Estado cuja capital foi reconhecida pela Unesco como Cidade da M&uacute;sica e recentemente inaugurou um museu dedicado aos artistas da terra, a Bahia mostrou mais uma vez que tem &ldquo;r&eacute;gua e compasso&rdquo; ao abocanhar dez indica&ccedil;&otilde;es no Grammy Latino (<a href="https://www.bahianoticias.com.br/cultura/noticia/41761-caetano-ivete-baianasystem-luedji-e-baroes-da-pisadinha-sao-indicados-ao-grammy-latino.html" target="_blank">saiba mais</a>).

&nbsp;

Dentre os baianos que figuram na lista das melhores produ&ccedil;&otilde;es da ind&uacute;stria fonogr&aacute;fica latino-americana este ano est&aacute; a Orquestra Afrosinf&ocirc;nica, que concorre na categoria de &ldquo;Melhor &Aacute;lbum de M&uacute;sica de Ra&iacute;zes&rdquo; com &ldquo;Orin a L&iacute;ngua dos Anjos&rdquo; (2021), ao lado dos conterr&acirc;neos Luiz Caldas e Ivete Sangalo.&nbsp;

&nbsp;

Sem liga&ccedil;&atilde;o com qualquer institui&ccedil;&atilde;o mantenedora ou apoio de &oacute;rg&atilde;os governamentais, segundo o maestro e diretor art&iacute;stico Ubiratan Marques, a orquestra vive pela atitude e o amor dos integrantes. Mas para quem os obst&aacute;culos s&atilde;o regra e n&atilde;o exce&ccedil;&atilde;o, estar entre os indicados em um pr&ecirc;mio internacional representa mais do que o reconhecimento bem-vindo, &eacute; tamb&eacute;m uma forma de resistir e ocupar espa&ccedil;os aparentemente inalcan&ccedil;&aacute;veis.&nbsp;

&nbsp;

&ldquo;Todo mundo sabe que somos uma orquestra afro, de homens negros e mulheres negras. Ent&atilde;o, essa dificuldade j&aacute; come&ccedil;a a partir da&iacute;, porque geralmente todas as orquestras j&aacute; t&ecirc;m um perfil que &eacute; aquela ideia do eurocentrismo, ent&atilde;o voc&ecirc; fazer um trabalho como esse, de uma certa forma, j&aacute; &eacute; dif&iacute;cil&rdquo;, comenta o maestro, que est&aacute; &agrave; frente da Afrosinf&ocirc;nica h&aacute; uma d&eacute;cada, e entende que o maior pr&ecirc;mio &eacute; conseguir produzir, reafirmar a ancestralidade e &ldquo;colocar pra fora&rdquo; o que precisa ser dito.&nbsp;

&nbsp;

&ldquo;Quando voc&ecirc; recebe uma indica&ccedil;&atilde;o como essa, claro que a gente fica muito feliz, porque &eacute; um reconhecimento de tudo isso, de todo esse amor. &Eacute; o fortalecimento de uma orquestra negra, e isso gera uma visibilidade pra muitos deles que est&atilde;o ali falar &lsquo;opa, t&aacute; vendo como &eacute; poss&iacute;vel?&rsquo;&rdquo;, pontua o artista, que recha&ccedil;a, no entanto, a rivalidade no mundo art&iacute;stico. &ldquo;Eu n&atilde;o vejo assim como uma competi&ccedil;&atilde;o, nunca achei que houvesse essa competi&ccedil;&atilde;o em m&uacute;sica&rdquo;, defende Ubiratan, citando o fil&oacute;sofo Plotino para reafirmar que &ldquo;o maior objetivo da arte &eacute; despertar a alma do ser humano&rdquo;. &ldquo;A quest&atilde;o do pr&ecirc;mio, essas expectativas, eu confesso que eu n&atilde;o tenho muito nesse sentido. O pr&ecirc;mio &eacute; esse reconhecimento. Isso, n&atilde;o &eacute; s&oacute; pra mim, mas pra Afrosinf&ocirc;nica e toda comunidade negra&rdquo;, acrescenta.&nbsp;

