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Marca Bahia Notícias

Notícia

EmCenaAção: Leia a crítica do filme 'Homens, Mulheres e Filhos', de Jason Reitman


Um dos diretores mais afiados no que diz respeito a tratar de humanismo e situações tão comuns, daquelas que passam despercebidas no cinema por ser este, um grande portal de entretenimento. Um exímio profissional que concilia o tempo em ser um bom e politicamente incorreto pai, a adolescente grávida, o homem que não tem vida pessoal que desafia a si mesmo numa mudança, da mulher que volta à sua cidade natal afim de se redescobrir, ou do estranho casal formado pela síndrome de Estocolmo.  No Best seller de Chad Kulgten, Reitman parece ter encontrado basicamente um mix do que já havia feito antes. Um acerto ou um risco grande?

“Homens, Mulheres e Filhos” conta a história de um grupo de adolescentes colegiais e seus pais e como as formas de se navegar da internet mudou seus relacionamentos familiares, suas auto-imagens, suas comunicações, suas vidas amorosas.

Adaptado da obra homônima de Chad Kulgten por Erin Cressida Wilson (“O Preço da Traição”, “A Pele”, “Secretária”) e Jason Reitman (“Refém da Paixão”, “Jovens Adultos”, “Amor sem escalas”, “Juno”, “Obrigado por Fumar”), que também dirige, a história começa traçando o paralelo entre a pequeneza do homem perante o universo, graças ao vídeo homenagem “Pálido Ponto Azul” a Carl Sagan referente à Terra vista à distância recorde pela Voyager, no início da década de 90. Neste embalo, conhecemos Tim Mooney (Elgort) e Brandy Beltmeyer (Dever), dois adolescentes, colegas de sala, ele o jogador importante do time de futebol americano que desiste do esporte para se dedicar a um game para a revolta do pai, Kent (Norris), um homem amargurado pelo divórcio; e ela a garota com um que de profundidade intelectual que é censurada pela mãe, Patricia (Garner), em controle ditatorial. Vemos então o casal Truby, Don (Sandler) e Helen (DeWitt), em crise conjugal por não ter mais carícias e sexo, seu filho Chris (Tope) ansioso por sexo; a mãe solteira e com a libido em solta, Donna Clint (Greer) e fazendo de tudo para lançar a carreira da filha como atriz e modelo, Hannah (Crocicchia). Também, vemos o drama da garota anoréxica que nutre um forte interesse por um dos atletas mais disputados do colégio.

Esse amalgama de personagens conduz uma narrativa que não apenas mira desenvolver todas elas, mas colocá-las em zona de desconforto ao passo que as mescla, como núcleos de uma novela. Claro que, o choque entre personagens será mediado. Afinal, um e outro serão mais cruciais para o todo do que outros. Embora pareça um livro complicado de se tornar filme, Reitman e Wilson conseguem dar um pontapé e meio para o filme. Desperdiça algumas personagens, talvez por seus grandes interpretes como o pai da Allison (Simmons), que só aparece em duas cenas e rápido. Mas, vítima da grandiosidade da qual deseja ser e aparentar e rechaçada por sua duração, o filme acaba acelerando alguns em acertar alguns pontos e deixa outros em aberto. O tom não mastigado funciona em parte, mas há uma certa impressão de incompletude. Deixar certos momentos e finais em aberto é bom, mas talvez fosse o caso de aproveitar mais o que tinha do que desperdiçar muito tempo com narração e exibindo satélites.
Reitman busca traçar a analogia entre o oceano de possibilidades da internet e sua imparcial influência na sociedade. Vida privada, pornografia, perfis, avatares, games, controle. Como controlar o uso de algo que nos permite justamente a ausência de controle para as coisas. O poder de estar além da liberdade de expressão. Estar mais próximo de desconhecidos do que as pessoas à sua volta, separados por nicknames. E quando algo sai do virtual para o real, as personagens sentem a grande diferença entre o agir e avançar em relação a um clique e delete.

O diretor busca de forma precisa e certeira, todas as nuances, desde um pai desolado que resolve olhar o computador do filho, até uma mãe obcecada em privar a filha da vida. E como essa obsessão, vinda de diversos prismas pela tecnologia, causa efeitos colaterais para o bem e para o mal. Da jovem que busca e aceita dicas perigosas ao melhor esquema de a ação errada, na hora errada, no lugar errado.

Com um elenco inchado, vale ressaltar como Adam Sandler atua bem em dramas, diferente das comédias. Ansel Elgort tem crescido em adaptações literárias e com uma mente aberta, ainda tem muito a mostrar e a evoluir. As jovens Elena e Olivia aparecem bem. Jennifer Garner alterna o ar ditatorial, raivoso e desesperado, talvez quase ótimo se não fosse muito biquinho. Dean Norris sempre bem-vindo acerta em cheio como o pai de Tim Mooney. Rosemarie DeWitte, angustiada, delicada e selvagem na medida certa. A narração de Emma Thompson dá o tom que Reitman quer, mas cá para nós, se é para por algo, que fosse do próprio vídeo de Carl Sagan.

“Homens, Mulheres e Filhos” pode agradar gregos, troianos, trácios e romanos. Mas, mas como toda boa obra que quer enxergar demais com um zoom numa informação, pode passar desapercebido por alguns detalhes. Talvez, a necessidade de se expor tanto como numa selfie atrapalhe a genialidade da discrição como melhor arma para se exibir de forma fria a passional forma de se humanizar hoje em dia.

Nota: 8

HOMENS, MULHERES E FILHOS (MEN, WOMEN & CHILDREN). 2014. DE: JASON REITMAN. COM: ADAM SANDLER, JENNIFER GARNER, ROSEMARIE DEWITT, JUDY GREER, DEAN NORRIS, EMMA THOMPSON, ANSEL ELGORT, KAITLYN DEVER, OLIVIA CROCICCHIA, TRAVIS TOPE, ELENA KAMPOURIS, WILL PELTZ, J.K.SIMMONS, DENNIS HAYSBERTH. DRAMA. PARAMOUNT PICTURES. 119 MIN.

Rodrigo Meneses é crítico de cinema do site EmCenaAção - http://www.emcenaacao.com.br/ ehttp://www.facebook.com/portalemcenaacao