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Entrevista

Nelson Pelegrino confirma que futuro do Centro de Convenções de Salvador é incerto - 15/06/2015

Por Fernando Duarte / Rebeca Menezes

Nelson Pelegrino confirma que futuro do Centro de Convenções de Salvador é incerto - 15/06/2015
Fotos: Bruna Castelo Branco / Bahia Notícias
O futuro do Centro de Convenções de Salvador ainda está incerto, mas não será decidido sem que haja um estudo minucioso dos problemas e da viabilidade das alternativas propostas, garante o secretário estadual de Turismo, Nelson Pelegrino (PT). Em entrevista ao Bahia Notícias, o chefe da pasta fala sobre as dificuldades enfrentadas para a transferência do centro para o bairro do Comércio, as críticas feitas pelo trade turístico baiano e sobre a atração de investimentos, principalmente em áreas hoje pouco exploradas no estado, como o turismo náutico e de negócios. "Eu diria que a vocação de Salvador principal é sol e praia. Cerca de 36% das pessoas que se destinam à Bahia tem como atração sol e praia, 26% pelas belezas naturais, que envolve praias, nossa cultura e arquitetura. E 9% pelo turismo de eventos. A importância desse turismo é que ele pode ser desenvolvido em um período de baixa estação", explica. Pelegrino fala ainda sobre os planos da pasta para os próximos anos e sobre sua relação com o presidente da Bahiatursa, Diogo Medrado. Sobre as eleições de 2016, ele reforça: "Nelson Pelegrino não é candidato a prefeito de Salvador".
 

Na semana passada aconteceu um abraço simbólico do Trade turístico ao Centro de Convenções, que tem sido alvo de uma discussão muito profunda. Em que pé está o Centro de Convenções da Bahia? Se fala em transferência, a construção de um novo no Comércio...
O Centro de Convenções foi interditado pela Secretaria municipal de Urbanismo (Sucom) e deve passar por reforma. A determinação do governado Rui Costa e minha é de que ele só será reaberto quando tiver condições de segurança total em termos de funcionamento e tiver condições de operacionalidade. Já está em processo de formatação uma licitação emergencial para garantir a integridade das estruturas, mas eu determinei que se faça um estudo minucioso sobre o equipamento que tem quase 40 anos, e esse estudo e que vai dar o caminho do que nós vamos fazer. A ideia inicial é manter o terceiro andar em funcionamento, que é o espaço Iemanjá, e o quarto andar, que é aquele conjunto de auditórios que servem para reuniões menores. Mas eu também estou estudando a possibilidade de transformar o segundo andar, que tem cerca de 7 mil metros quadrados úteis, em um pavilhão de feiras. Então essa é a nossa estratégia até a construção do novo, e nós estamos estudando uma fórmula que viabilize isso. Essa fórmula envolve três questões fundamentais: área, equação financeira e viabilidade. Área porque nós temos que ter no mínimo 100 mil metros para construir um novo Centro de Convenções. Equação financeira porque nós vamos gastar de R$ 350 a R$ 400 milhões de reais. Viabilidade porque nós não só precisamos ter área, mas também dinheiro. Então o governador Rui Costa está pensando em fazer uma Parceria Público-Privada (PPP) para a construção do centro e pode ser que a gente tenha que fazer um mix desses fatores para poder chegar à uma fórmula final. Por exemplo: a atual área do Centro de Convenções pode entrar como contrapartida para viabilizar a construção do novo prédio. à priori, a opinião do governador é de que a área para se fazer isso é onde está instalada a atual Vila dos Fuzileiros Navais, ali no Comércio, em frente às docas, que seria remanejada para Aratu, e também o hospital, que seria remanejado para onde hoje é o depósito de bebidas. Isso não só vai revitalizar aquela região, como também vai estar integrado ao VLT e ao metrô.
 
Já tem um prazo para bater o martelo quanto a esses projetos?
Em relação às obras emergenciais, nós já estamos em processo de contratação. Agora eu receberei, até o início desta semana, uma previsão de quanto tempo levará esse estudo minucioso que vai ser feito. Volto a dizer que é uma estrutura de quase 40 anos, a maioria dela em aço, com uma parte em concreto. Então nós vamos precisar de uma avaliação especializada para determinar resistência, o balanço, e isso vai ser base até para licitações futuras.
 
