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Entrevista

Candidato do PCO ao governo coloca a falta de politização como o maior problema do estado - 01/10/2018

Por João Brandão / Guilherme Ferreira

Candidato do PCO ao governo coloca a falta de politização como o maior problema do estado - 01/10/2018
Fotos: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias

O candidato ao governo da Bahia pelo PCO, Orlando Andrade, avalia que o maior problema do estado é a não politização da população. Ele indicou que, caso saia vencedor nas urnas, vai buscar atrair as pessoas para a discussão política, e culpou a "eleição burguesa" pela sua pouca visibilidade diante do eleitorado.

 

"Vivenciamos um cerceamento do direito democrático no Brasil e esse cerceamento é exatamente para afastar a população das decisões e das discussões que devem ser feitas, tanto no Brasil como na Bahia", comentou Andrade em entrevista ao Bahia Notícias. Ele ressaltou que dentro do próprio PCO as decisões são tomadas em conjunto e com a participação dos militantes.

 

Natural de Feira de Santana, onde foi candidato a vice-prefeito em 2016, Andrade também comentou o fato de, em Salvador, ter aparecido com mais intenções de voto que Zé Ronaldo, ex-prefeito de Feira de Santana. "É uma demonstração também que a população entende a necessidade de fazer mudança", avaliou.

 

Ao Bahia Notícias, o candidato do PCO ao governo também criticou o formato atual da eleição ao falar sobre a propaganda eleitoral na televisão."A caracterização da eleição burguesa é que o Partido da Causa Operária só tem sete segundos. Em sete segundos não dá nem pra falar o nome praticamente", reclamou.

 

Por outro lado, Andrade disse que os problemas financeiros também têm seu lado positivo no PCO. "As nossas dificuldades são financeiras, e isso até nos favorece na verdade. Atrapalha, mas nos favorece. Por ser um partido operário, que não tem vínculos e vícios com empresas e empresários que controlam os partidos burgueses, nosso partido é controlado pelos próprios trabalhadores, pelos próprios militantes", disse.

 

Qual o maior problema do estado e qual seria a solução?
O maior problema do estado é a não politização das pessoas. É a característica da população não ter um papel importante na política estadual, como também na nacional. Vivenciamos um cerceamento do direito democrático no Brasil e esse cerceamento é exatamente para afastar a população das decisões e das discussões que devem ser feitas, tanto no Brasil como na Bahia.

 

Qual seria a solução?
A solução seria atrair a população, levantar a discussão política, mostrar o que está acontecendo hoje. Existe um grande controle de grande parte da mídia, e um controle econômico das eleições e isso interfere diretamente nos direitos da população. Uma demonstração clara disso é o direito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não ser candidato a presidente, sendo que ele tem a maioria dos votos no país. E aqui na Bahia não é diferente.

 

Qual o diferencial da sua candidatura para as demais?
O PCO não é só um candidato solto. Não é uma questão da candidatura de Orlando Andrade, meus projetos e minhas propostas. É um programa partidário nacional altamente discutido e estudado por muito tempo. Ele vem sempre sendo evoluído. A gente estuda isso e quer a participação da população. Os conselhos populares são o que melhor caracteriza nosso programa, que é a efetiva participação da população nas escolhas e no que deve ser feito nos governos e o que o Estado diretamente para a melhoria da qualidade de vida de todos.

 

Em quem o senhor vai votar para presidente da República e por quê?
Nosso processo de decisão, como falei anteriormente, é um processo que visa uma situação de centralismo democrático. No nosso partido funciona o partido centralizado, não são decisões soltas. Não é Orlando, não é Adroaldo, candidato a senador, não é Edson Dorta, candidato ao governo do estado de São Paulo, que decide o que vai fazer. É a partir de um plano, é a partir de um estudo, a partir de uma discussão e tudo é decidido em conjunto. No nosso partido funciona desse jeito. A nossa proposta é que tudo evolui, tudo é discutido em conjunto. Só assim a gente chega a um resultado favorável para todos.

 

Mas qual é o seu candidato a presidente?
Acabei esquecendo desse detalhe. A gente faz várias conferências nacionais e estaduais e foi aprovado em conferência o apoio incondicional à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, que é a única pessoa que seria capaz de mobilizar os trabalhadores do Brasil, uma candidatura que seria extremamente popular. Com o cerceamento da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, o que demonstra o caráter antidemocrático, e a saída do PT em buscar um plano B, não apoiamos nenhum candidato. Estamos livres de apoio. Na verdade, nem eu, nem nenhum candidato do PCO vamos apoiar nenhum candidato a presidente.

