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Entrevistas

Entrevista

Walter Pinheiro explica o que há de verdade no projeto da Ponte Salvador-Itaparica - 08/02/2010

Por Lucas Esteves

Fotos: Tiago Melo/ Bahia Notícias

"O metrô, na minha opinião, é voador." 
 
Por Lucas Esteves
 
Bahia Notícias: O que há, enfim, de verdade, no projeto da Ponte Salvador-Itaparica?
 
Walter Pinheiro – Antes de responder, considero que haja uma série de explicações conjunturais a serem dadas. O Estado da Bahia começou a trabalhar com uma lógica de desenvolvimento para mexer nas estruturas, alterar os parâmetros. A Bahia ficou muitos anos concentrada na região da capital, notadamente em Salvador e Camaçari, e todo o desenvolvimento foi feito nessa concentração ou no litoral. Tínhamos uma Bahia totalmente abandonada e esquecida. Então a nossa preocupação foi dotar a Bahia de estradas que pudessem ligar de leste a oeste, interligar a Bahia. Depois, tínhamos que promover desenvolvimento regional, acabar com a concentração na região da capital. O que acontece antes disso? Todo mundo vem para Salvador atrás de emprego, serviço de saúde, educação. Então se incha uma cidade como Salvador, causa desagregação urbana. Por isso, ampliamos a capacidade de atendimento de saúde, ampliamos o investimento em estrada, na área de segurança, criamos condições tanto em educação quanto em infraestutura para você ter emprego e renda. Nesse contexto, a gente entra com a Ferrovia Oeste-Leste, desenvolve essa região com a malha, desenvolve o recebimento de carga com o novo Porto Sul, mas ao mesmo tempo cria ações e empreendimentos que possibilitem trabalho e renda em cada local. Isso também vale para a agricultura, desenvolvendo o aproveitamento de cada característica, o que também envolve o turismo. E lógico que nesse vetor de desenvolvimento aparece o vetor oeste, que permite a Salvador ter uma nova rota de saída. Porque atualmente, é um local que também está estrangulado, porque só há uma entrada e uma saída de Salvador. Então a ponte que se fala não é nenhum projeto extraído da cabeça dos governantes nem nada faraônico. 
 
BN – Então, na verdade, o que é a Ponte?
 
WP - Ela é uma rota. A ideia é tentar construir uma nova saída que nos permita ampliar a área para o turismo. Um acesso via Ponte nos permitirá uma chegada mais rápida ao Recôncavo, ao Baixo-Sul, ao Sul do estado, e na própria Ilha de Itaparica. Mas aí tem que se ter um cuidado. Não dá para chegar com uma ponte da noite para o dia e, com esse equipamento, causar dano a uma localidade já precarizada. A Ilha de Itaparica hoje passa por diversos problemas. Itaparica e Vera Cruz são os dois municípios da Região Metropolitana com os menores PIBs da região. Eles estão semiabandonados, uma vez que a dificuldade de acesso também causou um grande descaso por parte do poder público. Na realidade, essa nova saída oeste tem que levar em consideração qual será o impacto social na Ilha, no Baixo-Sul, de que forma poderemos envolver os municípios da região, como podemos evitar que a especulação imobiliária expulse essa figura que a vida inteira viveu na Ilha e que agora tem uma oportunidade. Na própria região teremos também a implantação da indústria naval, com o Bahia Iguape. Temos que casar essas diversas questões para aproveitar as potencialidades e, ao mesmo tempo, extrair vantagens para a população local formando, treinando o trabalhador. Por isso que é preciso um planejamento de todas essas coisas para depois sair para a etapa de construção desses equipamentos. O que estamos lançando antes não é um edital. É uma Proposta de Manifestação de Interesse. Ou seja, é endereçada à sociedade civil, ao cidadão, ao Município, uma empresa, para apresentar projetos nos permitindo dessa maneia construir de forma mais sólida um planejamento justo e adequado para o desenvolvimento desta região.
 
Bahia Notícias – Diante disso, não se pode deixar de pensar no metrô de Salvador, que foi pouco planejado e feito aos trancos e barrancos. No nível do projeto, qual a diferença entre a Ponte e o metrô?
 