Uma das hipóteses levantadas foi a transferência temporária de convenções para o Parque de Exposições. Ainda existe essa perspectiva?
Nesta sexta-feira (12) pela manhã [quando a entrevista foi concedida] eu visitei a Arena Fonte Nova, que tem bons espaços para eventos. Tem um de quatro mil metros, tem um que, se coberto, pode abrigar quase 7 mil metros de área útil. Tem espaço para formaturas, para eventos... Então a estratégia da secretaria é, enquanto a gente não reforma o atual equipamento e não constrói o novo, a gente possa usar os diversos espaços que têm na cidade. A Arena Fonte Nova, a adaptação dos galpões do Centro de Convenções, que já estão recebendo eventos. Hoje já tem um espaço com piso liso, mas a ideia é adaptar outros dois pavilhões que tem área de 8,7 mil metros com piso resistente, com possibilidade de fechamento, para também ser utilizado como pavilhão de feira. Nós também temos hotéis em Salvador que podem fazer convenções. A minha ideia é a gente convocar o Fórum Baiano de Turismo para que agente possa discutir uma estratégia de como, do período que vai durar a reforma do atual centro e a construção do novo, a gente pode usar os outros lugares ou adaptar os equipamentos existentes para que a gente possa atrair congressos, eventos e feiras para Salvador.
 
O senhor tem falado na atração de investimentos no turismo para Salvador e para a Bahia, mas o trade reclama que o estado tem problemas de atração de feiras e do turismo de negócios. Além da área de convenções, tem outras demandas que o trade tenha apresentado para a secretaria?
Eu diria que a vocação de Salvador principal é sol e praia. 36% das pessoas que se destinam à Bahia tem como atração sol e praia. 26% pelas belezas naturais, que envolve praias, nossa cultura e arquitetura. E 9% pelo turismo de eventos. A importância desse turismo é que ele pode ser desenvolvido em um período de baixa estação. Ele pode ter um fluxo anual de ocupação hoteleira, atrai um turista com poder aquisitivo maior, com taxa de permanência maior... Então é importante. Salvador já foi a terceira cidade do país em turismo de negócios, caímos para quinto ou sexto lugar e precisamos montar uma estratégia nesse sentido. A minha ideia de reunir o Fórum de Turismo é exatamente nesse sentido, dizer o que a Bahiatursa e a Setur têm que fazer e qual a parte do trade também. Nós temos que participar de todas as feiras nacionais e internacionais, mas também é importante que o trade participe, que chegue junto. Agora em agosto nós estamos montando uma estratégia na CTI Nordeste, que é o fórum da fundação que reúne as secretarias de turismo, para fazer uma grande feira com a Brastur, que reúne todos os operadores de turismo. Nós vamos fazer uma grande feira, durante duas semanas de agosto, para fazer uma grande venda do destino Nordeste, principalmente para outubro, novembro,dezembro, mas também fazer uma venda anual. Então é importante a gente fazer uma integração com o trade nesse sentido. Esse ano é um ano de dificuldades, porque tem muita restrição financeira. O governador Rui Costa pediu que a gente priorizasse alguns eventos, e fossemos muito criteriosos no fomento e no patrocínio de eventos. Acho que no ano que vem nós teremos uma folga maior. Então eu quero sentar com o trade e com a Bahiatursa para montar um plano para o segundo semestre mas, principalmente, montarmos uma estratégia mais agressiva para os próximos três anos. Isso passa por requalificação dos espaços, pela promoção e fomento, mas também por requalificação dos nossos destinos turísticos. Essa semana nós realizamos uma reunião importantíssima no Pelourinho, com governo federal, governo do Estado e prefeitura, dando as mãos, junto com o trade turístico e a comunidade, para a gente requalificar aquele destino. Vamos melhorar muito a segurança, a infraestrutura, estamos discutindo a programação cultural... E eu tenho conversado muito com Érico [Mendonça, secretário municipal de Turismo] sobre isso, para que a gente possa expandir essa programação que está sendo vitoriosa no Pelourinho, e replica-la. A gente já tem uma reunião para o dia 19 para o Abaeté, e vamos discutir a requalificação daquele espaço de Irmã Dulce, com a construção do receptivo, que está sendo feita pela prefeitura, e da praça, que já foi feita por nós, e agora a integração com o memorial, que vem o projeto agora. E no futuro, o corredor da fé, que é um grande calçadão no dendezeiro, saindo de Irmã Dulce até a colina Sagrada. Tem também a ponta do Humaitá, o Mercado Modelo, a orla de Salvador, que a prefeitura e o Estado já estão requalificando. O trecho mais crítico é o trecho da Boca do Rio até Placafor, que teve a retirada das barracas de praia. Tem esse costume do baiano e do turista de passar o dia na praia, então tem que pensar uma estratégia sobre isso, que também é importante para a fixação do destino turístico. E qualificando os destinos turísticos de Salvador, a gente vai roteirizar eles também. Então vai voltar a ser parte de Salvador ir na ponta do Abaeté, do Humaitá, fazer o turismo religioso, com o acervo maravilhoso que nós temos para visitação. Tem o turismo de religião de matriz africana. Nós estamos com uma consultoria especializada para reformatar a nossa estratégia na aviação civil, com os dois decretos de aviação regional que ampliaram para quase 9 destinos no interior do estado. Nós estamos pensando em projetos nacionais e internacionais também, colocando Salvador na disputa dos Hubs internacionais.
 
