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Entrevista

Roberto Freire acredita que um governo provisório terá dificuldades para fazer a economia voltar a crescer - 21/03/2016

Por Guilherme Silva

Roberto Freire acredita que um governo provisório terá dificuldades para fazer a economia voltar a crescer - 21/03/2016
Fotos: Jamile Amine / Bahia Notícias

Presidente nacional do PPS, Roberto Freire já atuava como deputado federal em 1992, ano em que Fernando Collor sofreu impeachment. Para ele, o Brasil deve percorrer o mesmo caminho, afastando a presidente Dilma Rousseff e abrindo espaço para um governo que pode recuperar de imediato a confiança da população. "O governo Itamar foi um governo que de imediato recuperou um nível de diálogo e de confiança com a sociedade e foi um governo reformista para o país", lembra Freire. O líder da legenda acredita que um governo provisório deverá assumir o comando do país e terá dificuldades para fazer a economia voltar a crescer por conta de medidas tomadas ainda na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. "Na questão econômica era só elogios ao que Lula fazia, que estava tendo bom-senso. E a gente dizia que não era bom-senso nenhum", critica. Na Bahia, o PPS ganhou força depois da janela partidária com a aquisição do deputado federal Arthur Maia e dos deputados federais Soldado Prisco e Targino Machado. Agora, os olhos estão numa possível vaga de vice-prefeito na chapa de ACM Neto: "Qualquer partido está disputando isso e o PPS espera ser bem-sucedido".

O PPS entrou com ação contra a indicação de Wellington César como ministro da Justiça. Você vê a suspensão da nomeação como uma vitória do partido e uma derrota do governo?
A derrota do governo é evidente. É uma demonstração inclusive da total incompetência governamental a partir da Casa Civil da Presidência da República, que deveria ter alertado a presidente que a Constituição taxativamente veda isso. Tivesse perguntado a mim eu teria dito que um membro do Ministério Público, até em função das novas atribuições que a Constituição lhe dava - estamos aí hoje colhendo os benefícios dessa nova institucionalidade do Ministério Público - , proibia que ele exercesse qualquer outro cargo na administração. Não podia. Não há acumulação. É taxativo. Só um governo desarvorado faria uma nomeação dessa. E ela fez. Responsabilidade dela, do chefe da Casa Civil e é a total demonstração do desmantelo que chegou o governo no país. O que o PPS fez foi apenas pedir que se cumprisse a lei. Apenas um ministro do Supremo divergiu, não quanto ao mérito, mas quanto ao instrumento utilizado do ponto de vista processual. Quanto ao mérito ele nem se pronunciou direito. Mas os dez outros simplesmente mandaram que o ministro deixasse de ser ministro.
 
Em meio à tantas críticas e à ameaça de impeachment, você acha que o governo federal consegue trabalhar para retomar o crescimento econômico do país?
O governo não governa mais. Até mesmo esse ministro que foi indicado e teve que sair, foi pensado não para uma atividade nobre. Ele estava entrando porque o anterior não controlava bem a Polícia Federal, o Ministério Público. Não tinha impedido Lula de sofrer constrangimento por estar sendo denunciado pelas ilegalidades que cometeu, malfeitorias que patrocinou. E ele estava sendo designado como se fosse talvez a salvação do governo tentando obstruir a Justiça. Não era um fim nobre. Ainda bem que ele não vai macular a sua biografia.

Então a retomada do crescimento econômico só é possível com um novo governo?
Claro, não só a retomada do crescimento, como também o enfrentamento da crise. Até porque qualquer governo terá dificuldades para retomar o crescimento porque esse governo Dilma cometeu tantos desatinos que estamos em um fundo muito profundo. E a cada dia piora. A crise econômica é muito séria. Nós tivemos um ano de recessão e há toda perspectiva que haverá recessão em 2016. Pode ser um ano de desempenho econômico até pior que 2015 e riscos até de depressão. A sociedade, a família brasileira está sentindo isso. É inflação, o desemprego, o endividamento. É um desastre completo. Qualquer governo que vier pode melhorar a situação. De imediato, muda a relação de confiança com a cidadania. Em segundo lugar, imagina-se um governo que tenha que ser reformista e isso é bem possível. Eu tenho como experiência e vivência o que aconteceu com o impeachment de Collor. O governo Itamar foi um governo que de imediato recuperou um nível de diálogo e de confiança com a sociedade e foi um governo reformista para o país. Imagino que qualquer governo que venha e vá ser formado pós o impeachment possa ter esse mesmo resultado que teve o governo Itamar. O país precisa encerrar esse capítulo da Dilma e do PT.
 