WP – O metrô de Salvador é uma coisa que alguém deve ter chegado um dia de repente e dito “vamos fazer o metrô de Salvador”. Metrô cumpre duas funções: é importante para transportar passageiros mas também serve para tirar veículos das ruas. O mundo inteiro trabalha com o metrô para essas duas funções. Em Salvador, lamentavelmente foi escolhido um vetor que não traduz muito bem isso. Se por um lado, para onde o metrô apontava na BR-324 se tem uma grande concentração de moradores: ele tem um curto calibre. A maioria das pessoas não sai dali para trabalhar no miolo da cidade, na região da Lapa. Elas trabalham em outras regiões da cidade. Então já errou porque tinha que fazer a interligação deste com outros modais de transporte. O segundo aspecto é que ele vai correr paralelo a uma BR. Até que prove o contrário – e naquela época deveria ser ainda mais fácil analisar isso, pois havia menos veículos rodando - a BR-324 é uma das poucas avenidas dentro de Salvador em que você ainda consegue transitar sem engarrafamento. Imagine 10 anos atrás. Essa leitura poderia ter sido feita de forma muito mais clara na época. E também poder-se-ia pensar que o vetor de desenvolvimento que mais tenderia a ter um fluxo de veículos era exatamente a Paralela, que hoje tem 200 mil veículos circulando por dia. O planejamento foi errado e aí se entra com outro aspecto: não se preocuparam também com o impacto na cidade. O metrô, na minha opinião, é voador. Será que não se poderia aproveitar melhor o solo ali no canteiro central do Bonocô? E depois alguém achou que poderia se restringir a construção ali nos 6km e não concluir o projeto todo. O governador já estabeleceu várias conversações, inclusive com o prefeito, para terminar a obra. Há recursos para o segundo trecho: R$ 420 milhões do PAC. Mas antes precisamos terminar a primeira parte, que é um carma. Vem aí um sistema de transporte na Paralela, que é uma obra da Copa, e é fundamental que o metrô seja integrado a esse sistema. E inclusive nós temos uma proposta de remoção da Rodoviária do lugar onde ela está.
 
BN – Por que?
 
WP - Ali, na verdade, já comporta uma estação de transbordo de grande calibre. A rodoviária seria transferida para outro lugar recepcionando inclusive o fim-de-linha desse metrô. Então há a necessidade de reestruturação viária e do sistema de transporte em Salvador. A gente insiste nesse olhar em geral na Região Metropolitana, porque há uma relação com Lauro de Freitas, Camaçari, Simões Filho, com a estrada Cia-Ceasa-Aeroporto, e até com a questão da visão da Ponte Salvador-itaparica. Hoje, então, se faz necessário olhar Salvador como uma cidade importante da Região Metropolitana, mas como parte dela. Então temos de pensar pelo ponto de vista de logística como também de trabalho. Além do que, Salvador também está sendo divulgada e vista como um destino turístico preferido em todo o mundo, então temos de preparar a cidade para isso. Mas acredito que, antes de prepararmos a cidade para os que são de fora, temos que preparar para os que estão dentro. Só será agradável para o de fora quando for agradável para os de dentro.
 

"(...) acredito que, antes de prepararmos a cidade para os que são de fora temos que preparar para os que estão dentro."
 
BN – Aparentemente, há uma verba da bancada baiana liberada para viabilizar a construção da Ponte. Quando ela chega?
 
WP – A bancada esse ano aceitou apresentar uma emenda ao Orçamento da União no sentido de garantir o estudo e a viabilidade do projeto. A primeira etapa é isso e a segunda é para tentar incluir a obra no PAC. Por isso é que chamamos a ponte de quilômetro zero da BR-242. Porque na medida em que transformo a ponte no início dessa BR, estendo a BR até Salvador e obviamente ligo a cidade até onde a BR chega hoje, que é no Paraguaçu, e posso obter recursos do Orçamento Geral da União para parte da construção desse modal. Então essa foi uma das sacadas que nós tivemos de estender a ponte e transformá-la no quilômetro zero. Os recursos serão utilizados para elaboração de estudos e no ano de 2010 vamos precisar muito da bancada para inclusão da ponte no Plano Plurianual, no Plano de Investimentos e no PAC, para garantir que quando a gente fizer o edital do vetor oeste tenhamos já parte expressiva de recursos para a construção da ponte.
 