Sobre a aviação regional, Salvador é o destino mais conhecido, mas existem outros destinos na Bahia que podem ser potencializados. Quais são as estratégias do governo para a Chapada Diamantina, região oeste ou Ilhéus, por exemplo?
O primeiro momento, que continua se desdobrando, foi permitir que os nossos aeródromos tenham condições de operacionalidade. Então nós reformatamos o aeroporto de Teixeira de Freitas. Nós temos um fluxo muito grande ali na Costa das Baleias. Nós estamos com projetos para um novo aeroporto de Ilhéus e de Porto Seguro, para que tenham condições de receber voo charter e voos internacionais. Os aeroportos de Valença e de Lençóis estão operando, Paulo Afonso, Petrolina serve como ponte para Juazeiro. Então nós estamos permitindo a mobilidade para que o turista possa chegar de forma mais confortável ao destino. E uma estratégia de promoção e marketing, de venda desses locais. Sobre Ilhéus, eu já tive umas três ou quatro reuniões com o prefeito, e nós estamos programando uma reformatação total do turismo de lá, inclusive com a construção do Parque Temático Jorge Amado, com estátuas, roteirização, requalificação urbana... Nós estamos querendo colocar um novo produto no turismo de lá que é o chocolate. Ilhéus pode ficar conhecida internacionalmente não só pela cultura do cacau, relatada tão brilhantemente por Jorge Amado, mas também como a produtora de um dos melhores chocolates do mundo. A Costa do Cacau, onde tem um empreendimento da Odebrecht, ganhou a medalha de prata, e uma empresa de Ilhéus ganhou a medalha de bronze no Campeonato Mundial de Chocolate. Então nós estamos produzindo chocolate de verdade hoje em Ilhéus. Eu já tive uma audiência com o ministro dos Portos, Edinho Araújo, e a antiga área portuária já está em processo de cessão para a construção de uma fábrica de chocolate conceito. À ela, estará associado um café, onde você vai poder degustar chocolates finos, tomar chocolate ou provar outros diversos derivados, as pessoas vão poder ver o processo de fabricação. Na Estrada do Chocolate, a gente vai fazer um convênio também, pra reformatar a estrada de Ilhéus a Uruçuca com dois portais, em que você possa ver o ciclo de produção do cacau, com turismo rural e de aventura. São com inovações como essa que a gente vai poder qualificar o nosso destino turístico. A minha expectativa é de que agora em julho a gente dê partida ao projeto 2 da Baía de Todos os Santos. É um novo produto que nós queremos agregar ao turismo baiano, que é o turismo náutico. A costa de Salvador tem uma situação privilegiada porque é desaguador de corrente do Atlântico norte. Não foi à toa que Cabral veio bater aqui. Então a gente quer que a Bahia seja a porta de entrada para o turismo náutico do Brasil. Inclusive tem a previsão de criação de um terminal náutico, ali na rampa do Mercado. Hoje um processo que você demora duas semanas pra internalizar, uma embarcação vai demorar duas horas. Você vai poder vir de qualquer lugar do mundo velejando, entra na Baía de Todos os Santos, internaliza sua embarcação, regulariza ela, e você pode velejar no litoral norte brasileiro. Então a gente vai ter a requalificação de todos os piers, atracadouros, construção de base náutica, construção de base de apoio, roteiro da via náutica...
 
