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Entrevista

Anselmo Brandão garante revista de todos os foliões que curtirem Carnaval - 20/02/2017

Por Estela Marques / Luiz Fernando Teixeira / Guilherme Ferreira

Anselmo Brandão garante revista de todos os foliões que curtirem Carnaval - 20/02/2017
Fotos: Tiago Dias / Bahia Notícias

O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Anselmo Brandão, garante que todos os foliões que entrarem nos principais circuitos do Carnaval serão revistados nos portões de segurança. Ao todo, 46 pórticos com detector de metais serão instalados em Ondina, na Barra, no Campo Grande e no Pelourinho. Na avaliação do coronel, a ferramenta foi bem avaliada já em 2016. "Todas as pessoas serão abordadas. A depender do fluxo, podemos acelerar a abordagem, fazer revistas mais rápidas. Mas a depender do horário, serão abordagens minuciosas. O resultado já foi alcançado no ano que passou com uma redução significativa de ocorrências envolvendo objetos cortantes e armas", explica Brandão em entrevista concedida ao Bahia Notícias. Ele também assegura que apesar da operação especial para o Carnaval, os bairros de Salvador sem festa e os municípios do interior não ficarão desprotegidas: "a cidade não sofre solução de continuidade nas suas ações". O comandante-geral da PM também comentou sobre as condições de trabalho da categoria e descartou, no momento, a possibilidade de um movimento de greve como aconteceu no Espírito Santo. "Não tem clima, não tem espaço. A tropa hoje é consciente, sabe o esforço que nós estamos fazendo", disse. Brandão justifica que nos dois últimos anos houve avanço nas gratificações pagas aos policiais, além de investimentos na capacitação e em equipamentos para segurança.

O contingente policial foi um dos argumentos usados pela SSP para criticar ações da prefeitura a respeito do Carnaval, como a festa que vai acontecer na terça-feira. Qual foi a estratégia usada pela corporação para reforçar o policiamento nos circuitos oficiais, sem deixar que as demais áreas da cidade e municípios do interior não fiquem descobertas?
O Carnaval é uma festa na qual trabalhamos em regime especial, ou seja, usamos parte do nosso policiamento ordinário para proteger os locais e a cidade não sofre solução de continuidade (quebra de continuidade) nas suas ações. Além disso, o serviço no Carnaval é todo remunerado. Talvez seja uma das únicas polícias no Brasil em que nós pagamos a hora do policial no exercício da sua atividade quando ele não está no policiamento ordinário. Essa é a estratégia usada há vários anos e este ano vamos usar o mesmo mecanismo.
 
Para 2017 tem alguma novidade no planejamento da corporação?
A novidade, como foi nos dois anos anteriores, são os portais de segurança, os pórticos que dão acesso à festa. Este ano estamos com a mesma quantidade, são 46, e vamos utilizar câmeras em cada pórtico. Haverá tolerância zero no acesso das pessoas que adentrarão o circuito da festa. Todas as pessoas serão abordadas. A depender do fluxo, podemos acelerar a abordagem, fazer revistas mais rápidas. Mas a depender do horário, serão abordagens minuciosas. O resultado já foi alcançado no ano que passou com uma redução significativa de ocorrências envolvendo objetos cortantes e armas.
 


Em relação às áreas da cidade que não estão no circuito, como vai ser o policiamento durante o carnaval?
Como eu coloquei anteriormente, elas não vão sofrer solução de continuidade. Pelo contrário, vão receber reforço, porque no período do Carnaval nós teremos corredores de tráfego com a operação 'Folia em Paz'. Consiste em colocar viaturas em todos os corredores de tráfego, em todos os grandes terminais, para evitar vandalismo. Até o índice de assalto a coletivo realmente cai bastante nesse período.
 
No ano passado houve reclamações de que um grande número de policiais iria para a reserva remunerada, o que poderia causar um desequilíbrio no contingente da ativa. Qual é a realidade do efetivo policial da corporação hoje?
Realmente houve uma grande quantidade de policiais se aposentando. Mas nós não só abrimos concurso, como também contratamos. A nossa previsão era de pouco mais 1.900 policiais se aposentarem. Esse ano, até agora, só temos 1.250. Mas nós recrutamos 1.850, então estamos com um superávit de policiais. A nossa proporcionalidade é essa. Por sermos uma corporação com 30 anos de serviço, a cada ano a gente perde um contingente de policiais.
 
O concurso anunciado pelo governador Rui Costa vai suprir as necessidades de contingente da PM?
A gente trabalha com o real e o ideal. O ideal é atingirmos a nossa previsão de 44 mil policiais. Hoje nós estamos com 32 mil, mas com esse concurso com certeza vamos oxigenar e potencializar o policiamento. São 2.750 vagas para bombeiros e policiais militares, 60 oficiais... então acreditamos que descontando quem vai para a reserva, vamos ficar com um superávit por ano de mil policiais.
 