O PPS saiu da base do governo na hora certa?
Quando a gente saiu ninguém acreditava que era certo. Talvez fosse muito prematuro, mas eu acho que a gente percebeu que isso não ia dar certo. Na época, Chico Buarque disse que tem que criar o Ministério do Vai Dar Merda. Ele fez essa proposta depois de uma besteira que o governo fez. O que acumularam de malfeitorias está levando o PT a um grau de degradação que poucos partidos políticos no país tiveram por conta dessa sua liderança de Lula, José Dirceu, seus tesoureiros, e a incompetente e irresponsável Dilma. Nós levamos muita bordoada por termos saído e fazer uma oposição quando poucos faziam. Nem o PSDB fazia, porque era um momento em que o PSDB ficava afirmando que o Palocci estava continuando com a política que o PSDB tinha adotado. O PSDB tinha postura de oposição meia-bomba. Na questão econômica era só elogios ao que Lula fazia, que estava tendo bom-senso. E a gente dizia que não era bom-senso nenhum. Aquilo era um erro. Muito do que a gente está sofrendo aí são opções equivocadas que Lula fez lá atrás, que lá atrás não foram sentidas, mas estão sendo sentidas agora. Agravamento do processo de desindustrialização, esfarelamento de toda infraestrutura brasileira por falta de investimento. Toda uma opção de imaginar que teríamos crescimentos por consumo, quando é exatamente o inverso. O consumo é fruto da produção. Quando isso vem desacompanhado de um crescimento econômico, dá no que deu: voo de galinha. Todos que se beneficiaram de crédito fácil, consumo desenfreado, estão hoje amargando aí um pesadelo de estar amargando dívida com o desemprego, com a inflação, com a crise econômica, e a diminuição de renda atingindo todas as famílias brasileiras. Um desastre completo.
 
Qual a sua avaliação da participação de políticos nas manifestações contra o governo. Você acha que esses protestos deveriam ter um caráter mais apartidário?
Nunca imaginei nada apartidário. Não existe sociedade civilizada sem política. Quem inventa isso fora da política está fazendo uma política que não dá resultado. Da mesma forma que alguns diziam que os militares não faziam política e não eram políticos. Eram políticos de outra forma, usando a guerra contra a sociedade, reprimindo a cidadania. A política é que preside qualquer sociedade civilizada. Qualquer dos regimes. Quem é que vai votar o impeachment? Quem vota as leis? Quem determina o que nós vamos fazer daqui pra frente nas manifestações? É a política que vai ter que encaminhar, não existe outra forma. É evidente e eu sempre defendi que devíamos participar, mesmo entendendo que quando eles não queriam que fôssemos com bandeiras, não iríamos afrontá-los. Mas a crítica eu sempre fiz. Não existe esse movimento apartidário. Se for necessário o impeachment, quem vai votar, representando esse sentimento das ruas brasileiras? São os políticos.
 


Quando você acha que é possível concluir o processo de impeachment?
O Supremo conseguiu criar um obstáculo. Se ele não tivesse adotado aquela decisão de mudar o rito do impeachment, que foi absurda pois é uma total interferência nos assuntos internos do Congresso Nacional, nós provavelmente estaríamos ultimando agora por esses dias o processo de impeachment. Já havia sido escolhida uma comissão especial, que tinha um prazo de 40 dias. Se ela tivesse se instalado, provavelmente não teria recesso. A Câmara iria se auto convocar e provavelmente estaríamos agora votando a autorização para abertura do inquérito do impeachment. Hoje o país está vivendo um momento de surpresas. No campo econômico não tem muita, só uma cantiga de pior a pior. No campo da Lava Jato, vem também de pior a pior, mas com surpresas a todo momento. Tivemos a delação do Delcídio, que pelo mínimo que se conhece, ele foi preso por estar obstruindo a Justiça. Na delação ele diz que obstruiu a Justiça a mando de Dilma, Lula e José Eduardo Cardozo. Ele entrega claramente um crime de responsabilidade cometido por Dilma. E logo depois um outro, que por ser emblemático ofuscou quase tudo, que foi Lula denunciado e investigado pela Lava Jato. Antes inclusive já tinha se negado a responder numa investigação no Ministério Público de São Paulo, que também já pediu sua denúncia e investigação. São fatos que criam ainda mais desassossego. Você começou a entrevista lembrando algo que é uma demonstração de um governo completamente atabalhoado, que foi a nomeação de alguém que não deveria ser ministro da Justiça.