 
Nesse projeto também entra o oceanário?
Não. O oceanário não entra no Prodetur. Um oceanário tem que ter a população de sete oceanos. Quando não é isso, é um aquário. Mesmo que seja grande. Fortaleza está construindo um aquário de quase R$ 500 milhões. Então nós temos estudos em relação a esse projeto, mas tudo está integrado. Mas tudo está interligado. Porque a criação dessa infraestrutura pública também abrirá caminho para a atração de novos investimentos na área de infraestrutura privada. Hoje nós temos um déficit de marinas secas e molhadas em Salvador para abrigar embarcações. Então a ideia é Salvador entrar no roteiro de turismo náutico e disputar a essa modalidade. A prefeitura e o estado encaminharam uma carta de intenção, pedindo para sediar uma etapa da regata da Volvo, que é a maior do mundo. A Baía de Todos os Santos é a maior baía tropical do mundo. E das três maiores do Brasil, nós temos duas - a segunda é a Baía de Guanabara e a terceira é a Baía de Camamu.
 
Recentemente nosso colunista Zeca de Aphonso sugeriu que havia um certo ciúme entre você e o presidente da Bahiatursa, Diogo Medrado. Como é a relação dos dois órgãos?
A relação da Bahiatursa a Secretaria de Turismo é como se fosse a da Secretaria de Segurança Pública com o comando da Polícia Militar. A política geral é traçada pela secretaria, a execução é pela Bahiatursa. Então a Bahiatursa está em um processo de transição de uma empresa, que tinha liberdade maior, para uma superintendência de regime especial. Então quando eu cheguei na secretaria, Diogo já estava há quase dez meses na empresa, que está em fase de reestruturação, em que a gente vai definir aos poucos os papéis. A Bahiatursa é anterior à Setur, e é uma marca mundial que foi criada, com 340 funcionários. Como superintendência, só vai ter 106. A Setur tem 62. Há ainda esse processo que precisa ser ajustado. E eu acho que a integração vai acontecer de forma natural, porque tem objetivos em comum. A Bahiatursa tem a sua missão, que é o fomento e a promoção do turismo, e a Setur é o conjunto, em que a empresa é uma perna. Nós temos outras duas pernas, que são a Superintendência de Investimentos e Infraestrutura Turística e a Superintendência de Serviços, que é responsável pela fiscalização e qualificação empresarial e profissional.
 
Em 2015, o governador falou muito em dividir o protagonismo do Carnaval entre o Estado e a prefeitura, e que o governo estadual estaria mais presente na festa de 2016. Já começou essa discussão sobre o ano que vem? Como a secretaria vai atuar nesse processo? Isso pode servir como boa plataforma política para uma eventual candidatura sua à Prefeitura de Salvador?
A lei municipal define que prefeitura, governo do Estado e Concar organizem o Carnaval de Salvador. Essa foi a questão que nós colocamos em discussão esse ano, para que a gente pudesse ajudar a cidade. Quando você coloca isso na lei, é porque você entende que Salvador tem o carnaval mais importante do Brasil, da Bahia. Então o governo estadual que gasta a maioria dos recursos, precisar participar mais da organização e ter um protagonismo maior. Nós propusemos isso ao prefeito e eu acho que ele tem que entender isso como um gesto favorável à cidade, de que a gente quer ajudar. Nós começamos a interagir em 2015, tivemos algumas coisas conversadas, mas agora temos aí oito meses para sentar com a prefeitura para pensar o carnaval de 2016. Nós temos a responsabilidade com o carnaval do Pelourinho, que é praticamente organizado pelo Estado. Nesse ano nós bancamos a maioria das atrações que foram para as ruas para poder fazer a festa, que é a alma e a vida do Carnaval de Salvador. Muitas das atrações do furdunço foram financiadas pelos editais do Fundo de Cultura e nós estamos pensando em novos produtos para o ano que vem. O governador comprou a ideia do afródromo, nós fizemos reunião com Carlinhos, com o vovô... Porque em Salvador nós temos sempre que estar inovando, procurando novos produtos, mas garantindo também suas origens, que são pipoca, o afródromo, o Carnaval Ouro Negro. E a gente vai sentar, eu não tenho dúvida nenhuma e acho que a gente tem colaborado muito com a prefeitura na área da mobilidade, agora com o turismo, em outras áreas, e acho que não vai ser diferente com o carnaval. Nelson Pelegrino não é candidato a prefeito de Salvador.