Em 2017, assim como nos últimos anos, chama a atenção o aumento no número de mortes de policiais. Isso pressiona de alguma maneira os agentes que estão atuando na rua?
O aumento é decorrência da sociedade muito violenta em que vivemos. E o primeiro ator que se depara com ela é o próprio policial. No momento em que o policial, mesmo fora de serviço, se depara com pessoas portando arma e fazendo opção pelo crime, existe a reação na sua defesa e na defesa da sociedade. E, às vezes, o policial é vitimado na reação. Tanto que esses episódios que aconteceram esse ano e no ano passado geralmente foram nessas circunstâncias. É o policial dentro do coletivo, sendo abordado por marginais, e na sua defesa, na defesa das pessoas, ele reage. Isso tudo leva o policial a ficar mais exposto.

 
Como fica o clima dentro da corporação com essa realidade?
Um clima de suspense. Ninguém gostaria de ver nossos colegas sendo vitimados da forma como estão. Mas os policiais são muito conscientes dessa questão. Tanto que este ano eu alterei uma portaria para que o policial tenha mais espaço para adquirir uma arma, até uma arma de grosso calibre. O policial novo só podia comprar uma arma 380, agora ele pode comprar uma .40. Mandei também os nossos comandantes, observando os critérios de segurança do policial e sua forma de atuar, que eles carreguem arma para que eles possam se defender no seu deslocamento para a residência. E orientando os nossos policiais para evitarem locais de risco, já que eles são pessoas muito visadas por conta da atividade que desempenham.
 
A corporação tem algum tipo de acompanhamento psicológico dos policiais?
Com certeza. Esse ano fizemos um curso de prevenção que estamos levando para o interior. Tem inclusive a figura do suicídio, que é um problema muito recorrente na nossa corporação. Temos um programa de prevenção nessa área. No ano passado fizemos diversos acompanhamentos e treinamentos para esses policiais. Toda essa parte de cuidado com o homem nós estamos fazendo. Nosso policial todo ano é avaliado por nossa equipe médica, inclusive orientando para que ele se cuide, que ele faça seus exames preventivos e nos procure à medida que ele identificar alguma enfermidade.
 
Qual é a maior preocupação da corporação em relação a essas enfermidades?
O pós-traumático. É o policial que no dia a dia, no enfrentamento, se depara com o estresse. Aquela sensação de que a qualquer hora ele pode se deparar com uma ação de violência, de uso de força. Isso leva o policial a ficar bastante inquieto em alguns momentos. Por isso a gente tem que proporcionar atendimento psicológico. Tanto que todo policial que passa por uma ocorrência com auto de resistência, nós procuramos afastá-lo das atividades, orientá-lo, até para ele desintoxicar, sair desse ambiente.
 
Tem algum período mínimo para esse afastamento?
Depende. Cada caso é um caso. Esse período a gente deixa muito à mercê do policial. Às vezes ele pede, tem alguns casos que a gente afasta por uma semana ou até por um mês devido à situação que ele viveu.
 
Recentemente a gente acompanhou a situação no Espírito Santo e no Rio de Janeiro quanto à movimentação de policiais por reajuste salarial. Em que lugar nessa questão salarial a Bahia se encontra?
Inclusive até me surpreendi com uma reportagem da Folha de S. Paulo, que vocês até lançaram aqui (clique aqui para ler) e eu tomei um susto. Nos dados que foram passados foram omitidos alguns incrementos na remuneração do policial. Hoje a Bahia não é o 19º, é o 5º no escalonamento dos estados. Salário é uma coisa que as pessoas nunca estão satisfeitas. Salário é salário e tem uma limitação. Mas é bom lembrar que nesse governo, independente de salário, o governador Rui Costa, indo de encontro com ao que muitos estados estão fazendo, promoveu mais de 10 mil policiais em dois anos. Ou seja, policiais que eram soldado foram elevados para cabo, quem era cabo foram para sargentos, quem era tenente foi promovido para capitão. Houve uma valorização muito grande policial. Isso não é só um ganho salarial, mas também de progressão, que é o que o policial mais gosta. Ele quer sentir que está crescendo na carreira. E isso é custo, porque quando você promove você gera despesa. E o governador foi prioritário nessa questão da autoestima. Por exemplo, nós demos 12 mil medalhas. Tudo isso também é custo. São coisas pequenas que se juntar ao que está naquela tabela daria em 2º ou 3º.