BN – É uma forma também de garantir que a ponte será realmente construída, mesmo diante de uma possibilidade de Jaques Wagner não ser reeleito este ano? Porque há este costume político de abandono de projetos depois que um governante de orientação diferente do anterior assume a gestão.
 
WP – É uma forma de “nacionalizar”, digamos assim, o projeto. Tira ele do plano político e dessa ideia de que é uma “virtude do governador Jaques Wagner” ter lançado o projeto. E aí isso passa a ser um projeto de interesse da Bahia e compromisso do Governo Federal. Então, independentemente de quem seja o governante, nós vamos assegurar no plano de investimentos da União recursos para terminar essas obras. Porque tem uma mudança importante que é o fato de todas as vezes que você abre o PPA, que vale por 4 anos, ou outros planos de investimentos, toda vez que uma obra entra aí, você tem que comprometer recursos para execução delas, o que é a garantia da continuidade. Nenhuma obra hoje no governo federal é autorizada se não tiver a garantia do recurso, porque dá nisso. Imagine uma obra de R$ 100 milhões e resolvem colocar primeiro R$ 10 mi e depois vê o resto. Aí a construção já vira ruína. Então primeiro precisamos trabalhar projeto, garantia de recursos, e depois garantia de término independentemente de quem é o governante. Então temos que garantir o projeto para não acontecer o que aconteceu com o metrô. Havia verbas para terminar, mas como ele foi recheado de problemas de planejamento, foi sendo atropelado e uma obra que já poderia estar servindo à sociedade se arrasta até hoje.
 
BN – Ele foi construído a vários pedaços, como um Frankenstein...
 
WP – Eu sou da opinião de que hoje a gente tem que terminar (a construção). Se você for raciocinar do ponto de vista de Salvador, nós tínhamos coisa melhor a apresentar. Coisas feitas na época do governador Roberto Santos. Estamos fazendo a execução da Ferrovia Oeste e que foi um sujeito chamado Vasco Neto que, na década de 60, apostou e ousou que era importante que a Bahia tivesse uma ferrovia leste-oeste. Assim como Roberto Santos apresentou projetos interessantes para o sistema de transportes. Depois o próprio governo de Mário Kertész também trouxe propostas interessantes que os governantes não deram sequência e insistiram de forma abrupta em colocar uma obra de metrô na cidade desconhecendo propostas levantadas no passado. Por isso que eu insisto que a continuidade, principalmente do planejamento, é muito importante. Então a posição da Seplan de contratar projetos, elaborar outras coisas para que outros que por aqui hão de passar possam inclusive ter essa produção para depois não nos acusarem de alguém ter pensado mas deixado as gavetas vazias e não permitir a continuidade. Assim, no futuro isso pode ser aproveitado para a cidade.
 
BN – A Proposta de Manifestação de Interesse na Ponte Salvador-Itaparica significa que qualquer pessoa possa depositar junto ao governo propostas e sugestões de como o projeto poderia ser feito. Mas também sabemos perfeitamente que os projetos mais complexos e qualificados serão apresentados por grandes empreiteiras. Como garantir que este fato não vai, em um futuro edital, beneficiar deliberadamente esta ou aquela empresa?
 
WP – Acho que não. Claro que o cidadão comum, dentro de suas limitações, teria dificuldades de elaborar e contratar arquitetos e fazer uma sugestão complexa. Mas ele pode, na sua simplicidade, sugerir que poderia ser feito assim ou assado, passar por aqui ou por lá. A partir dessa sugestão, você incorpora isso, passa a fazer parte do seu planejamento, e quando você licitar, essas ideias e diretrizes podem agora ser contratadas por alguém que tenha capacidade de transformar essas linhas iniciais em projetos concretos, coisa que isoladamente o cidadão não poderia fazer. É uma forma de permitir que essa ideia seja aproveitada. E se a sugestão dele for aproveitada, há inclusive como fazer com que o ganhador da licitação tenha que remunerar o autor daquela ideia. Ele teria de receber por isso. Na realidade, por que fazemos isso? Para evitar que só quem tem uma megaestrutura possa sugerir para a nossa cidade. Não estou nem condenando nem privilegiando. É importante que essas empresas existam e trabalhem nesse sentido. Elas têm estrutura, capacidade de um olhar mais criterioso, mas também podem apontar coisas que têm nível de direcionamento que interessa muito mais à obra do que o que a obra tem a oferecer à sociedade. Estamos inovando na Bahia, mas tenho que dizer que, abrindo uma Proposta de Manifestação de Interesse, não estamos inventando a roda. Esse processo existe em vários lugares do Brasil e inclusive é regulamentado por legislação federal. Estou apenas pegando uma ideia e colocando em funcionamento em um momento importante na nossa história. Fizemos na mesma intenção, mas um pouquinho diferente, na Fonte Nova. Se abriu aí uma apresentação de ideias ao Estado e depois fizemos a escolha do modelo e depois uma licitação para quem quisesse construir. Na Ponte a gente faz mais ou menos isso, mas ampliando. Estamos permitindo que várias pessoas apresentem propostas e estamos ampliando para além de uma ponte, especialmente porque vamos envolver vários municípios e esses segmentos também têm de participar disso. Assim, tentamos diminuir ao máximo as distorções que um projeto desse tamanho poderia ajustar.
 