<img alt="" src="/fotos/entretenimento_noticias/41796/mg/maestroubiratan.jpg" style="width: 380px; height: 287px;" /> 
&quot;&Eacute; o fortalecimento de uma orquestra negra, e isso gera uma visibilidade pra muitos deles que est&atilde;o ali falar &lsquo;opa, t&aacute; vendo como &eacute; poss&iacute;vel?&rsquo;&quot;, diz o maestro Ubiratan Marques sobre a indica&ccedil;&atilde;o ao Grammy Latino

&nbsp;

UM DISCO EM MEIO &Agrave; PANDEMIA 
Agora indicado ao Grammy Latino, o &aacute;lbum &ldquo;Orin a L&iacute;ngua dos Anjos&rdquo;, que nasceu do olhar sobre a ancestralidade e conversas de Ubiratan Marques com Mateus Aleluia sobre espiritualidade, parece ter contado com muito ax&eacute; para se materializar no tempo certo. &ldquo;N&oacute;s conseguimos ter esse &aacute;lbum porque a gente gravou ali em 2019, come&ccedil;amos a mixar em 2020 e veio a pandemia. Ent&atilde;o, 2020 foi um trabalho de p&oacute;s e a gente conseguiu lan&ccedil;ar&rdquo;, lembra o maestro.

&nbsp;

O t&iacute;tulo do disco, por sua vez, &eacute; uma exalta&ccedil;&atilde;o &agrave; pr&oacute;pria arte, pois a palavra &ldquo;Orin&rdquo; significa &ldquo;can&ccedil;&atilde;o&rdquo;, no Iorub&aacute;. O conceito casa perfeitamente com o que prega a orquestra, j&aacute; que, segundo o maestro, &ldquo;a m&uacute;sica, de uma certa forma, &eacute; a grande protagonista em torno da Afrosinf&ocirc;nica&rdquo;.

&nbsp;

&ldquo;E essa m&uacute;sica que a gente faz &eacute; completamente afrobrasileira, uma m&uacute;sica brasileira. O Ild&aacute;sio Tavares sempre disse isso pra mim &lsquo;oh, maestro, Beethoven fazia m&uacute;sica alem&atilde;, Gershwin fazia m&uacute;sica americana, Debussy fazia m&uacute;sica francesa, n&atilde;o &eacute;?&rsquo;. E eu falava &lsquo;&eacute;&rsquo;. Ent&atilde;o, &eacute; isso que a gente faz, a gente faz m&uacute;sica brasileira&rdquo;, destaca o diretor art&iacute;stico. &ldquo;Tem uma fala de Paulo C&eacute;sar Pinheiro, &lsquo;O Brasil n&atilde;o conhece o Brasil&rsquo;, ent&atilde;o &eacute; mais ou menos isso, a gente precisa valorizar e reconhecer cada vez mais a nossa cultura, que &eacute; t&atilde;o bela&rdquo;, avalia.

&nbsp;

Produzido por Andr&eacute; Magalh&atilde;es e co-produzido por Ubiratan, o projeto tem 12 faixas e conta com participa&ccedil;&otilde;es de Mateus Aleluia, Baiana System, Ger&ocirc;nimo e do angolano Dodo Miranda. A capa &eacute; assinada pelo artista pl&aacute;stico Vik Muniz, que fez uma interven&ccedil;&atilde;o sobre o registro fotogr&aacute;fico de ensaios da Orquestra Afrosinf&ocirc;nica.

<img alt="" src="/fotos/entretenimento_noticias/41796/mg/orquestraafrocapa.jpg" style="width: 280px; height: 280px;" /> 
Capa do disco &eacute; assinada por VIk Muniz

&nbsp;

AMULETO

Como a vida - e tamb&eacute;m a m&uacute;sica - podem ser cheios de coincid&ecirc;ncias, uma das faixas do &ldquo;Orin a L&iacute;ngua dos Anjos&rdquo;, &ldquo;&Aacute;gua&rdquo;, abriu o disco &ldquo;O Futuro N&atilde;o Demora&rdquo;, que rendeu o Grammy Latino ao BaianaSystem, na categoria de Melhor &Aacute;lbum de Rock em L&iacute;ngua Portuguesa. Falta saber agora se a can&ccedil;&atilde;o vai se firmar como um amuleto e ajudar a Orquestra Afrosinf&ocirc;nica a conquistar o pr&ecirc;mio.