 

Você não enxerga Haddad como o plano B de Lula, como se fosse o Lula, como o PT frisa na campanha?
Não. Haddad não é Lula. A experiência, a característica, a origem de Haddad...Haddad tem origem entre professores. Lula tem característica de ter origem entre os trabalhadores, metalúrgicos, operários. E a centralização do candidato Lula na população é muito ampla, ao contrário do que Haddad significa para a população.

 

Diferente dos demais candidatos, o senhor não faz parte de um grupo político amplamente reconhecido. Como transpor esse desafio?
As nossas dificuldades são financeiras, e isso até nos favorece na verdade. Atrapalha, mas nos favorece. Por ser um partido operário, que não tem vínculos e vícios com empresas e empresários que controlam os partidos burgueses, nosso partido é controlado pelos próprios trabalhadores, pelos próprios militantes. As decisões são feitas por todos os militantes e isso nos traz o direito e a liberdade de escolher as coisas. Não é à toa que eu, Orlando Andrade, carteiro, negro, sem muita experiência nesse jogo - o que é até favorável, porque esse jogo é sujo - sou candidato a governador do estado da Bahia. Num partido burguês ou pequeno-burguês isso seria inadmissível porque o partido é controlado por empresários, o partido é controlado pela questão financeira, pela questão econômica.

 

Uma pesquisa Ibope indicou que o senhor está na frente de Zé Ronaldo aqui em Salvador. A sua candidatura é maior que a de Zé Ronaldo aqui na capital baiana?
Em questão de recursos e trabalho a gente tem muita dificuldade. Sou de Feira de Santana também, sou de um bairro da periferia de Feira de Santana e a gente sabe das dificuldades. Mas é uma demonstração também que a população entende a necessidade de fazer mudança. Mesmo com pouco espaço, como aqui no Bahia Notícias, é demonstrado que a população tem interesse na mudança. O que acontece é o controle das grandes mídias sobre quem deve ser candidato ou não, e quem a população deve reconhecer como candidato.

 

Sua candidatura foi colocada aos 45 minutos do segundo tempo e sem muito alarde, surpreendendo quem vinha acompanhando todo processo de definição de candidaturas ao governo. Sua candidatura foi um improviso, apenas para que o PCO marcasse terreno?
Jamais, nada do PCO é improvisado. Tudo é amplamente discutido. A minha candidatura não foi improviso, não é que ela não foi programada, ela foi programada. Nós discutimos isso ao longo do processo. Eu fui candidato a vice-prefeito em Feira de Santana na eleição de 2016. Isso demonstra que o partido é cerceado do direito à mídia. A mídia exclui os candidatos e expõe os candidatos que eles querem. O problema não é que foi improvisado, mas na verdade não foi anunciado. Cercearam nosso direito de ir a público e apresentar nossa candidatura e nossas propostas. As pessoas não reconhecem muitas coisas do PCO, mas pela dificuldade de acesso.

 

O PCO está revisando suas teorias e indo para um centro menos radical da esquerda?
Não, pelo contrário, o PCO vem evoluindo. Na verdade, o que a gente está conseguindo é crescer. O PCO cresceu muito no último período, principalmente na luta contra o golpe. O PCO é o único partido que luta efetivamente contra o golpe desde 2014. O PCO que anunciou o golpe, antes do Mensalão, antes da derrubada de Dilma, antes da eleição de 2014. Foi o PCO que anunciou que Dilma ia ser derrubada, o PCO anunciou que iam prender Lula. A nossa política acertada vem trazendo uma evolução pro partido. Não é à toa que em questão de números, de porcentagem, somos o partido que mais cresceu no último período. O que tem acontecido é a demonstração da política correta que o PCO vem fazendo ao longo do tempo e a compreensão das pessoas da política que o PCO defende.

 

O senhor foi candidato a vice-prefeito de Feira de Santana em 2016 e a gente fez um comparativo. Em 2016 o senhor apresentou um village de R$ 30 mil e esse ano o senhor não apresentou nada. O que foi que aconteceu?
Na verdade esse village é financiado e uma mudança que aconteceu na questão eleitoral é que os imóveis e bens financiados - isso foi passado pra mim - não devem ser declarados porque na verdade não te pertencem, pertencem ao banco. O que aconteceu foi uma mudança contábil.