"Outro dia nos criticaram por estarmos reconstruindo a Fonte Nova com uma empresa oferecendo pra construir um estádio novo de graça. Até hoje estamos esperando essa graça."
 
BN – O projeto recebe muitas críticas, tanto da mídia quanto de adversários políticos. O que o senhor acha dessas críticas e por que acha que elas acontecem?
 
WP – Ah, não tem problema, não, a crítica é natural. Tem muita gente que diz que poderia ser feita outra coisa, mas o que é investir em outra coisa? Estamos sentindo uma necessidade de preparar o estado para crescer e isso não se faz sem infraestrutura. Dizem que deveríamos trazer empresas para cá, para gerar emprego e renda. Mas essas empresas só vêm se tiverem condições de escoar a produção, se tivermos estradas, energia, mão-de-obra. As pessoas reclamavam que a Ford trazia gente de fora para trabalhar aqui, mas não havia na cidade pessoas qualificadas para trabalhar lá. Por isso foram feitas parcerias com universidades, escolas técnicas, para botar a nossa mão-de-obra em condições de encarar o processo. Hoje a Ford considera que a mão-de-obra baiana é a melhor do Brasil. Então aparece muita crítica. Reclamam que só falamos em fazer a ponte, mas também fazemos hospitais, sistema de abastecimentos de água, fazendo novos pontos de luz, estamos abrindo a possibilidade para a chegada de mineradoras, processadoras de algodão, indústria têxtil, fazendo o novo estádio para a Copa. E aí aproveitamos a oportunidade da Copa, a chegada de recursos para fazer estradas, e dizemos ao Governo Federal que nos arrume mais dinheiro para melhorarmos o sistema viário. A Copa vai nos entregar quatro jogos em Salvador e depois ela vai embora. E o que vai ficar? Então temos que aproveitar o que fizeram Barcelona, Melbourne, Berlim. E mesmo assim vão acontecer críticas. Outro dia nos criticaram por estarmos reconstruindo a Fonte Nova com uma empresa oferecendo pra construir um estádio novo de graça. Até hoje estamos esperando essa graça. Eu sei que de graça até injeção na testa, mas até hoje não apareceu nem a seringa, quanto mais o conteúdo.
 
BN – Mudando de assunto, faz quase um ano que Walter Pinheiro é secretário de Planejamento. Nesta época, o senhor foi trazido diretamente de Brasília juntamente com Nelson Pelegrino (Justiça) para reforçar a gestão estadual em um período em que o governo passava por uma situação bastante delicada, sendo muito criticado por não ter conseguido realizar o tanto que havia prometido. O senhor acha que esta atitude por parte do governador foi drástica? Trazer de volta a “nata” para o governo mesmo que a representação nacional baiana perdesse força com isso?
 
