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Zelito Miranda defende respeito à tradição no São João e evolução no forró

Por Jamile Amine

Zelito Miranda defende respeito à tradição no São João e evolução no forró
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias

Criador do “Forró Temperado”, estilo que, em sua essência, valoriza as diversas influências e o “não purismo” da arte, Zelito Miranda defende a tradição da festa junina e não apenas da música, que, para ele, deve evoluir. “Eu acho que a tradição, enquanto festa, enquanto marca São João, deve ser preservada. Agora, enquanto trilha sonora, forró, a música não é estática. Ou os forrozeiros também avançam na sua sonoridade, ou vão ficar numa mesmice de anos”, pondera. Nesta linha, atento às mobilizações dos músicos na campanha “Devolva Meu São João” (clique aqui e saiba mais), o cantor e compositor baiano diz ser simpático ao movimento, mas que discorda do discurso anterior, de “resgate o São João”, por considerar tal expressão equivocada. “O São João não está se afogando. Quem precisa de resgate é quem está sendo afogado. Mas, muito pelo contrário, o São João está vigorado, é a maior festa que nós temos no Brasil hoje, em termos de tudo, movimentação financeira, movimentação artística, é a festa que mais gera emprego e renda”, afirma o músico, destacando, no entanto, a necessidade de empoderar “quem é de direito”, já que, segundo ele, em referência à entrada em massa do Sertanejo nestas festas, há “uma tentativa de se arrancar isto do nordestino”. 

 

Zelito diz que nomes já consolidados, como ele, não sofrem tanto com a “invasão” do estilo musical forasteiro, mas afirma que este fenômeno compromete a renovação da tradição junina. “A gente tem uma galera que está começando e, para que esta festa e esta trilha sonora do São João, que é o forró, seja mantida e revigorada, ela precisa de gente nova”, pontua, atribuindo aos velhos e novos forrozeiros a legitimidade artística e cultural dentro da festa tipicamente nordestina. “Está havendo uma tentativa de massacre mesmo, dos valores juninos. É desconexo”, completa Zelito, lembrando a decepção de um amigo suíço, que faz parte de um grupo de forró no país europeu, ao visitar o interior da Bahia no São João. “Ele foi para uma cidade no interior, não vou dizer o nome pra não criar problema, e quando chegou lá, as atrações principais eram Jorge e Matheus e Luan Santana. Ele saiu de lá de Zurique pra dançar forró e só foi achar no Pelourinho”, contou.

 


Zelito considerou "inconsequente" e condenou a resposta dada por Marília Mendonça a Elba Ramalho sobre a polêmica do sertanejo no São João | Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias

 

Para o artista, o modelo do sertanejo é antigo e “perigosíssimo”. “O formato do sertanejo é invasor. Se você pegar recentemente, aquela cantora que eu nem ouço as músicas dela, aquela mulher é inconsequente”, disse ele, referindo-se a Marília Mendonça. “Ela pode até ter um trabalho legal, eu não conheço realmente, de fato, vi algumas coisas dela ligando no rádio, mas ela é inconsequente. A resposta dela, ‘vai ter sertanejo’, essa arrogância, falar mal de uma pessoa como Elba [Ramalho], é, no mínimo, inconsequente”, reiterou o músico, sobre a polêmica entre Marília e a cantora paraibana (clique aqui e saiba mais).  “Graças a Deus ela [Elba] canta cultura nordestina, forró”, diz Zelito, destacando-a como um dos “astros que brilham no São João”. “Então, nessa discussão entrou Alcymar (clique aqui para lembrar), entrou Santanna, e principalmente os pernambucanos, porque mexeram num território complicado”, acrescentou. 

 

Criticando o formado “industrial” do sertanejo, Zelito Miranda ponderou, no entanto, que a discussão não deve ser levada para o trabalho dos artistas. “Cada um canta o que quer, né? Eu acho que é um direito. Agora, os contratantes estão errados, estão indo pelo vil metal, pela grana. E eles podem destruir uma cena, que é uma das mais fortes que nós temos hoje no Brasil. Hoje, São Paulo está fazendo festa junina, pena que Portugal cancelou, por conta do incêndio, mas o mundo todo tem feito essa festa. Nós temos hoje catalogados 43 festivais de forró na Europa, que vai de Colônia na Alemanha, ao Oxford Forró”, salienta, afirmando que o São João é a única festa que tem indumentária, dança, culinária, e música própria, representando a riqueza cultural de um povo.

 


Zelito recriou o ambiente do 'arraiá' nas dependências do Museu de Arte da Bahia | Foto: Saulo Brandão

 

Dentro deste contexto e contemplando todo esse conjunto, Zelito Miranda realiza, neste domingo (25), no Museu de Arte Moderna da Bahia, mais uma edição itinerante do Forró no Parque. No local, o público poderá curtir o forró do artista em um ambiente que remonta um “arraiá”, com barracas de comidas típicas e ornamentação temática (leia mais aqui).