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Entrevista

Luiza Maia prevê relação difícil entre Rui Costa e Jair Bolsonaro: 'Ele é uma pessoa louca' - 29/10/2018

Por Lucas Arraz / Guilherme Ferreira

Luiza Maia prevê relação difícil entre Rui Costa e Jair Bolsonaro: 'Ele é uma pessoa louca' - 29/10/2018
Fotos: Bahia Notícias

A secretária estadual de Desenvolvimento Econômico, Luiza Maia, prevê que o governador Rui Costa tenha um diálogo difícil com o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Na avaliação dela, feita ainda antes do segundo turno deste domingo (28), a Bahia pode ter problemas para ter acesso a recursos e ganhar investimentos da mesma forma que enfrenta durante a atual gestão de Michel Temer.

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, a deputada estadual licenciada também fez duras críticas a Bolsonaro pela sua postura diante de pautas relacionadas às minorias sociais. "Eu não tenho dúvidas", disse a secretária, ao ser questionada sobre as dificuldades no diálogo entre os governos estadual e federal. "Ele é uma pessoa louca, uma pessoa completamente fora da época", afirmou.

 

"Quando derrubamos a ditadura avançamos tanto na democracia e nós estamos num momento de defender a civilidade. O homem está defendendo a barbárie, a desorganização da sociedade, a violência, armar todo mundo e um bocado de pautas loucas", criticou Luiza.

 

Apesar de não ter sido candidata a deputada estadual neste ano, a secretária ressaltou que isso não significa que ela vá deixar a política. Ela explicou que defende a tese de que deputados estaduais não devem passar mais de dois mandatos na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA). "Ali é uma zona de conforto que você passa dois mandatos e você tem que voltar pra vida real", argumentou.

 

Ao falar sobre seu futuro na política, Luiza Maia apontou que tem a intenção de ser prefeitura de Camaçari nas próximas eleições municipais. No entanto, ela admitiu que o nome do ex-marido Caetano, eleito deputado federal este ano, ainda é mais forte do PT na cidade. "Eu botei meu nome lá no PT para ser candidata, mas Caetano está mais forte. Não tem problema nenhum, se meu nome não crescer eu apoio ele, ele é nosso líder", afirmou.



A senhora sempre defendeu questões ligadas à mulher. Como o comando da senhora na SDE tem convergido com questões como a ampliação da atuação feminina na indústria, no setor de comércio, e o fortalecimento do empreendedorismo feminino?
A gente tem feito esse debate principalmente com o Sebrae. Assinamos um convênio, uma parceria para ajudar os pequenos e médios empresários e eu acredito muito também numa outra economia: uma economia solidária, de cooperação. A gente tem uma superintendência que cuida exatamente dessas áreas. Eu me lembro que quando cheguei o pessoal ficava brincando: 'Ah, você vai cuidar dos ricos'. Aí a gente viu também que precisava ter uma atenção maior para essa área do desenvolvimento produtivo, que é uma outra forma de você produzir e de você distribuir o que você produz sem ser com uma grande empresa. A grande empresa vem muito automatizada, vem gerando poucos empregos, mas cria também uma cadeia de empresas em torno dela que acaba ajudando no desenvolvimento dela. Eu já moro há mais de 40 anos em Camaçari e quando eu fui pra lá tinha 16 mil habitantes, e agora, depois do Polo, tem 300 mil. Uma coisa vai puxando a outra: era um polo petroquímico, hoje é um polo industrial porque chegaram a Ford e outras empresas de outros ramos. A gente tem um número grande de mulheres na secretaria. Pra fora da secretaria, como empresárias, temos um estudo que aponta um levantamento razoável de mulheres empreendedoras. Não fizemos um diálogo mais amiúde com elas, mas a gente sempre está olhando. No lançamento da semana do empreendedorismo, promovida pelo Sebrae, a secretaria foi convidada e a gente fez uma fala também nessa direção. E a secretaria está aberta também para fazer essa discussão com as empresárias, principalmente a pequena e a média, onde a gente vê que o número de mulheres é alto. Em outras grandes empresas, os cargos maiores ainda são uma questão que se discute. A gente discute muito também não só a participação nas empresas, mas também a participação da mulher nos espaços de poder, no poder público. Somos só seis secretárias, de vez em quando a gente se reúne para trocar umas ideias. Na época do Programa Participativo de Governo do nosso governador uma das questões que foi levantada foi a questão da paridade nos espaços de poder. No privado você pode introduzir essa discussão, mas não é uma coisa muito simples. No público a gente fez esse debate inclusive com o governador e ele falou que não tem nenhum problema. O problema é que, na hora de montar o governo, os partidos que o apoiam é que indicam os nomes para os espaços que têm direito. A gente estava pedindo a paridade e ele falou que é só discutir com os presidentes de partidos. A gente tem feito esse trabalho, essa discussão, porque ainda é pequeno em relação ao homem. Além de ganhar menos, mesmo tendo a mesta função, não é um espaço muito aberto. Eu digo sempre que as mulheres estão muito atrasadas em relação ao conhecimento e à posição do homem na sociedade, porque os homens hoje discutem economia, meio ambiente, e outros assuntos mais importantes, enquanto as mulheres ainda ficam brigando por seus direitos básicos: direto de viver sem violência, direito de ganhar igual ao homem. E o machismo é cruel. Ele não abre as portas para que você acabe com essa desigualdade.

