Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias

Notícia

'Fico feliz que o filme incomode Bolsonaro', diz Wagner Moura sobre estreia de Marighella

Por Bianca Andrade / Jamile Amine

'Fico feliz que o filme incomode Bolsonaro', diz Wagner Moura sobre estreia de Marighella
Foto: Reprodução / Mateus Ross

Três anos após ser impedido de ser lançado no Brasil por desavenças com a Agência Nacional do Cinema (Ancine) (entenda aqui), o longa "Marighella", dirigido por Wagner Moura e estrelado por Seu Jorge na pele de Carlos Marighella, chega aos cinemas no próximo dia 4 de novembro, data simbólica que marca os 52 anos da morte do guerrilheiro baiano.

 

O atraso no lançamento não fez com que o longa, uma biografia baseada no livro do jornalista Mário Magalhães, "Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo", perdesse seu brilho e cumprisse com a sua função: passar uma mensagem de amor e incomodar, a quem quer que seja.

 

"Estou caminhando com esse filme desde 2013, é uma missão. Eu passei por muita coisa com esse filme, todo tipo de delícias e dores eu vivi, e acho que vou viver ainda", afirma Wagner Moura. 

 

Em Salvador para a pré-estreia de sua produção, sua primeira na função de diretor, o artista conversou com o Bahia Notícias sobre o trabalho e falou sobre o principal desafio de levar Marighella para o cinema, a política contrária à cultura vigente em território brasileiro.

 

"O maior desafio para mim enfrentar foi o extra campo, as paixões que o filme desperta. Eu fico feliz que o filme incomode o [presidente Jair] Bolsonaro, eu acho bom. Mas eu fico impressionado, chocado, quando um governo declara guerra a um produto cultural. Mais do que isso, declarou guerra ao Brasil, à cultura de um modo geral". O diretor, inclusive, já havia declarado que não tinha dúvidas de que o longa sofreu censura do governo federal (leia aqui).

 

As dores às quais Moura se refere foram os ataques ao longa e ameaças de grupos da extrema direita aos atores nos sets de filmagens. No entanto, o que poderia desestimular a equipe formada por Adriana Esteves, Bruno Gagliasso, Luiz Carlos Vasconcelos, Humberto Carrão, Jorge Paz, Bella Camero e Herson Capri, acabou sendo a pólvora, em uma alusão ao título do livro de Magalhães que inspira a obra.

 

"Eu tive muito prazer em fazer. Se por um lado os ataques foram duros, por outro lado eles também nos fortaleceram. Nos deu um sentimento enquanto filmávamos e fazíamos, de necessidade de estarmos juntos e respondermos aquilo com o filme em si. Tinha uma energia muito poderosa, combativa, artística, tesuda, no set todos os dias, e acho que o meu trabalho consciente mais importante como diretor era esse, primeiro que todos vissem o filme do mesmo modo que eu estava vendo, desafiar a todos para que contribuíssem com o melhor que tinham para aquele filme, e para que todos os dias acordassem com vontade de estar ali", conta.

 

Entre os ataques pré e pós produção, a exemplo de matérias difamatórias e declarações polêmicas feitas por membros do governo, está o movimento de um grupo que uniu forças para avaliar de forma negativa o longa no site IMDb, plataforma que reúne informações técnicas sobre milhares de filmes e séries do mundo.

 

Atualmente, a produção, que ainda não estreou nos cinemas e, portanto, não tem como ser avaliada de forma correta, aparece com uma nota média de 3,6 de um total de 10. 

 

 

 

No longa, Marighella é retratado como uma espécie de anti-herói em suas diversas facetas. Moura traz os momentos de combate com cenas fortes de ação, além dos dolorosos episódios de tortura, mas mostra ao público a parte humana do guerrilheiro. O filme mostra a convivência com Clara, seu filho Carlinhos e a compaixão com os companheiros de luta, além do amor que corria pelo sangue de Marighella, para além da pátria, como é gritado pela neta do protagonista, Maria Marighella, que interpreta Elza Sento Sé, mãe do guerrilheiro, nas cenas finais do filme.

 

A produção traz também Bruno Gagliasso na pele do delegado Lúcio, personagem que representa o torturador Sérgio Paranhos Fleury, e remete o público a figuras de um outro longa com dedo de Wagner Moura, alguns dos policiais retratados em "Tropa de Elite 2".

 

Questionado pelo Bahia Notícias sobre a possibilidade do público entender de forma deturpada a mensagem de amor que ele frisa passar em "Marighella", levando adiante uma ideia extremista, assim como aconteceu em "Tropa de Elite" - a partir da qual foi abraçada a ideia do policial que mata bandido para justificar discursos de ódio e a banalização da violência -, Wagner foi direto:

 

"O filme depois que estreia não é mais meu, ele é polissémico. As pessoas leem a bíblia de tantas formas diferentes. Eu posso defender o filme que eu fiz, como eu defendi o Tropa na época, mas eu não posso impedir que as pessoas vejam o filme dessa forma. Isso é natural".

 

Foto: Reprodução / Mateus Ross

 

Durante o bate-papo, Wagner voltou a tecer críticas ao governo de Bolsonaro e reafirmou que a eleição do militar foi trágica e pedagógica. O ator e diretor, que assume sua posição política e em recente entrevista declarou seu voto no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, provável candidato do PT em 2022, se mostrou positivo quanto ao futuro.

 

"Não é esse Brasil que a gente quer, a gente viu. Nos defrontamos com isso. As pesquisas dizem. Sou muito otimista com 2022, [mas] vamos ter que reconstruir o país, vai ser um trabalho duro".