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Entrevista

Elmar Nascimento afirma que a situação financeira do Estado é “muito preocupante” - 25/02/2013

Por Evilásio Júnior / Aparecido Silva

Elmar Nascimento afirma que a situação financeira do Estado é “muito preocupante” - 25/02/2013
Fotos: Tiago Melo / Bahia Notícias

Bahia Notícias – A gente tem um ano tranquilo, em 2013, mas o próximo é eleitoral. Como é que Elmar Nascimento, novo líder da oposição na Assembleia Legislativa da Bahia, pretende conduzir o processo este ano, mas com 2014 na porta?

Elmar Nascimento – Olha, do mesmo jeito que o líder anterior já vinha conduzindo, apontando os defeitos, as falhas, cobrando o cumprimento dos compromissos de campanha e procurando também dar soluções e ajudar o estado. A situação do Estado é muito preocupante com relação às finanças públicas. A Bahia foi pioneira em 1990 no equilíbrio das contas públicas, antes mesmo da existência de uma lei de responsabilidade fiscal, durante o governo de Antônio Carlos Magalhães (ACM), com o então secretário da Fazenda Rodolfo Tourinho. Eles tiveram essa preocupação e, infelizmente, desde o ano passado, o Estado já vem apresentando um rombo nas suas contas da ordem de R$ 1,9 bilhões, acentuado este ano com a última prestação de contas de janeiro, que aumentou para R$ 2,6 bilhões. O governador [Jaques Wagner – PT], na mensagem na última sexta-feira [15], admite a dificuldade no custeio, mas não apresenta nenhum plano no sentido de resolver. Nós mandamos pesquisar e somente dois estados da Federação estão com déficit financeiro nas suas contas, que são a Bahia e o Rio Grande do Sul, governados coincidentemente pelo PT. Portanto, é uma coisa que nos preocupa bastante.

BN – O senhor assumiu a liderança da oposição, mas faz parte do PR, um partido que recentemente foi incorporado à base do governo e que já fazia parte da base governista em nível nacional. No partido tem três deputados, notadamente, que fazem oposição ao governo e a legenda agora assumiu Conder. Como está a relação internamente?

EN –
Veja bem, até agora não tivemos nenhuma reunião no sentido de discutir essa questão de ser ou não ser governo. Portanto, o que vale para mim, é o resultado das últimas eleições, em que participamos da chapa majoritária com a indicação do ex-senador César Borges, que disputou ao lado do ex-ministro Geddel Vieira Lima [PMDB] uma vaga no Senado Federal em oposição ao governo que aí se encontra. É o último dado formal que nós temos do partido. Digo em nível de estado porque, apesar de ter apoiado Nelson Pelegrino para prefeito de Salvador, no interior houve tudo quanto é tipo de aliança: do PDT ao DEM, passando pelo PSDB e o próprio PT. Não foi dado um norte no estado ao partido. Decisão só se toma quando o momento exige. Enquanto a executiva do partido não nos convocar para mudar de rumo, afinal de contas, para mim, o rumo que prevalece é o que o eleitor nos colocou, estaremos no rumo da oposição. Quando não votou em nossos candidatos da chapa majoritária, nos impôs a missão difícil de fazer oposição nesse estado.

BN – Agora, você falou durante o carnaval que ia levar o PR de volta para a oposição. Nos seus pares, com exceção dos deputados que já são oposição como Reinaldo Braga, que tem o filho aqui em Salvador como subprefeito, Sandro Régis e você, a gente não vê muito esse norte. Como foi a reação interna no PR?

EN –
Se nós três somos maioria, não somos a exceção. Você falou três de quatro. E Graça [Pimenta] ao que me consta, também não tem muita simpatia com o governo.

BN – Ficou meio em cima do muro na época de campanha porque Tarcizio [Pimenta] foi candidato a prefeito, e perdeu, por um partido da base...

EN – A pergunta faço ao contrário. Qual é o deputado do PR que é governista, que defende o governo, que vai à tribuna defender e mostra a cara na defesa do governo?

BN – Nenhum. Mas o partido está lá, tem quadros do partido na Conder.

EN –
É filiado ao partido?

BN – Foi indicado por César Borges.

EN – Se foi, a gente não tem o conhecimento.

BN – César Borges tem conversado com vocês sobre essa situação?

EN – Não. Nós nos reunimos antes das eleições municipais. A executiva do partido não se reuniu para discutir qualquer mudança de rumo.

BN – Conder, por exemplo, não foi discutida internamente?

