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Marca Bahia Notícias

Notícia

‘Brasileiro tem medo de tudo’, diz baiano vencedor de prêmio com romance sobre morte

Por Jamile Amine

‘Brasileiro tem medo de tudo’, diz baiano vencedor de prêmio com romance sobre morte
Foto: Reprodução / Facebook
A morte e o comportamento das pessoas diante dela foram os pontos de partida do baiano Franklin Carvalho para desenvolver o livro “Céus e Terra”, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2016, na categoria Romance (clique aqui e leia). Nascido em Araci, ele formou-se jornalista em 1995 pela Universidade Federal da Bahia, para aproximar-se da escrita. Seus primeiros trabalhos literários foram em poesia e contos, tendo lançado dois livros independentes: “Câmara e Cadeia” e “O Encourado”, ambos ambientados na realidade baiana. Em sua mais recente obra, a premiada “Céus e Terra”, Franklin decidiu inclinar-se para a ficção, e, através de intensa pesquisa, iniciada em 2006, com direito a viagens a lugares distantes, ele conseguiu contar uma história ambientada em uma realidade bem próxima: o sertão nordestino. “Resolvi fazer uma pesquisa sobre a morte e a religiosidade no sertão. Li muita coisa que até poderia apavorar muita gente, mas não me apavorei (risos)”, lembra o autor. “Pesquisei gente de antropologia, filosofia, religião, a tradição católica. Frequentei igrejas, cemitério. Fiz matérias também sobre antropologia da morte, como aluno ouvinte; viajei ao México, para ver a festa dos mortos; para a Itália, para ver a devoção das almas do purgatório”, conta.
 
O enredo do romance é sobre a história do menino Galego, que aos doze anos é convocado para salvar um cigano crucificado e acaba morrendo. Transcendendo a morte, o garoto acompanha uma família de pessoas humildes, observando seus momentos de alegria e de dor, e, principalmente, o comportamento delas diante da religião e da morte. “O sertão tem essa coisa muito marcada, da tristeza, do sofrimento. Eu achei que tinha algumas coisas de riqueza mesmo que o sertão tem, com relação a esses mitos, ai comecei a ouvir pessoas lá, entrevistar, e ao invés de fazer o mestrado, eu escrevi o romance”, revela Franklin, que destaca na obra o papel das viúvas e das mulheres em geral, além das crianças, que seriam personagens mais vulneráveis naquele universo.
 

O autor viajou ao México para ver a festa dos mortos | Foto: Arquivo Pessoal
 
Além do romance, o trabalho de pesquisa realizado pelo jornalista baiano lhe rendeu alguns frutos. “Já tive alguns entendimentos que me propiciaram fazer esse livro. Uma das conclusões do filósofo francês Edgar Morin é que o grande mistério na verdade não é a morte, mas a vida. Porque até as pedras estão paradas no seu lugar. O que se deveria perguntar é ‘como é que as coisas surgem?’, ‘como elas se movimentam?’. Então, nessas dúvidas que o homem tem sobre a morte, a vida sempre vence. E esse entendimento eu levei pro livro. É uma história que se passa no sertão, com uma família que sofre com a perda de um parente, mas que aprende também a superar isso”, explica o autor baiano, que vê algumas semelhanças entre a postura humana diante da morte em diversas sociedades, mas avalia o brasileiro como um povo “muito medroso”. “De todas as culturas que eu vi, nós somos a que tem mais problema para lidar com a morte, justamente porque a gente não tem muita clareza da fé católica brasileira. Misturamos muitas lendas e isso deixa a pessoa muito fragilizada”, avalia o escritor, acrescentando que “o brasileiro tem medo de tudo, tem medo de espírito, tem medo de diabo, de Saci Pererê, é um povo muito assustado. Brasileiro é muito supersticioso e isso é meio complicado na cabeça dele com relação a todas as coisas. Ele carrega figa, patuá, crucifixo para garantir e está sempre com medo”.
 

O jornalista baiano vencedor do Prêmio Sesc de Literatura já tem um novo romance concluído | Foto: Divulgação
 
Com um novo romance pronto, cujo nome provisório é “Sangue Doce” e aborda mais uma história ambientada no sertão, Franklin Carvalho aguarda para colher os louros da vitória, já que o Prêmio Sesc de Literatura lhe credencia a participar de uma mesa redonda na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) e garante a publicação e distribuição de 2 mil exemplares da obra.  “Esse prêmio é o mais importante para livros inéditos no Brasil, é muito disputado! Ele é uma responsabilidade muito grande, tende a abrir as portas, e tenho que me preparar”, diz o escritor baiano.