 
Há quanto tempo a Polícia Militar não tem um reajuste salarial e de benefícios aqui na Bahia?
Não existe tempo. O nosso reajuste obedece ao reajuste do funcionário público, mas nós tivemos avanços nas nossas gratificações. Como bem disse o governador, em cinco anos, se formos observar o que nós ganhávamos, houve acréscimo de 65%. Isso aí está computado no conjunto. A cada ano, a cada momento, o policial vem sendo uma prioridade na gestão da segurança. Desde a época do governo Wagner e agora o governador Rui Costa vem sendo bem enfático. Ele a todo o momento enaltece a figura do policial. Ele disse que não ia dar aumento: "Como eu posso dar aumento se estou no quinto semestre consecutivo de PIB em queda?". Tudo isso leva a seus entraves. Mas, por exemplo, o estado da Bahia é um dos poucos onde o governador paga hora extra. Em outros estados não tem porque não tem recurso e a Bahia, mesmo com a crise, a corporação incrementa para aumentar o policiamento nas ruas. E isso não entra naquela contabilidade do salário porque tem policial que ganha, por mês, quase R$ 1 mil de hora extra. Não está existindo nenhuma restrição de recursos para a segurança pública. Fora os outros investimentos: capacitação, treinamento, coletes, pistolas, viaturas - quase todas as viaturas nós trocamos, temos poucas com alguns problemas. Foram quase 2 mil viaturas trocadas e adquiridas. Não tem motivo, nesse momento, para dizer que a segurança pública, na parte que tange a Polícia Militar e a Polícia Civil, não vem recebendo atenção especial do governo.
 
Podemos dizer então que não há possibilidade de ocorrer um movimento paredista aqui no estado?
Não tem clima, não tem espaço. A tropa hoje é consciente, sabe o esforço que nós estamos fazendo. Ela tem um comandante presente. Eu sou um comandante que tem visitado todas as companhias do interior, da capital, tem conversado com os soldados, nosso gabinete está aberto. Nosso maior patrimônio são os nossos policiais e eu tenho levado essa mensagem, tanto para a tropa como para a sociedade. Nós temos que tratar bem a polícia. Nós não podemos ver o policial como um profissional que só é procurado na hora da dor, na hora dos problemas. Muito pelo contrário, é no dia a dia, e é na prevenção. Nós temos que dar atenção especial a nossa.
 
A reforma da previdência está na pauta do Congresso Nacional e algumas categorias profissionais se manifestaram contra as mudanças que estão sendo planejadas em Brasília. Qual o posicionamento da Polícia Militar a respeito da reforma da previdência social?
Nós temos uma organização especial, a nossa natureza de atividade é bem específica. Eu me resguardo a dar uma opinião porque isso está a nível do Congresso Nacional. A nível do estado, o governador Rui Costa nem se manifestou em relação a isso. Nós temos que esperar o que vai ser deliberado pelo Congresso Nacional. Quando chegar a nível do estado, o governador vai sentar conosco para ver qual será o melhor caminho. Agora, para ficar bem claro, a nossa atividade, como policial militar, é diferente das outras atividades. Tanto que nós temos algumas restrições, temos algumas peculiaridades que outras categorias não dispõem. Nós somos uma categoria que sabemos que vamos trabalhar e podemos não voltar. Está provado que o policial com 30 anos de serviço, corresponde no psicológico, na sua forma de vida, como se estivesse trabalhando por 35 ou 40, porque a todo o momento ele está trabalhando. Fora de serviço ele continua trabalhando porque ele é alvo o tempo todo. É diferente de um profissional que chegou do trabalho, está em casa e não está trabalhando.

 
Quais outros investimentos a corporação tem feito na categoria?
Eu gostaria de ressaltar a questão da capacitação. Nós estamos capacitando muito, estamos preparando muito a nossa tropa, os cursos têm sido constantes. Tanto que quase todos os policiais da capital e uma grande parte do interior estão passando por um processo de educação continuada. E isso você vê nos números. Nós nunca produzimos tanto na corporação como temos produzido ultimamente: muita apreensão, abordagem, apreensão de armas, drogas... E hoje a gente percebe, apesar da violência, você vê a polícia na rua, você vê muita blitz, muita abordagem. Isso é fruto da qualidade do nosso trabalho. Nós temos atuado bastante e isso é um destaque do nosso comando. É a gente preparar o nosso homem, capacitar o nosso homem para que ele possa atender bem o cidadão.
 
Essa questão da capacitação é uma coisa que você pretende levar adiante para as próximas administrações da corporação?
Com certeza, nós temos um plano de metas e nosso trabalho vai com ele até 2025. Nós vamos levar essa formação através de teleconferência, educação à distância, para que o policial que mora longe receba as informações daqui. E nós estamos começando a trabalhar nesse sentido.
 
Quais são as outras metas desse plano que vai até 2025?
A mais forte é na área de recursos humanos. A nossa meta é que até lá nós tenhamos uma Polícia Militar mais bem equipada, mais bem aparelhada, mais bem treinada, onde o contingente aumente - em decorrência do próprio tamanho do estado. Fora a questão da tecnologia. Temos que investir muito na tecnologia até para reduzir a ferramenta humana no dia a dia. As pessoas ainda querem ver a polícia na rua a todo o momento. E às vezes com um sistema de câmera você policia muito mais. Isso nós estamos fazendo na capital, temos o Centro Integrado de Operações, que dispõe de mais de mil câmeras. Vários lugares de Salvador muita gente não sabe que tem câmera: sinaleiras, ruas, locais de grande movimentação... E isso tem facilitado as nossas ações. A gente espera que até 2025 a gente levante essas bandeiras da tecnologia e da valorização do policial.