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Marca Bahia Notícias

Notícia

Em Salvador para as filmagens de ‘Tungstênio’, Quintanilha não esconde fascínio pelo Brasil

Por Marcos Maia

Em Salvador para as filmagens de ‘Tungstênio’, Quintanilha não esconde fascínio pelo Brasil
Foto: Marcos Maia / Bahia Notícias
Mesmo vivendo em Barcelona há 13 anos, o autor de histórias em quadrinhos niteroiense Marcello Quintanilha não esconde seu fascínio pelo Brasil e pelo que compõem a vida no país. “Tudo que remete a vida brasileira remete a mim, no meu entendimento", avaliou em entrevista ao Bahia Notícia no início da noite da última quinta-feira (17). Em visita a Salvador para acompanhar as filmagens da adaptação cinematográfica do seu premiado romance ilustrado “Tungstênio” pelas mãos do diretor Heitor Dhalia (“O Cheiro do Ralo”), Quintanilha recordou que o embrião da ideia para a obra surgiu em 2005. Naquele ano, o artista havia sido convidado pela editora Casa 21 para escrever uma história ambientada em Salvador pela coleção “Cidades Ilustradas”.   

"Foi graças a esse trabalho, porque foi muito impactante para mim conhecer Salvador. Eu sempre fui muito interessado pela cidade, fascinado, e nunca tinha tido a oportunidade de conhecê-la até então. Foi muito impactante porque Salvador é uma cidade na qual é muito presente todos os fatores que amalgamados resultaram na sociedade brasileira que nós temos hoje. (...) Eu fiz outras histórias que transcorrem aqui e ‘Tungstênio’ é uma delas", contou. A obra lançada pela Editora Veneta em 2014 acompanha o cotidiano de seis moradores da capital baiana, entre os quais um policial recém-casado, papel que no filme será do baiano Fabrício Boliveira, e sua mulher, interpretada por Samira Carvalho. Essas personas acabam unidas por meio de um crime ambiental (a pescaria com bomba) que serve de fio condutor e espinha dorsal da narrativa.


Cena da adaptação de 'Tungstênio' | Foto: Divulgação

Quintanilha, que recusara outras ofertas de adaptação, disse que aceitou a proposta de Dhalia pelo histórico do realizador e segurança transmitida desde o primeiro contato. Mesmo acompanhando a rotina no set desde a última quarta-feira (16) e tendo trabalhado na primeira versão do roteiro, que posteriormente recebeu tratamento pelas mãos de Marçal Aquino e Fernando Bonassi, o autor garante que sua intervenção criativa na adaptação é a mínima possível. "Não tenho nenhuma participação a não ser a da presença. Eu posso conversar uma coisa ou outra com o Heitor mas não tenho nenhuma participação. Eu não sou uma pessoa de cinema, eu não tenho experiência nessa área", afirmou acrescentando que tem julgado todas as escolhas artísticas ligadas ao filme de maneira adequada e condizente com o espírito da obra. Ele permanece em Salvador acompanhando as filmagens até este domingo (20), quando parte para cumprir compromissos profissionais em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

Trabalhando com quadrinhos desde seus 16 anos, quando escrevia histórias de terror e artes marciais para a Editora Bloch, Quintanilha também atuou na indústria das animações até lançar "Feldade de Fabiano Gorila", seu primeiro quadrinho autoral, em 1999. “Nesse período eu comecei a trabalhar naquilo que eu acreditava que me definia como pessoa. De alguma maneira aquilo que eu gostava nos autores e desenhistas que eu admirava e lia na época (autores americanos, da Marvel e da DC) não traduzia aquilo que eu queria expressar como ser humano. Então, comecei a me inclinar às referencias que mais me definiam e me formavam como pessoa na cultura brasileira", relembrou.


Autor acompanhado do diretor Heitor Dhalia | Foto: Divulgação

Dessa maneira, influenciado por autores com João Ubaldo Ribeiro, Mário de Andrade e Mário Filho, Quintanilha começou a se aperfeiçoar, por exemplo, em uma das características mais notáveis em seus trabalhos: a transcrição da oralidade de uma maneira totalmente escorreita nos diálogos que escreve para seus personagens. “Sempre trabalhei também por encontrar uma maneira de escrever de uma forma correta a maneira errada de se falar. Trabalhar a língua dessa maneira sempre foi algo fascinante para mim porque quando você trabalha com regionalismos é necessário ter muito cuidado para não localizar a leitura, e tornar a experiência aceitável somente para quem tem conhecimento daquela região", explicou.

Já sobre a maneira como desenha seus personagens nas páginas, o autor afirma que apesar de ser influenciado por diretores de cinema, não pensa os quadrinhos que produz de uma forma cinematográfica. “O efeito cinematográfico da leitura que as pessoas sugerem no meu entendimento é um efeito quadrinístico puro e simples. Eu não trabalho a partir de analogismos com a linguagem cinematográfica. Eu não acredito na ideia de pensar no quadro como a lente de uma câmera. Um quadro é um quadro. Eu realmente acredito nisso", opinou.


Foto: Reprodução

Quanto ao atual momento que o mercado nacional de quadrinhos atravessa, Quintanilha afirmou que há muitas coisas interessantes sendo publicadas, mas enxerga com cautela a efetividade de uma base mais sólida para os próximos anos. “O Brasil vive e viveu muitos momentos, e alguns desses momentos vividos não resultaram em nada. Então acho prudente a gente esperar um pouco para ver onde esse momento vai resultar. Acho que é um momento singular que se consolida a partir da condição de que você consegue ampliar a gama de leitores interessados na leitura de quadrinhos. Se você não consegue isso o momento resulta em algo estéreo", concluiu.