a isso. Mas vivemos, passamos pela crise, lutei pelo orçamento, lutei por suplementação orçamentária, e na maioria das vezes obtive um não do governador, pelas circunstâncias, ele deu não pra todo mundo. Pelas circunstâncias do momento mesmo. De a gente não ter como suplementar. Então a gente tem que fazer, efetivamente, com muito menos você tem que tentar fazer mais. Aí entram, de novo, as novas ferramentas. Você ter uma estratégia nova de fazer comunicação. Eu fui muitas vezes criticado "ah não ta fazendo comunicação", porque eu não estava fazendo na capital, eu tava fazendo em outras cidades, porque era uma comunicação segmentada, e que muitas vezes a comunicação segmentada vai surtir um efeito muito maior do que a comunicação macro, é isso que as pessoas precisam acordar. Mas repetindo, eu fico muito triste porque de uma maneira geral a sociedade, e a imprensa é incluída, não amadureceu pra essa questão da comunicação pública, ela é sempre tratada como clichê, como motivo de crítica. Eu canso de ouvir as pessoas falando "poxa, gasta X com publicidade", mas ali não é invenção, é um orçamento público que está ali, que é aprovado pela Assembleia, e que efetivamente você precisa comunicar. Ou então você diz o seguinte, não existe verba publicitária, acaba com a questão da verba publicitária e ponto final. Agora existe, é legal, é moral. Agora essa questão da publicidade, da propaganda, ela é tratada de uma forma política eleitoreira. Uma pena, porque a gente perde, a sociedade e o mercado perdem de maneira geral.

 

Na primeira gestão, a marca “Correria” ficou muito evidente e acabou incorporada em diversas situações pelo governador. A partir de 2019 vai começar uma fase Muricy Ramalho ou o slogan não teve essa intenção?

(Risos) Não, o slogan foi natural. É engraçado o seguinte, quem criou o nome "Correria" foi o povo. Não foi a secretaria de Comunicação, não foi este ou aquele publicitário, esta ou aquela agência. Foi o povo. Começou por causa daquele ritmo que ele tem, de viagens, um ritmo bastante agudo de viagens, e aí ele sai andando e o pessoal começou a dizer que ninguém acompanhava, que era correria pura, e foi pegando isso. Foi uma marca que pegou porque o cara é realmente correria. Ele tem um ritmo de trabalho alucinante. Pegou. Agora é um novo governo, mesmo sendo um governo de continuidade. E como todo governo de continuidade a gente tem que tomar os cuidados necessários para inovar sempre. Então se você for observar, a logo do governo ela sofreu uma mudança bastante significativa, o slogan do governo foi completamente modificado, justamente pra você dar a ideia de que o governo não parou, é um novo governo. A gente tem que se superar na criatividade, seguindo o ritmo do correria, pra gente ser mais criativo na comunicação para não parecer mais do mesmo. Tem que ser mais audacioso na comunicação, tem que continuar buscando novos caminhos de comunicar. A gente tem que manter a humildade de ouvir a sociedade pra saber o que a sociedade está pensando. A partir do momento que Rui ganhou a eleição a gente já começou a pensar em novos formatos, e gradativamente os formatos vão aparecer com muita verdade. Comunicação alicerçada na verdade é o segredo.