WP – Eu não diria “nata”, porque senão estaria dizendo que existe uma borra no Estado, não é (risos)? Os companheiros que aqui estavam são “nata”, também. Mas o governador acabou utilizando o expediente de puxar alguns quadros para a administração, primeiro entendendo o momento. Era um momento em que se precisava de quadros que tivessem o conhecimento do que estava acontecendo no plano nacional, trânsito no cenário nacional, que pudessem contribuir no momento de dificuldade. A crise trouxe problemas para o Governo da Bahia e nós saímos para buscar alternativas. A negociação com o Governo Federal, a busca de recursos em locais onde não tinha corte, que se encaixassem perfeitamente nos projetos da Bahia. Portanto, a ideia do governador foi tentar reforçar o time naquele momento trazendo pessoas que poderiam contribuir. Eu diria que não tenho essa sensação de dever cumprido; ainda falta muita coisa para fazer. Mas estou na Seplan há menos de um ano, cheguei nela em 20 de março de 2009, mas diria que vivi intensamente esse período aqui na secretaria e poderia fazer uma leitura de que, primeiro, foi uma experiência interessante para mim, que vivia no parlamento. Segundo, a forma como pude pegar o bonde andando e ajudar a trocar alguns dos pneus mesmo em movimento e deu certo. Foi um trabalho conjunto e foi possível colocar o nosso carro para andar de uma forma melhor. Fechamos o ano de 2009 de uma forma positiva. A Bahia gerou mais empregos, aumentou a arrecadação. Obviamente seria muita presunção dizer que isso aconteceu porque o secretário chegou e mudou tudo. Mas acho que dei uma contribuição. Mas eu diria que foi um acerto da política em geral adotada pelo nosso governo que acabou resultando isso? E quais foram esses acertos? Primeiro, a injeção de recursos na economia. Mesmo em um período de crise, apostamos em manter um nível de investimento alto na área de infraestrutura. Isso resolveria problemas graves na Saúde, Segurança, Educação e Infraestrutura e, ao mesmo tempo, gerava postos de trabalho. Fazendo isso de forma descentralizada, permitia também que essa movimentação econômica acontecesse em diversas regiões do estado. Em 2009, mais de R$ 600 mi colocados pelo Estado na massa salarial. De janeiro de 2007 até novembro de 2009 a Bahia gerou mais de 175 mil postos de trabalho. Destes, 75 mil foram gerados em 2009. Isso foi importante para aumentar o consumo e agora a atividade econômica no varejo e atacado cresceu bastante. Soubemos adotar também políticas para ir de encontro à isenção do IPI de produtos como linha branca e automóveis, nós sabíamos que isso ia nos prejudicar, porque sabíamos que isso era injeção direta no Fundo de Participação dos Estados (FPE). Por outro lado, aproveitamos isso e estimulamos o consumo interno para que esse dinheiro voltasse no consumo via ICMS. Então combinamos isso. Muita gente nos criticou, xingaram o secretário da Fazenda (Carlos Martins). Mas apostamos em programas que seguiam por uma linha de estimular a atividade industrial na Bahia, o comércio, a construção civil.
 

" (Na Seplan) Eu diria que não tenho essa sensação de dever cumprido; ainda falta muita coisa para fazer"
 
BN – Houve também uma grande ação inicial de cortes de gastos e até mesmo ela foi bastante criticada. Como isso se junta às ações de investimento?
 
WP – eu me lembro que a minha primeira medida aqui foi fazer contingenciamento. E aí disseram que o governador trouxe para a Seplan um cara que queria dificultar ainda mais o que já era difícil. Então passei a faca. Avisamos à secretaria de que todos tinham de vir para um eixo central. Isso é planejamento. Cada secretaria tem que agir de acordo com um planejamento central. Buscamos convênios, recursos fora do Estado. Buscamos uma linha de crédito com o BNDES, fechamos um acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento para os projetos prioritários e dissemos a cada secretaria que cortasse o que achávamos que poderia ser adiado. Houve também uma grande campanha para evitar desperdícios. Houve uma grande economia em consumo de água, luz, racionalização em uso de veículos. Vou dar um exemplo micro. Havia aqui na Seplan o costume de o secretário ter carro oficial para ir para casa. Mas isso em um momento de crise? Eu, por exemplo, ando com um carro. Ando com a minha placa de secretário e, para todo lugar que eu for como secretário, eu vou com esse carro. Depois, eu uso o meu carro. Outro exemplo: em um lugar onde se trabalha precisa haver quatro, cinco impressoras? Para o cara ficar se divertindo imprimindo notas de internet? Chamam isso de trabalho de formiguinha, mas juntando com “n” ações, isso resulta em uma grande economia. E mais do que a economia financeira você tem a relação pedagógica. Assim, o sujeito aprende que, economizando com palitos, é possível também economizar com as coisas grandes. E com isso se evita obras faraônicas, desperdício , dispersão de investimentos, e o Estado pode funcionar mesmo em um momento de crise de forma correta. Eu diria que, para mim, foi um aprendizado muito grande. Eu cresci como cidadão e inclusive como agente político. Quando o governador me chamou, eu cocei a cabeça. Porque no início do governo, o governador me chamou e eu não topei, e agora estava me chamando exatamente em um momento de crise? Então pensei: “vou pegar a galinha pulando a mil graus de temperatura”. Então era a hora de ir. Ir na boa é sempre bom, mas em uma hora dessa é que é importante para saber como as pessoas podem contribuir. Eu estava em uma fase no Congresso Nacional de extrema tranquilidade, trabalhando bem na Comissão de Ciência e Tecnologia, conduzindo as questões do Orçamento na liderança do governo. Foi esse perfil exatamente que permitiu que o governador me chamasse, pela experiência nessas questões. Foi fundamental o governador ter feito uma rearrumação que, se também foi política em algumas secretarias, teve também uma prioridade de montar quadros que pudessem superar a crise política e responder a questão administrativa.
 