EN – Não.

BN – Recentemente, a bancada de oposição na Assembleia Legislativa se reuniu para discutir os próximos passos no estado. E uma das metas é adentrar a Bahia de forma unida. Como a oposição tem se articulado nesse sentido já para 2014?

EN – A primeira questão é unificar o discurso. Nós enfrentamos uma formidável máquina governamental de propaganda que gastou, em 2012, R$ 150 milhões. Então, precisamos uniformizar o discurso de todos os deputados, todos os partidos, todos os líderes de oposição. Mostrar onde o governo falhou, as promessas que não foram cumpridas. A nossa intenção é criar a caravana da verdade. Visitar os partidos maiores de todas as regiões do estado, sendo que nossa meta é cobrir os 70 maiores municípios que representam a maioria do eleitorado baiano. Visitar as redações dos blogs regionais, visitar as rádios, as comunitárias, visitar as televisões e levar o discurso cobrando soluções, cobrando o cumprimento dos compromissos de campanha e, acima de tudo, mostrando uma proposta alternativa ao que está aí.

BN – E o planejamento em relação à bancada de oposição? Além de o PR ter sido anunciado oficialmente na base do governo, assim como o PSC, entrou Carlos Gaban [DEM] no lugar de um governista, que é Gildásio Penedo, mas no PSC pelo menos o lado de Vando deve ir para o lado do governo. Targino Machado vai ficar mais ou menos como o PR está, mas de qualquer forma a oposição fica um pouco fragilizada. Como é será para traçar os planos com uma base governista tão maior que a oposição na Assembleia Legislativa?

EN – Eu entendo que nós estamos reforçados. Se você olhar ao nível de atuação, todos deputados têm algum mérito a ser enxergado na Assembleia Legislativa. Por algum motivo o povo os colocou lá. Mas a entrada do deputado Gaban é um reforço considerável, seja pela experiência, seja pela dedicação, seja pela forma como se comporta. E aí eu faço a brincadeira de dizer que só a vinda do Gaban é superior à saída de três, quatro deputados que não tenham o perfil de combatitividade que ele tem. Porque a nossa questão não é número. Quem tem que ter número é o governo para votar o que precisa, nós temos que ter é qualidade. Nossa bancada, com a entrada do Gaban e alguns ajustes que estão sendo feitos no sentido de a gente se reunir toda segunda-feira, discutir e trazer sempre um assunto importante para ser debatido na Assembleia Legislativa, vai reverberar mais na sociedade.

BN – Quais são os principais problemas que vocês já pontuaram e que devem margear as conversas este ano?

EN – O principal problema é a questão do déficit do Estado. O Estado está quebrado, esse é um problema grande a ser enfrentado. O segundo é de uma tragédia que vem sobre a Bahia, sobre o Nordeste como um todo, que é a seca, uma coisa esperada. Diferente de um desastre, como um terremoto, uma enchente, que é algo inesperado para que se possa adotar alguma providência urgente à base de dispensa de licitação ou esse tipo de coisa, a seca, não. Ela vem há mais de 40 anos, um ano menor, outro maior. Essa foi a maior de todas, mas é uma coisa previsível e que o governo deveria desenvolver uma ação. O maior programa do governo é o Água Para Todos, que é um engodo. Tem uma mensagem de 2011, depois uma de 2012, em que o governador anuncia investimento de R$ 3,7 bilhões no combate à seca. O que efetivamente foi executado no ano passado? R$ 91 milhões. Muito aquém do que foi prometido e da necessidade do estado. Significa metade do que foi investido em propaganda. Enquanto maior representação política do estado, o governador foi leniente com a questão da transposição do Rio São Francisco, porque não defendeu os interesses do estado. Nós não somos contra que se leve água aos irmãos nordestinos que precisam tanto quanto os baianos a dois mil quilômetros de distância, mas não podemos aceitar passivamente. O governador não poderia deixar que, à beira do São Francisco, o povo esteja passando sede por falta de investimento. Portanto, este programa do governo do Estado, que se resumiu à construção de cisternas que servem apenas para consumo humano e que não resolve nada com relação à economia, agricultura, agropecuária... e que não resolve a questão de combate aos efeitos da seca, é um engodo. O governo anunciou que, em uma primeira etapa, cinco milhões de baianos estavam sendo beneficiados, em uma segunda etapa mais três milhões: oito milhões de baianos beneficiados. E nós somos 15 milhões. Se tinha água em Salvador, em Feira de Santana, se tem água em todas as grandes cidades, em todas as sedes dos grandes municípios, eu suponho que 80% dos baianos já tinham acesso a água encanada. Onde estão, então, estes oito milhões de baianos contemplados pelo Água Para Todos? Há alguma coisa de errada nessa propaganda do governo. E se ela fosse de verdade, não era para a seca atingir como atingiu os baianos. Era para todo mundo ter água. Aliás, é isso que o governador promete na sua mensagem. E aí, eu pergunto: que legado nos deixa esse governo depois de sete anos de mandato? O legado do desequilíbrio das contas públicas, o legado da propaganda e da falta de cumprimento dos compromissos de campanha.