 


O agronegócio baiano se reuniu na última semana com o presidente eleito Jair Bolsonaro, enquanto se fala que a conversa entre o governador Rui Costa e o capitão pode ter seus percaços. Como a senhora acredita que fica a relação do governo federal e o governo estadual com Bolsonaro presidente para o desenvolvimento da agricultura aqui no estado?
Pra mim, ele [Bolsonaro] é o anti-candidato. Eu tenho 66 anos, faço política desde os 13, e nunca vi uma coisa tão estúpida na minha vida para uma postura de um candidato à Presidência. Um homem que ameaça seus opositores, um homem que fala o que fala das mulheres, que tem a postura que tem com os negros, com a comunidade LGBT...

 

Mas você acredita que essa conversa entre Rui e Bolsonaro poderia dificultar os investimentos no estado?
Não tenha dúvidas. O Temer tem feito isso. Você vê as dificuldades que eles criam, as posturas de impedir recursos que o estado tem direito. O próprio prefeito faz também pressões lá em Brasília para que as coisas não aconteçam. Então eu não tenho dúvidas, porque eu acho que ele não é republicano. Ele é uma pessoa louca, uma pessoa completamente fora da época. Quando derrubamos a ditadura avançamos tanto na democracia e nós estamos num momento de defender a civilidade. O homem está defendendo a barbárie, a desorganização da sociedade, a violência, armar todo mundo e um bocado de pautas loucas.

 

A existência de terras improdutivas foi uma das principais críticas feitas pelo ex-candidato ao governo do estado, João Santana, para Rui Costa. Existe o plano de expandir a celebração de contratos para exploração de terras aqui na Bahia?
Isso não é da minha secretaria, mas eu tenho uma opinião sobre essa questão: a gente precisa fazer reforma agrária nesse Brasil. O mundo já fez. O país tem terras demais. A questão da reforma agrária, mesmo os governos que eu apoiei e eu acreditei pecaram sobre isso. Dilma principalmente. E não é justo você ver a pessoa querendo um pedaço de terra para viver, para sustentar sua família, e tanta terra concentrada nas mãos de poucos, muitas inclusive griladas, e as pessoas tendo que fugir do seu interior por falta dessa política. Eu sou uma defensora da reforma agrária e acho que os movimentos de trabalhadores rurais precisam fazer a pressão, porque a gente sabe que existe uma disputa. O grande latifundiário fica nervoso inclusive quando se fala da reforma agrária.

 

Passa pela SDE quando alguma empresa quer investir em determinada terra. Esse tipo de projeto vai ser ampliado?
Vai, não tenha dúvidas. O Tribunal de Contas fez uma exigência para a gente ter uma lei aprovada na Assembleia Legislativa da Bahia que facilite. Antigamente o critério era muito confuso e tinham alguns programas em que os empresários não pagavam praticamente nada pela área. Hoje não, o governador acha que tem que ser próximo ao valor de mercado. Acredito também que na semana que vem a gente aprove uma resolução fazendo uma tabela de preços para as áreas a depender do seu valor, do município, da situação. Cada uma tem um preço e tem muita procura dos empresários. Nenhum investidor vem para o estado ou para o país se ele também não tiver um certo apoio. Se for tudo do seu bolso é mais complicado.

 

 

O governo quer regularizar bens imóveis da Sudic [Superintendência de Desenvolvimento Industrial e Comercial] colocando, para além de ter finalidade de comércio e indústria, fins de serviço. Por exemplo, um posto de gasolina ser abrigado em um terreno da Sudic. O que a senhora acha dessa medida do governador?
Depois da aprovação da lei, isso é possível. As áreas da Sudic estão mais destinadas à indústria. Tivemos recentemente um pessoal em Itapetinga que queria ocupar um galpão que era da Sudic para um comércio de depósito de bebidas, mas o governador não aceitou. Mas eu acho que pode se adequar também. Em uma área industrial você colocar um comércio não é nem adequado, mas vejo com bons olhos.

