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Após lutar contra Guillain-Barré, baiana escreve livro com história de fé, luta e solidariedade

Por Jamile Amine

Após lutar contra Guillain-Barré, baiana escreve livro com história de fé, luta e solidariedade
Foto: Arquivo Pessoal

Hoje aos 41 anos, a funcionária pública caculeense Jardelina Carvalho pretende imprimir nas páginas de um livro sua história de fé, solidariedade e luta, após ter sido diagnosticada, em 2014, com uma grave e incurável doença autoimune. 


“Num dia de domingo acordei e senti que a ponta do dedo estava adormecida”, lembra Jardelina, revelando ter visto sua vida virar de ponta a cabeça, diante do agravamento dos sintomas, que incluíram a perda da fala e da força muscular, chegando a impedi-la de andar. “Com três dias eu estava fraca, não ficava mais em pé, não engolia mais nada”, recorda, contando que uma semana depois teve o diagnóstico levantado por um neurologista, em Vitória da Conquista. “Ele olhou pra gente e falou: ‘ela está com Síndrome de Guillain-Barré’. A gente nunca tinha ouvido falar. E ele continuou: ‘é gravíssimo para constatar, mas eu sei o que ela tem”, relembra a baiana, que em seguida foi avisada sobre os altos custos do tratamento, que o único local ao qual poderia recorrer seria o Hospital de Base, em Conquista, e que seria muito improvável conseguir pelo SUS. “É como se ele estivesse me dando o atestado de óbito naquele momento, mas eu sussurrei: ‘tudo que ele está falando não é maior que o amor de Deus na minha vida”, conta Jardelina, que é Católica, integrante da Renovação Carismática, e costuma proclamar bons augúrios para atingir seus objetivos. 

 


A caculeense buscou na fé a força para lutar contra a doença | Foto: Arquivo Pessoal


Ela acabou conseguindo uma vaga no hospital, mas sua agonia ainda estava longe de ter fim. “É uma doença que você fica presa dentro de si, e por eu ser uma pessoa muito ativa  24 horas pra mim era pouco, de tanta coisa que eu fazia , foi difícil, de um dia pro outro, ficar presa dentro de mim sofrendo horrores”, conta a caculeense, que teve alguns exames acelerados, com a ajuda de um amigo da família. “Depois de ter ficado no corredor, fui para uma sala e nem imaginava que iria passar por muitas outras coisas piores. E aí me veio: eu nem tenho o dom da escrita, mas preciso fazer algo. Eu estava entubada, tentando falar, sem voz, e uma enfermeira tentou entender o que eu estava falando”, lembra Jardelina, contando como percebeu que deveria escrever um livro para contar sua história. “Eu tinha a vontade de escrever, eu sabia que era algo muito grandioso. Quero transmitir para as pessoas essa fé e amor de Deus incondicional”, explica.


Jardelina acabou ficando internada por cerca de duas semanas. “Teve o processo do tratamento com imunoglobulina, mas eu precisava de tratamento de seis meses. Quando saí do hospital ele [o médico] falou que era fisioterapia e seguir a vida, mas eu saí paralisada”, lembra. Com 15 dias, no entanto, quando esboçava os primeiros passos, ela teve uma piora. “Quando comecei a ficar em pé, com 15 dias caí de novo. Não ficava mais em pé, o movimento das mãos demorou muito pra voltar, parecia que tinha areia nas mãos, eu não falava, meu marido que escovava e passava fio dental nos meus dentes”, conta a caculeense, cujo esposo teve que deixar o trabalho para se dedicar integralmente à sua recuperação.

 


A família, assim como os amigos de Caculé, tiveram papel imprescindível para a recuperação de Jardelina | Foto: Arquivo Pessoal


Diante do problema, Jardelina procurou outro neurologista, que deu uma notícia ainda mais complicada para a paciente. O problema era crônico e o tratamento previa seis aplicações de medicamento, com custo em torno de R$ 7 mil, cada. “Ele chegou a falar, 'se vocês tiverem carro, casa, nem pensem em vender, porque vocês vão ficar sem nada e isso não vai adiantar'”, conta a baiana, que tem duas filhas e viu suas despesas explodirem, com custos de deslocamento para as consultas médicas, exames, remédios e demais necessidades decorrentes da doença. 


A primeira aplicação do medicamento ela recebeu no hospital, mas as demais não sabia como iria conseguir. Entrou na Justiça para solicitar que o Estado dispusesse, mas não teve êxito. Acabou recebendo a segunda da prefeitura de Caculé e a terceira veio da criatividade e do espírito solidário de seus conterrâneos. “Uma amiga, muito angustiada, vendo que eu precisava da medicação e o Estado não liberava, teve uma ideia. Muito católica, ela falou para a gente fazer uma campanha solidária com o nome ‘Se vira nos 30, amigo do coração”, conta a caculeense, que é muito conhecida por ser merendeira e vender trufas na cidade. “Cada amigo era convidado a conseguir R$ 250 para somar R$ 7.500 em três dias. Com três dias eu tinha mais de dez mil! Aí a gente comprou a medicação e muitas outras coisas que precisava, já que meu marido parou de trabalhar para cuidar de mim”, lembra Jardelina, que além das doações em dinheiro, recebeu total apoio da população de Caculé. “Eles diziam que o dinheiro não era para a gente comprar nada para casa. Levavam cesta com arroz, comida de criança, não me faltou nada”, conta, agradecida pelo apoio do povo de sua cidade.

 


A perseverança de Jardelina lhe rendeu enorme progresso e ela é referência para os colegas nas sessões de pilates | Foto: Arquivo Pessoal


Após esse período crítico, a merendeira seguiu recebendo ajuda para o custeio do tratamento, e o Estado finalmente liberou o medicamento a partir da quarta aplicação. Hoje, mais recuperada, ela segue fazendo revisões periódicas e pratica pilates para estimular o fortalecimento muscular. “Tem certas coisas que mudaram, mas levo minha vida normal, não quero ser coitadinha. Eu era merendeira e fazia a melhor merenda do mundo, meu tempero era mais amor. Mas mudei de função, hoje estou na escola trabalhando, dando reforço”, conta Jardelina, que pretende contar detalhes emocionantes dessa história no livro “A alegria de viver - Relatos de quem venceu a Guillain-Barré”. “Pra dar forma de um livro, tem uma amiga minha que está digitando, tirando palavras do material para mandar para uma professora que vai corrigir pra mim sem cobrar. E agora estou na esperança de depois, quem sabe, apareça alguém interessado em ajudar na publicação”, explica Jardelina, que tem como filosofia de vida a seguinte frase: “Vá firme na direção da sua meta, porque o pensamento cria, o desejo atrai e a fé realiza”.