BN – Voltando um pouco no tempo, o senhor viveu de perto a batalha das eleições para a Prefeitura de Salvador em 2008 na derrota para João Henrique, em que PT e PMDB se opuseram de forma bastante feroz. Acha que, inclusive, este processo foi o principal motivo da crise entre PT e PMDB no plano estadual, mais até do que as discordâncias que o ex-aliado tinha em relação à forma de gestão do PT?
 
WP – Eu diria que não. Eu fui até uma das pessoas que, até o último momento, tentaram a manutenção da aliança em Salvador. Só decidi ser candidato depois que o PT abandonou a administração municipal. Fui inclusive a uma disputa interna nas prévias com Nelson Pelegrino. Então tentamos fazer o debate com o PMDB e não foi possível. O PT decidiu sair da administração e virei candidato depois disso. Na realidade, aquele foi um momento com características diferentes da crise de agora. Antes de qualquer atitude de sair, o PMDB fez duras críticas ao governo e começou a fazer inclusive uma série de plenárias fora para discutir o governo estando dentro do governo, ocupando duas secretarias importantes...
 
BN – O senhor diria que o PMDB fez uma “cama-de-gato” no PT?
 
WP – Não, eu sou muito cuidadoso ao tratar desse assunto. Tenho muito cuidado com adjetivos porque eles nos colocam em problemas e voltar atrás é complicado. Acho que o PMDB consolidou uma divergência a partir de um projeto. Naquele momento, creio que muita gente acreditava que o projeto encabeçado por Jaques Wagner poderia chegar a um naufrágio. E aí imaginaram que essa nau não conseguiria ultrapassar os terremotos da crise e começaram a construir um caminho para tentar se apresentar como uma alternativa adiante. Foram adjetivando tanto que ficaram sem condição de remar em conjunto conosco e remaram para outro caminho. Não acredito nesse negócio de sangria desatada. Até porque temos uma relação nacional com o PMDB, ele faz parte do nosso projeto nacional de novo. Eu encaro isso com a maior tranquilidade. Enxergamos caminhos diferentes. O PMDB enxergou uma possibilidade de começar um novo processo e a partir daí, legal, cada um vai trilhar seu caminho. Nós vamos disputar esse pleito de 2010, cada partido vai apresentar seu projeto e a sociedade baiana vai escolher o melhor. São projetos diferentes e eu acho pouco provável que, para esse primeiro turno, haja alguma possibilidade de reconciliação para seguirmos juntos.
 
BN – Após a sua derrota na prefeitura, o governo de João Henrique mudou muito pouco e até ocorre um processo interessante que dá conta de que, em toda a cidade, diz-se que quem é o prefeito de fato é o vice, Edvaldo Brito. O que o senhor acha da atual gestão do prefeito e, se tivesse sido eleito, como seria a administração de Salvador?
 