No passado recente o PPS tentou uma fusão com o PSB que acabou não dando certo. É possível que vocês tentem novamente esse processo ou com algum outro partido?
Quando foram suspensos os trabalhos de fusão, o PSB, que foi o responsável por não concretizarmos a fusão, falou que depois dessa eleição municipal iríamos retomar. Eu acho difícil, porque nesse meio tempo você escarçou alguns daqueles elementos que nos uniam. Mas depois disso o PSB ficou em uma posição meio ambígua em relação ao governo. Falava em independência, mas era como alguns outros partidos que se dizem de oposição, mas na prática votam com o governo. No Psol é muito comum isso. A Rede, que Marina [Silva] criou, também. Só muito recentemente, nesse quadro de crescente isolamento da Dilma, é que esses partidos começaram a se afirmar como oposição. Estamos abertos para o PSB, que foi o responsável por não ter sido concretizado. Se quiserem, nós reabrimos o debate. Mas eu diria que não é o mesmo momento que tivemos lá atrás.
 
Falando em mudança de partido, nessa janela partidária vocês trouxeram o deputado federal Arthur Maia e os deputados estaduais Soldado Prisco e Targino Machado para o PPS. Como você avalia esse crescimento do partido na Bahia?
O PPS na Bahia teve algumas dificuldades há algum tempo, mas agora parece que estamos encontrando um bom rumo. Aqui talvez seja entre as regionais a de maior presença no partido. Só não é maior do que São Paulo, mas eu acho que Brasil afora aqui começa a ter uma presença muito ativa, porque são políticos de muita dimensão. O partido se sente muito honrado com a presença do Arthur Maia. Eu conheci lá como parlamentar e ele se destacou na Comissão de Constituição e Justiça, que não é uma comissão qualquer como um parlamentar muito competente. Essa vinda para nós não é a de qualquer um, mas de alguém muito qualificado.

 
A expansão para o interior do estado é um dos focos do partido?
Essa capilaridade é importante para que o partido tenha presença. A gente espera que em 2018 não tenha apenas um deputado federal. Tudo dentro dessa relatividade de como vai ser a política. O país está vivendo um momento em que você tem que muito cuidado para fazer cenários futuros porque eles podem mudar muito. Você é jovem e tem uma consciência de que estamos vivendo histórico. Quando tiver uma certa idade, seus filhos, seus netos vão perguntar como foi. Isso não foi um momento qualquer. Você está vivendo um processo de degradação da República como nunca houve na história do Brasil. Nós estamos vivendo talvez o maior escândalo de corrupção do mundo.
 
O secretário municipal de Educação Guilherme Bellintani também se filiou ao PPS. É do interesse do partido entrar como vice na chapa do prefeito ACM Neto?
Não dá pra gente ter candidato a prefeito. Parece que temos um grande prefeito em Salvador e vamos apoiá-lo. A gente não tem como ter candidato a prefeito, mas se tiver como fazer parte da chapa dele...qualquer partido está disputando isso e o PPS espera ser bem-sucedido.
 
A nível nacional, a filiação que mais chamou atenção foi a do senador Cristovam Buarque. A intenção é que ele seja candidato a presidente em 2018?
Não foi essa. Foi uma exigência dele, que nós concordamos e consideramos que foi a mais correta. Qualquer decisão de candidatura agora é precipitada. Nós precisamos revolver o problema da república brasileira. Não adianta eu ficar imaginando o que vai ser se eu não sei com que presidente o Brasil vai estar amanhã. Qualquer coisa agora seria precipitada. Então não tem nenhuma definição, mas é evidente que é um nome que preenche todos os requisitos para ser um presidente da República. Ele tem qualificação para isso, mas não há nenhuma discussão sobre isso, não há nenhuma discussão. O partido não está abrindo essa discussão, não apenas sobre Cristovam, mas sobre qualquer outro. Vamos dar tempo ao tempo, até porque a gente não sabe como isso vai terminar. Eu não sei nem se termina. Mas como isso vai continuar. Quem é que vai estar na Presidência da República? Eu imagino que seja um governo de transição. Acho que para o bem do país a Dilma tem que sair o mais rápido possível.