Vovô do Ilê celebra Circuito Mãe Hilda de Jitolu e promete novidades para Carnaval de 2021
Por Jamile Amine / Ian Meneses
Reivindicação de quase uma década na comunidade, o percurso do carnaval da Liberdade e adjacências foi oficialmente reconhecido como Circuito Mãe Hilda de Jitolu, em homenagem a uma das figuras mais célebres do bairro de Salvador, a ialorixá fundadora do terreiro Ilê Axê Jitolu, que morreu aos 86 anos, em 2009.
Em 2011, o prefeito João Henrique Carneiro (PP) sancionou o Projeto de Lei nº 406/09, da vereadora Léo Kret do Brasil (PR), mas a consolidação do tributo, no entanto, só acontecerá no ano de 2021, porque, segundo o Conselho Municipal do Carnaval e Outras Festas Populares (Comcar), é preciso adequar a logística e o funcionamento do novo circuito. “Eu fico feliz. É bom, porque a Liberdade sempre teve um carnaval forte, desde antes da fundação do Ilê Aiyê. A gente vem de 2011, da época do prefeito João Henrique, mas não foi reconhecido oficialmente. E agora foi e isso é muito bom pro carnaval da cidade, pro carnaval da Liberdade. Vai ajudar a desafogar mais o centro, trazer mais atrações da Liberdade, que já é consolidado com a saída do Ilê aqui no sábado”, comemorou Vovô do Ilê, presidente fundador do bloco Ilê Aiyê e filho de Mãe Hilda.
Para celebrar a oficialização do novo circuito da festa, o bloco já se mobiliza. “Vamos nos reunir pra ver o que nós vamos fazer. Uma das propostas que nós vamos trazer é que, além do desfile, a Band'Aiyê também se apresente no palco da Liberdade a partir de 2021”, revela Vovô, destacando que a iniciativa tende a fortalecer a folia que já existe na comunidade, além de atrair outros artistas. “Já tem o desfile do bloco Erê do Ilê, tem o bloco Mangueirinha, tem Alabê com um blocão, Amigos de Dadá... Tem vários blocos aqui na Liberdade, tem As Nigrinhas, aqui do Curuzu, tem muitos blocos aqui no redor e os outros também. A oficialização do circuito pode trazer outras atrações”, projeta o presidente do Ilê, defendendo que o Circuito Mãe Hilda de Jitolu será positivo para o comércio e a população local, que poderá curtir o carnaval sem se deslocar do bairro.
MÃE HILDA DE JITOLU
Nascida no dia 6 de janeiro de 1923 em Salvador, Hilda Dias dos Santos faleceu aos 86 anos em 19 de setembro de 2009, em um hospital de Lauro de Freitas, por problemas cardíacos (clique aqui).
Mãe de santo que fundou e comandou por mais de 50 anos o terreiro Ilê Axê Jitolu, na Liberdade, ela, que era orientadora espiritual do Ilê Ayiê, é mãe de Antônio Carlos dos Santos, Vovô, presidente fundador do bloco.
BOM SENSO E BOA VONTADE
Segundo o presidente do Comcar, Jairo da Mata, antes de oficializar o novo circuito será necessária a adequação a questões fundamentais já trabalhadas em todos os pontos oficiais da festa, como segurança, limpeza e adequação de equipamentos utilizados nos eventos. “Falta ainda a logística da Polícia Militar, a logística da Semop [Secretaria de Ordem Pública], que engloba a Limpurb, vigilância sanitária, a Secretaria de Segurança Pública (SSP), além da vistoria de equipamentos. Esse é todo um procedimento que é feito nos circuitos oficiais e que deverão se adequar lá no novo circuito”, disse Jairo.
A escolha de 2021 como ano de consolidação do circuito, de acordo com Jairo, baseou-se no “bom senso”, levando em conta a questão orçamentária relativa a disponibilização de recursos liberados pela administração municipal e estadual. Sobre a verba que deverá ser investida no novo circuito, Mata chama atenção para a necessidade de um “estudo acerca de quantas entidades vão desfilar em todo o seu trajeto”. Ele, no entanto, acredita que o Circuito Mãe Hilda de Jitolu não venha trazer aumento de gastos significativos.
“Creio que não impactará muito, haja vista que os órgãos de administração já se preparam para o Carnaval na Liberdade. Lá já ocorre desfile com o trio, tem um palco oficial, então toda essa logística do ponto de vista dos órgãos da administração já está lá. O custo poderá aumentar em face do volume de entidades que poderão desfilar lá, mas já existe um Carnaval com o desfile de algumas entidades como blocos infantis e o Ilê, que possuem apoio dos órgãos da administração”, afirma.
A demora de cerca de 10 anos para a oficialização do circuito é tratada pelo presidente do Comcar como uma questão de “vontade política”. Mas a proposta de efetivação do projeto para 2021, as ponderações de órgãos como a Polícia Militar, além dos argumentos favoráveis do colegiado contribuíram para a decisão favorável à concretização da proposta.
Por fim, Jairo acredita que a consolidação de circuitos oficiais como o de Mãe Hilda de Jitolu, na Liberdade, soma-se a uma iniciativa importante para a retomada das raízes carnavalescas característica da festa soteropolitana. “É preciso fomentar essa cadeia produtiva da comunidade, para que nós possamos retornar de fato aquele grande Carnaval que é feito da comunidade para o Centro e para o mundo. Entendemos que a comunidade volte a ser o centro das atenções e que possa revelar grandes músicos e grandes compositores para alimentar essa grande festa", concluiu.