&nbsp;

&ldquo;Olhe, eu gosto muito de &lsquo;&Aacute;gua&rsquo; sim, eu acho uma m&uacute;sica muito bonita. Essa coisa de amuleto (risos), basta dizer que a Bahia &eacute; t&atilde;o m&iacute;stica&hellip; Mas eu acho que realmente &eacute; um amuleto no sentido de abrir caminho, porque a &aacute;gua na verdade &eacute; exatamente isso&rdquo;, disse Ubiratan Marques, que &eacute; um dos autores da can&ccedil;&atilde;o, junto com o grupo. &ldquo;Inclusive, tem um ditado de um indiano que usa a &aacute;gua pra poder descrever a m&uacute;sica. Porque l&aacute; na &Iacute;ndia dizem que s&atilde;o 22 duas notas no sul e no norte s&atilde;o 21. Ent&atilde;o perguntaram a esse grande mestre qual &eacute; o lugar que est&aacute; certo, no sul ou no norte, e a&iacute; ele fala: &lsquo;Olha, a m&uacute;sica &eacute; como a &aacute;gua, ela n&atilde;o tem divis&atilde;o&rsquo;. E a &aacute;gua tem isso, ela sempre est&aacute; caminhando, ela passa por obst&aacute;culos, ent&atilde;o isso &eacute; uma maravilha&rdquo;, conta o maestro.

&nbsp;

Ou&ccedil;a a m&uacute;sica &quot;&Agrave;gua&quot;, uma das faixas do disco indicado ao Grammy Latino:

<iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="280" src="https://www.youtube.com/embed/Lg2i5PSkdcQ" title="YouTube video player" width="380"></iframe>

 
FUTURO 
Durante os quase dois anos de trabalhos comprometidos por causa da pandemia, a Afrosinf&ocirc;nica n&atilde;o parou e tem tentado se adaptar ao virtual, mas o Ubiratan diz que as dificuldades s&atilde;o imensas. &ldquo;Todas as atividades da orquestra s&atilde;o feitas na Casa da Ponte, assim como nossa escola, que &eacute; o N&uacute;cleo Moderno de M&uacute;sica, assim como quase tudo est&aacute; l&aacute;, mas por causa da pandemia n&oacute;s fechamos o espa&ccedil;o&rdquo;, relata o maestro.&nbsp;

&nbsp;

Driblando os obst&aacute;culos, a orquestra tem realizado uma s&eacute;rie de concertos com grupos afro da Bahia e de fora. &ldquo;A gente fez l&aacute; com o maracatu pernambucano Na&ccedil;&atilde;o Estrela Brilhante, em Recife; fizemos aqui com Mal&ecirc; Debal&ecirc;, com o Il&ecirc;; iremos fazer ainda em Minas Gerais com o congado Irmandade de Nossa Senhora do Ros&aacute;rio, e participa&ccedil;&atilde;o de S&eacute;rgio Perer&ecirc;&rdquo;, conta o artista.

&nbsp;

Outros projetos, entretanto, aguardam o sinal verde para uma retomada mais robusta dos espet&aacute;culos presenciais. &ldquo;O que a gente conseguir fazer no audiovisual, por exemplo, esses concertos afro, acredito que a gente deva dar continuidade no virtual. Mas tem outros que, infelizmente, s&atilde;o concertos mesmo, discos, outras coisas que a gente tem. Tem um concerto que a gente est&aacute; pra estrear, se chama &lsquo;Colina das Sombras&rsquo;, que &eacute; do nosso terceiro &aacute;lbum, a partir de um poema contra o racismo. Esse &eacute; um projeto que a gente est&aacute; com ele pronto, mas precisa ensaiar. N&atilde;o d&aacute; pra ensaiar virtualmente&rdquo;, revela Ubiratan. &ldquo;Temos muitas coisas, mas a gente precisa, realmente, que as coisas voltem ao normal&rdquo;, conclui.