BN – Como fazer para a população assimilar isso? Porque o que a gente percebe é que as propagandas têm impacto e as pessoas dão até depoimentos espontâneos nelas, dizem que está tudo bem. Embora a gente tenha visto nas eleições municipais, aqui em Salvador, por exemplo, e em Feira de Santana, uma perda de candidatos da base do governo, nos demais municípios houve uma expansão. Como a oposição, com a representação menor que tem hoje em relação a outros anos, pode fazer com que a população assimile que os programas são 'engodos' e que a coisa não tem sido executada da forma correta?

EN – Isso já tem acontecido. Você, ao perguntar, já começou a responder. A mudança nas eleições municipais sempre ocorre das maiores cidades em direção às menores. Prefeitos ligados, principalmente, a partidos adesistas vão de acordo com a maré, com o que a população apresenta. Todas as eleições têm demonstrado que a eleição majoritária no Brasil, sobretudo de governo federal e do governo do Estado, não têm mais vinculação a apoio político. É a televisão. E o que a gente tem assistido é a falta de vontade do governo, falta de interesse, lentidão do governo. O povo já percebeu e a resposta foi exatamente nas eleições de Salvador e Feira de Santana. Eu vejo passar na minha cabeça um filme que assisti há oito anos e que não tivemos a capacidade, como eles não estão tendo, de perceber. Naquela época, nós tínhamos um governador bem avaliado, Paulo Souto, diferente do atual governo que é mal avaliado. Não tinha essa receita, mas era bem avaliado. Nós perdemos a eleição em Salvador para João Henrique, tínhamos um grande candidato que era o ex-senador César Borges, e logo em seguida as pesquisas já indicavam um empate técnico entre o ex-governador Paulo Souto e o prefeito João Henrique. Quando João Henrique decidiu não renunciar ao mandato de prefeito para ser candidato, se voltou ao status quo anterior, em que Paulo Souto era o favorito destacadamente acima de 50% de intenção de votos e não existia nome na oposição. Qual o nome que terminou sendo apontado? O de Jaques Wagner, que tinha perdido uma eleição para governador e vinha de uma derrota para prefeito de Camaçari. Só que nós não percebíamos que a intenção de voto não era de João Henrique, era do sentimento de mudança, o que ocorre hoje. Se você conversar do maior governista que existe dentre todos os políticos ao oposicionista, há um candidato que disputa como naturalíssimo. Por três fatores; um, por rejeição ao governo; dois, rejeição ao PT, e três, a necessidade, a esperança do povo de encontrar um líder, que é o ACM Neto, que desponta como favoritíssimo em uma eleição para governador. O discurso que os governistas têm hoje é o que nós tínhamos no passado, no sentido de dizer que ele não será candidato porque não vai largar a prefeitura com um ano e três meses, como ele mesmo tem dito, e que nós não temos candidato. Eu pergunto a você, será que as pessoas que apontam esse favoritismo do ACM Neto, que ultrapassa os 50% das intenções de votos em todas as pesquisas que o próprio governo tem feito, não é gente que está querendo mudança? Na hora que for apresentado um candidato, se tivermos a capacidade de apresentar um que aglutine e represente a mudança, ele não será destinatário da mesma esperança que hoje o povo procura em um líder como ACM Neto?

BN – Agora tem o fato de que, enquanto o governo está inchado com sete nomes que querem sair candidatos a governador Otto Alencar (PSD), que é citado, embora queira ir para o Senado; Lídice da Mata, senadora do PSB, e Marcelo Nilo, do PDT. E, do PT, Luiz Caetano, Rui Costa, Sergio Gabrielli e Walter Pinheiro , do lado da oposição há indefinições. Fala-se em ACM Neto e José Ronaldo, que assumiram compromisso de campanha com as populações de Salvador e Feira de que não vão sair candidatos, e são lembrados os nomes de Antônio Imbassahy, Paulo Souto, Geddel Vieira Lima, que são figuras experimentadas que não reforçariam o discurso de renovação. Elmar Nascimento aposta que quem seria o nome da oposição para levar o discurso adiante?