 

Gostaria que a senhora fizesse um balanço sobre a aplicação e a fiscalização da Lei Antibaixaria aqui no estado.
É uma confusão, viu? Mas acho que foi positivo. Naquele momento, se a gente não tivesse tido a coragem de fazer aquela discussão...eu fui muito criticada. Colocaram todo tipo de defeito no projeto, mas precisava que alguém levasse essa discussão para a sociedade. Foram muitos artistas, que fazem outro tipo de música, que vieram me agradecer e participaram da campanha. Realmente estava uma coisa estúpida, não se tinha mais melodia. A Bahia que foi o berço cultural de tantos artistas de músicas boas virar aquela coisa do pagode. E não era só o pagode. Tinha o forró, o rock também, que tinham como único objetivo desmoralizar as mulheres, agredir as mulheres, incentivar a violência contra as mulheres. A gente teve muita paciência, muita capacidade de ouvir a sociedade. Fiz mais de 200 entrevistas, debates em universidades, igrejas, praças, em qualquer lugar. Algumas pessoas ficavam com a história que a gente queria resgatar a censura, que a gente queria impedir a liberdade de expressão. Nada disso. O debate central do projeto era o dinheiro público não financiar aquele tipo de produção que criava um constrangimento e um desgaste muito grande para as mulheres, principalmente porque esse mesmo governo estava investindo no resgate da cidadania da mulher, no combate à violência contra mulher. A Lei Maria da Penha foi sancionada por Lula, então as mulheres passaram a fazer parte da pauta do governo federal e isso irradiou para os estados e municípios.

 

Existe alguma auto-crítica que a senhora faz hoje ao projeto?
Não, da parte nossa não. Quando a gente apresentou, parece que foi a tábua de salvação para as mulheres que andavam constrangidas e sem achar uma saída para isso aí. Eu mesmo quando fui apresentar o projeto, eu ainda era casada com Caetano e o pessoal disse: 'Ah, Caetano, diga a Luiza que pare com isso porque vai perder voto porque essa galera arrasta multidões'. Primeiro que eu não vejo a política como uma coisa que você vai atrás de voto o tempo todo. Eu sou educadora e acho que a política é também para você educar as pessoas. Aquilo estava uma deseducação, um incentivo à violência que não tinha cabimento. Tinha que fazer a discussão. Eu não faço auto-crítica. Eu acho que a gente ainda tem alguns problemas. Até hoje a lei não foi regulamentada. Já pedi, tem mais ou menos um mês que eu falei com o nosso secretário Bruno Dauster, da Casa Civil, e ele falou: "nós vamos regulamentar". Mas a regulamentação não impede a lei de ser aplicada. E a gente sabe que nos contratos com a Bahiatursa e a Secretaria de Cultura tem cláusulas dizendo que não se canta música agredindo a mulher, incentivando a violência, desmoralizando as mulheres...mas você sabe que no Carnaval cantam, né? Teve uma polêmica lá em Camaçari comigo e com Luiz Caldas que ele danou comigo porque a gente combinou com ele que não cantasse aquela música 'Nega do Cabelo Duro', porque aquilo é um desrespeito com os negros. No final do show em um festival de jazz e blues de Arembepe ele falou: 'Ah, pediram para não cantar, mas a música marcou época. Canto ou não canto?'. E o povo: 'Canta!'. Ele cantou, perdeu 30% do cachê e danou. Foi um inferno comigo.

 

A senhora ficou de fora da campanha de reeleição, sendo uma das vozes mais atuantes da Assembleia na defesa dos direitos das mulheres. A senhora não fica preocupada com a representatividade feminina no parlamento quando uma deputada como a senhora se afasta?
Eu fico, mas a gente também tem que ponderar as coisas. Isso era um projeto meu e do senador eleito Jaques Wagner, de cada parlamentar nos vários níveis ter direito de participação de dois mandatos. Nós perdemos isso dentro do PT, mas eu não posso ter na prática ter uma atitude diferente da que eu acredito e do que eu acho que é correto. Tem gente lá que tem dez mandatos e quarenta anos na Assembleia, mas eu discordo. Acho que tem que ser dois mandatos. Sei que realmente a gente faz a defesa da maior presença das mulheres na política, o que não é fácil. E não é pelo fato de não ser mais deputada que eu vou calar minha voz. Ali é uma zona de conforto que você passa dois mandatos e você tem que voltar pra vida real. E nesse momento que o país está vivendo tão complicado, o que eu quero é voltar para minha sala de aula no meu município para a gente ajudar a educar as pessoas.

 

 

Quais são os planos da senhora para 2020, sobretudo para Camaçari?
Eu botei meu nome lá no PT para ser candidata, mas Caetano está mais forte. Não tem problema nenhum, se meu nome não crescer eu apoio ele, ele é nosso líder. Ele agora teve 40 mil votos para deputado federal no nosso município. É uma pessoa que eu respeito muito. Nós separamos, não somos mais casados, mas como político é uma pessoa que eu admito muito pela sua coragem, pelo seu trabalho.

 

Existe um cenário em que sua candidatura seria apoiada por Caetano?
Ele diz que não tem problema nenhum não. O PT funciona assim: qualquer pessoa pode colocar o nome para qualquer cargo, mas na hora das decisões o partido debate e vê quem é o melhor. Brigam muito, mas depois se entendem. Muitas pessoas ficaram achando que eu tinha saído da política. Eu só não fui candidata a deputada estadual.