WP – Eu diria que para mim seria fácil dizer que, se eu estivesse na prefeitura, nós estaríamos em um mar de rosas e não em um mar de lama. Mas se eu dissesse isso, estaria sendo injusto e leviano. E como eu tenho pautado a minha vida no cuidado com as coisas que a gente fala, se eu fosse prefeito, teria a oportunidade de praticar as coisas que eu penso. Como não sou prefeito, não me é dado o direito de arvorar dizer que estaria fazendo isso ou aquilo porque é muito simples. Creio que a administração municipal passa por uma série de dificuldades. Uma delas é lastreada na própria estrutura da prefeitura que é a capacidade de ação da cidade de Salvador. Eu disse isso na campanha e digo isso ao próprio prefeito sem nenhum problema. Salvador é uma cidade que não tem nenhuma capacidade de investimento, o que não é nenhuma descoberta mirabolante minha. Acho que todo mundo que analisa e estuda a cidade sabe disso. É uma cidade que, durante anos a fio, funcionou como um grande escritório do governo do Estado. Quem dirigiu Salvador nessa época terminou não preparando a cidade para seu desenvolvimento econômico, para dar serviços melhores à população. Acho que o Estado tem uma obrigação com a cidade, que é a maior da Bahia. Sei que tem obrigação com os outros 416 municípios, mas nós estamos falando da capital. A cidade precisa passar por essa reformulação. Então foi isso que lamentavelmente a gente não assistiu nos governos das diversas administrações. Se você imaginar a gestão de Salvador de 1985 para cá, não se estabeleceu nenhum novo debate sobre a preparação de atender às suas necessidades. Salvador só cresceu de lá para cá. Eu posso seguramente dizer que Salvador hoje é uma cidade com um volume expressivo de problemas ocasionados por ser a única meta do Estado, pois todo mundo só vem para cá. Mas tinha de ter sido pensado isso. Hoje, acho que o grande debate sobre Salvador que precisa ser feito é a questão do desenvolvimento. A questão central da cidade hoje é de logística mas que passa pela geração de trabalho e renda no município. Salvador era uma cidade que tinha muita indústria. Eu mesmo morei ao lado de uma fábrica de chocolate. Então precisaria dar uma virada nisso. E a virada é turismo, serviços. Por isso defini recentemente uma posição contrária à retirada do Porto de Salvador. É a maior atividade econômica do Município. Você pode adequar o porto de maneira a aproveitar uma parte expressiva daquilo para o turismo e outra para a atividade econômica. Eu não quero debitar na conta do prefeito João Henrique os problemas acumulados. 
 
"(O prefeito João Henrique) é um processo que foi sendo transferido de gestão para gestão e acabou recebendo um pacote que não é fácil."
 
BN – Então é um prefeito que acaba pagando o pato?
 
WP - Eu diria que ele é um processo que foi sendo transferido de gestão para gestão e acabou recebendo um pacote que não é fácil. Eu me lembro de uma frase dita pela minha filha depois do resultado da eleição. Depois do pleito, ela me disse, com lágrimas nos olhos, que sentia muito o fato de eu ter perdido a eleição, mas que por outro lado eu deveria enxergar o que é que Deus estava me dando de presente naquele dia. Se eu não estava me livrando de um abacaxi. Então, recentemente, eu disse a ela que a cada dia estou amolando a minha faca para descascar esse abacaxi. Se Deus quiser me dar essa graça, estou disposto a descascar o abacaxi de Salvador. Eu me sinto mais preparado e afiado do que ontem.
 
BN – Em 2010, o senhor fica secretário ou se candidata? 
 
WP – Digo que, prioritariamente, minha posição é disponibilizar o meu nome ao PT para disputar a chapa majoritária. Sei que o PT já tem o nome de Jaques Wagner para a chapa majoritária. Há uma discussão envolvendo os nomes do Senado, ainda tem a vaga de vice. Pode acontecer inclusive que o PT tenha de abrir mão dessas três vagas e ficar só com a majoritária e aí eu teria de repensar a minha posição em relação a 2010. Mas eu tenho até 31 de março para pensar nisso. Mas continuo com a posição de disponibilizar o meu nome para a chapa majoritária. Ou para o Senado, ou como vice. E a partir daí que vou decidir. E até lá, se o PT decidir que não lhe cabe mais nenhuma vaga além da de governador, eu vou rediscutir com a minha base eleitoral se eu volto a disputar a renovação do meu mandato.