EN – A nossa tarefa principal é trazer a unidade de projetos, de propostas. O nome é uma questão secundária, no sentido de que você citou três belos nomes e eu adiciono a eles o de José Carlos Aleluia, um político de destaque no cenário nacional, hoje, secretário de Transportes do prefeito ACM Neto. Mas pode ser um nome que não tenha disputado nenhuma eleição ainda, que cause surpresa. O que importa é o projeto. Se a gente aposta em um projeto vencedor, não tem como não comparar a forma de administrar dos prefeitos ACM Neto e Zé Ronaldo com a do governador Jaques Wagner. No meu entender, o povo vai apostar em 2014 em uma forma de administrar. Se quer isso que está aí, ou se quer uma mudança, que já é demonstrado com a administração destes dois prefeitos que são a nossa vitrine.

BN – Mas não tem um nome que você diga assim ‘esse é o cara’ para os seus pares?

EN – Política é muito como nuvem. Nós todos assistimos aqui até o último minuto o José Serra negar uma candidatura a presidente, uma candidatura a governador e que se manteria prefeito; assinou documento em cartório de que não faria. Qual é o maior óbice de tudo ao ACM Neto não ser candidato? Compromisso assumido com a população de Salvador. Se a própria população de Salvador em uma pesquisa de opinião, cerca de 70% dizem que ele é o melhor, o mais preparado e que deve ser o candidato, será que isso não faz um político mudar? O que quero dizer é que hoje ele tem as condições eleitorais de ser um futuro governador. Se além das condições eleitorais, ano que vem ele chegar com condições políticas, começar a agregar apoios importantes, partidos que hoje compõem a base do governo começarem a aderir ao seu projeto político, é uma convocação que é muito difícil, senão impossível. Que seja ACM Neto ou qualquer político recue. Portanto, política é como nuvem, difícil de a gente ponderar a tanto tempo. Ele tem que negar que seja candidato, nós também não podemos apostar que só ele seja candidato, mas não podemos negar que é a maior força que nós temos hoje e até os governistas admitem que se ele resolver ser candidato hoje, porque política muda, ele é imbatível.

BN – E Elmar Nascimento, vai sair candidato à reeleição para deputado estadual pelo PR, mesmo o partido agora institucionalmente na base do governo?

EN – Olha, independentemente das posições políticas, tenho grandes amigos no partido. A começar pela figura do presidente do meu partido, o ex-senador César Borges, a quem tenho respeito, admiração e amizade. E não vou abrir dissidência. Depende da maneira que o ex-senador resolver conduzir o partido. Vou defender junto ao meu amigo, porque o melhor caminho é o nosso projeto. O projeto da oposição é um projeto que foi em determinado momento a principal figura e que ele é uma figura importante para nós. Se ele [César Borges] entender que é melhor trilhar outro caminho, a nossa amizade vai continuar e eu vou cultivar outro ninho para continuar a defender o que eu penso.

BN – Você foi visto por nossa equipe em São Paulo, em um evento do DEM. Foi só celebração, confraternização com os amigos ou tem um namoro com o Democratas?

EN – Tenho uma relação de afinidade muito grande com os deputados, mais até com os deputados do Democratas, com Aleluia, o ex-presidente, Paulo Azi, ACM Neto; como tenho com o PSDB, Jutahy, Imbassahy; como tenho com o PMDB, com Geddel Vieira Lima,  Lúcio Vieira Lima, Arthur Maia. Então, não fecho portas para nada. Estou em um projeto. Tenho conversado na Assembleia que estamos em situação parecida, eu, o Sandro Régis e o Bruno Reis. Podemos ir todos para o mesmo partido...

BN – Targino Machado também...

EN – Targino também, que é um grande deputado. Nós vamos todos dentro do que as oposições decidirem, cumprir a missão que nos for dada, seja junto, seja dividido nestes grandes partidos que compõem a oposição.

BN – De zero a dez, Elmar Nascimento dá quanto de possibilidade para disputar pelo PR?

EN –
Está aí um pergunta difícil de responder, porque não depende de mim. Se o partido resolver trilhar o caminho da oposição, dez. Se resolver compor com o PT e com o governo, entendo que estará mudando de posição, assim a possibilidade será zero.