A cantora e compositora baiana Maria Beth&acirc;nia &eacute; a homenageada da 19&ordf; edi&ccedil;&atilde;o do Festival de M&uacute;sica Educadora FM. Beth&acirc;nia se apresenta no Teatro Castro Alves no dia 12 de dezembro, ap&oacute;s a cerim&ocirc;nia de premia&ccedil;&atilde;o do festival. A apresenta&ccedil;&atilde;o ser&aacute; transmitida ao vivo pela R&aacute;dio Educadora FM e pela TVE para toda a Bahia.

 
Este ano, o Festival bateu mais uma vez o pr&oacute;prio recorde no n&uacute;mero de m&uacute;sicas inscritas totalizando 1.329 composi&ccedil;&otilde;es. Al&eacute;m disso, o Festival bateu recorde tamb&eacute;m de cidades participantes. No total, foram contabilizadas inscri&ccedil;&otilde;es de 111 munic&iacute;pios, distribu&iacute;dos pela Bahia e em seis outros estados brasileiros. Na Bahia, o n&uacute;mero de cidades tamb&eacute;m foi superior &agrave; &uacute;ltima edi&ccedil;&atilde;o, contabilizando 96. Este ano, o festival recebeu pela primeira vez uma inscri&ccedil;&atilde;o internacional, de um baiano residente no Reino Unido.

&nbsp;

O &nbsp;festival vai premiar m&uacute;sicos baianos com valores que variam entre R$ 1.000 e R$ 12.000, distribu&iacute;dos nas categorias de melhor m&uacute;sica com letra, melhor m&uacute;sica instrumental, melhor int&eacute;rprete de m&uacute;sica com letra, melhor int&eacute;rprete de m&uacute;sica instrumental, melhor arranjo para m&uacute;sica com letra, melhor arranjo para m&uacute;sica instrumental e a m&uacute;sica escolhida pelo p&uacute;blico. Al&eacute;m disso, as 50 m&uacute;sicas selecionadas ser&atilde;o incorporadas &agrave; programa&ccedil;&atilde;o permanente da r&aacute;dio.

&nbsp;

Nas &uacute;ltimas edi&ccedil;&otilde;es, o Festival de M&uacute;sica Educadora FM homenageou Tom Z&eacute;, Elza Soares, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Mateus Aleluia que realizaram suas apresenta&ccedil;&otilde;es nas cerim&ocirc;nias de premia&ccedil;&atilde;o.

A cantora Maria Beth&acirc;nia lan&ccedil;ar&aacute; um podcast onde discute a literatura de Clarice Lispector e Carlos Drummond de Andrade a partir de suas aproxima&ccedil;&otilde;es com a m&uacute;sica. Com 6 epis&oacute;dios, o trabalho ser&aacute; disponibilizado pelo &nbsp;Instituto Moreira Salles, e tem previs&atilde;o para lan&ccedil;amento no dia 4 de novembro.

&nbsp;

Segundo o Papelpop, o primeiro cap&iacute;tulo deve ter o foco na obra de Lispector, autora de quem Beth&acirc;nia j&aacute; se declarou grande f&atilde; e chegou a incluir trechos selecionados da obra entre uma can&ccedil;&atilde;o e outra do repert&oacute;rio de &ldquo;Drama&rdquo;, disco lan&ccedil;ado em 1972.

&nbsp;

Em agosto Maria Beth&acirc;nia lan&ccedil;ou o &aacute;lbum &ldquo;Noturno&rdquo;, que conta com 12 faixas in&eacute;ditas e a participa&ccedil;&atilde;o de Xande De Pilares &nbsp;na faixa &ldquo;Cria da Comunidade&rdquo;.

&nbsp;

&nbsp;

<iframe allow="encrypted-media" allowtransparency="true" frameborder="0" height="380" src="https://open.spotify.com/embed/album/3Q6KR2k01ltWu8OtqOmm3E" width="100%"></iframe>

Notícia

Maria Bethânia apresenta show inédito com a Orquestra Afrosinfônica em Salvador

Notícias Relacionadas

Com Afrosinfônica no Grammy, maestro fala em 'fortalecimento de uma orquestra negra'

Maria Bethânia é a homenageada do Festival de Música Educadora FM

Maria Bethânia estreia podcast sobre literatura em novembro