Modo debug ativado. Para desativar, remova o parâmetro nvgoDebug da URL.

Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias

Notícia

Resenha BN: O universo de Jorge Amado em exposição

Por Marília Moreira

"Pode entrar?" Essa foi a pergunta de uma criança ao se deparar com uma série de rolos pendurados no teto, que pareciam impedir sua passagem. Envoltos com fotografias da Lavagem do Senhor do Bonfim, eles se configuram como uma espécie de “fotografia penetrável” e conferem o ar de “muvuca” que tem as festas populares na Bahia. Muitos visitantes iniciam o passeio pela vida de Jorge Amado – em exposição na mostra “Jorge Amado e Universal”, no Museu de Arte Moderna (MAM) – por este momento. O mesmo que, ao lado do Carnaval, atrai centenas de turistas à cidade de Salvador todos os anos.
 
Logo após a travessia pelo mar de gente e alfazema da Lavagem do Bonfim, o visitante encontra o módulo da exposição, que conta com a descrição das dezenas de cores de pele (mais de cem!) relacionadas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 1976; as respostas foram obtidas com a pergunta aberta sobre qual era a cor de cada entrevistado. Dentre as respostas: alva rosada, azul, azul-marinho, branca, bem branca, branca pálida, baiano, cor de leite, cor de ouro, cor de rosa, laranja, lilás, mestiça, parda, polaca, preta, pretinha, roxa, ruiva, russo, tostada, turva, verde, vermelha, jambo... Isso exposto em uma parede, na outra, trechos de livros de Jorge Amado que abusam dessa variedade de cores na descrição física de personagens. Vale ressaltar que Jorge já registrava essa variedade em suas obras, mesmo antes da pesquisa e catalogação. Elementos religiosos do candomblé, do catolicismo e até um Corão, livro sagrado do Islã, dividem as mesmas vitrines e simbolizam o sincretismo que tanto inspirou Jorge. Ainda na capela do MAM, há espaço para a faceta política do escritor [com as prensas que rodam as matérias escritas por Jorge para os jornais políticos e as matérias nas quais ele era o noticiado] e para o lado mais “quente” de suas obras [com a exposição de trechos eróticos/sensuais de seus livros].
Na Galeria 1 estão expostos todos os livros do escritor e alguns exemplares de suas mais de 49 traduções. Já no Casarão, a exposição nos revela os personagens de Jorge através do audiovisual; em telas verticais e alto-falantes, o visitante pode ouvir trechos de livros, ver ilustrações, documentários e entrevistas. Os personagens ainda são lembrados nas fitinhas, semelhantes a do Senhor do Bonfim, que carregam cada um de seus nomes. O cheiro de cacau [e de camarão frito, que vá lá, não fazia parte da mostra, mas do cardápio do Solar Café] é responsável pelo aroma do universo de Jorge. Dezenas de garrafas de azeite de dendê, dispostas ao lado da janela com vistas ao mar, prosseguem simulando o movimento das ondas.
Cerca de duzentas fotografias emolduradas no laranja do espelho barato de feira refletem aspectos da vida pública e privada de Jorge Amado. A quantidade e a qualidade dos registros, a maior parte feita pela companheira Zélia Gattai, é de causar inveja a qualquer representante da geração Instagram.
 
Há espaço ainda para os rascunhos dos ilustradores que imprimiram seus traços nas obras de Jorge, para um cabideiro com as camisas extravagantes que vestiram o escritor e para uma série de fotografias recentes que exploram as belezas, problemas e contradições observadas pelo escritor em seus 89 anos. 
 
A mostra “Jorge Amado e Universal”, que estreou no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, entre os dias 17 de abril e 22 de julho, foi aberta à visitação no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador, na sexta-feira (10). Com visitação gratuita, a mostra segue até o dia 14 de outubro, de terça a sexta, das 13h às 19h, e sábados, domingos e feriados, das 14h às 19h.