 

Mas o senhor já concluiu esse financiamento?
Não, ainda continuo. Se eu tivesse concluído esse financiamento, ele entraria contabilmente. É uma mudança contábil. Eu não sei se foi um erro do contador anterior. Na verdade a gente não entende muito bem disso, mas é uma questão técnica. Se você tem um carro financiado, esse carro não te pertence, então você não pode declarar esse carro como seu. Na verdade esse carro é do banco. Essa é diferença que ocorreu.

 

Então ocorreu um erro em 2016 ao lançar o imóvel?
É isso. Não sei se em 2016 foi um erro ou a legislação mudou. Ou um erro ocorreu em 2016 e foi lançado indevidamente ou a legislação mudou e agora só pode declarar os imóveis que são realmente seus.

 

A gente viu que o senhor entregou uma certidão de descompatibilização de cargo, o que não se repetiu esse ano. O que foi que aconteceu? O senhor saiu, pediu afastamento naquela época e não voltou mais ou não entregou essa certidão?
Eu entreguei a certidão esse ano também. Na verdade, se você não entregar a certidão de descompatibilização você fica inelegível. Por ser funcionário público - sou trabalhador dos Correios, uma categoria que sofre há muito tempo, com perdas salariais, ataques ao plano de saúde, entre outras coisas - a gente é obrigado a sair do trabalho, pedir licença antes dos três meses. Assim como na eleição de 2016, eu saí e pedi a descompatibilização. Essa documentação está salva, até porque, se eu não pedir o termo de descompatibilização e continuar trabalhando, eu fico inelegível. E se eu deixar de trabalhar sem pedir a descompatibilização, vou sofrer faltas e posso sofrer um processo até de perda de emprego.

 

A causa operária anda em baixa há algum tempo nas eleições. Você acredita que há algum descrédito com o tema no ambiente político?
O Partido da Causa Operária não é meramente eleitoreiro. Ele não é como os outros partidos que só funcionam no período da eleição e montam chapas só para eleger pessoas. O Partido da Causa Operária é um partido político 365 dias por ano. Nós atuamos politicamente o ano inteiro e o tempo todo. De 2016 pra cá eu não estava parado esperando a eleição chegar. A gente trabalha com o processo de informação e politização da área. Atuamos na área sindical, atuamos na área popular, atuamos em todos os âmbitos e estamos nas ruas o tempo inteiro. Não é à toa que se você perguntar aos transeuntes de Feira de Santana, eles vão te falar que toda semana o Partido da Causa Operária estava no centro da cidade panfletando e discutindo alguma coisa. O que acontece é que existe um grande afastamento da população e isso até facilita os partidos burgueses porque despolitiza a eleição. E o que queremos é o contrário, queremos politizar a eleição, levantar a discussão e trazer a política à tona. Não só para essa eleição, porque a eleição vai passar, mas a política continua. Os problemas vão continuar e o Partido da Causa Operária vai continuar. Na próxima semana, depois do dia 7, vamos continuar nas ruas, seja qual for o resultado, mas implementando a política do partido e explicando a política do Partido da Causa Operária para a população.

 

O senhor aparece muito pouco nas propagandas de TV. Como o senhor espera se tornar conhecido e divulgar a pauta do PCO sem essa ferramenta?
Não é que o partido não queira utilizar essa ferramenta. Primeiro que a caracterização da eleição burguesa é que o Partido da Causa Operária só tem sete segundos. Em sete segundos não dá nem pra falar o nome praticamente. Fora isso, as condições de tempo de TV e as condições econômicas do partido esbarram nessa questão burguesa. A gente tem grandes dificuldades e uma delas é econômica: conseguir implementar a política dentro de um regime que a gente sabe que é anti-democrático. A gente sabe que a eleição tem um caráter amplamente anti-democrática e ficamos cerceados do tempo de TV. Para ter uma ideia, não participamos de debates, muitas rádios não nos chamaram para entrevista, então é um fechamento de portas para o Partido da Causa Operária.

 

O senhor concedeu entrevista recentemente para a TV Bahia e quando foi questionado se estava preparado para ser governador do estado o senhor falou: 'Tranquilo'. Como o senhor pode garantir que vai ser tranquilo administrar o estado com o maior número de homicídios do Brasil, com mais de 1,1 milhão de desocupados, entre outros problemas?
Minha tranquilidade se dá ao nível da política do PCO, porque a política do PCO a gente sabe como fazer, a gente sabe o que deve ser feito. O PCO tem um programa amplo e é um programa estudado. Primeiramente, a discussão do PCO traz à tona a questão dos conselhos locais, a questão de chamar a população para decidir perante as coisas. Não existe ninguém que entende mais de saúde pública que os trabalhadores da saúde pública, do SUS e os usuários do SUS.