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Selecionado entre jovens de todo mundo, baiano vai debater futuro do cinema na Suíça

Por Jamile Amine

Selecionado entre jovens de todo mundo, baiano vai debater futuro do cinema na Suíça
Foto: Arquivo Pessoal

Aos 23 anos, o soteropolitano Bernardo Lessa foi selecionado para o programa U30, previsto para agosto, na programação do Festival de Cinema de Locarno, na Suíça. Ele, que em 2019 foi um dos 250 convidados para participar do “Industry Academy”, laboratório para novos talentos promovido pelo festival, agora figura entre os oito “jovens promissores" escolhidos para debater o futuro do cinema, sendo o único latino-americano do seleto grupo.

 

“Eu chorei demais, é um programa muito novo e eu nem sabia que poderia ser convidado. Esse programa surgiu só em 2019, e surgiu em uma versão piloto em que convidaram 24 jovens talentos abaixo dos 30. Aí, agora na versão oficial eles convidaram só oito. Eu não esperava o convite, não esperava absolutamente nada”, conta o jovem baiano, que na Suíça irá participar de debates junto aos outros escolhidos, com o objetivo de apontar soluções para o mercado cinematográfico. "Com a pandemia, as plataformas de streaming cresceram muito e tiraram o poder de negociação das salas de cinema. Todo mundo quer saber o que vai ser no futuro. Vamos discutir ações que sejam boas para o mercado mundial", pontua.

 


Bernardo (abaixo e à esquerda), entre os talentos da América Latina no Industry Academy do Festival de Locarno, em 2019 | Foto: Arquivo pessoal

 

Apesar de muito jovem, o soteropolitano é graduado em Cinema pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), já trabalhou nas equipes de programação, curadoria e marketing do cinema da Fundação Nabuco, e hoje é supervisor de distribuição da Vitrine Filmes, uma das maiores distribuidoras independentes do Brasil, cujo catálogo inclui longas-metragens premiados como “Bacurau” e “A Vida Invisível”.

 

A carreira promissora de Bernardo, entretanto, não foi sedimentada por mero acaso e tampouco por pouco empenho. A identificação com o audiovisual veio na infância, quando ele, que é gago, percebeu que conseguia se comunicar bem naquele formato. “Entre os 10 e 11 anos eu aprendi a gravar vídeo e descobri que podia gravar sem ser impedido pela minha condição da fala. Desde pequeno sou gago, e quando vi que o vídeo e o audiovisual podiam ser meu modo de comunicação, isso virou minha linguagem”, lembra o baiano, que deixou Salvador aos 18 anos para estudar em Recife (PE).

 

A mudança se deu pela vontade de Bernardo de cursar Cinema e ter uma vivência em uma universidade federal. “Como a Ufba [Universidade Federal da Bahia] tem Comunicação, podendo apenas fazer ênfase em audiovisual, mas não tem o curso de Cinema e Audiovisual, decidir ir para a UFPE, onde tem o curso”, conta o baiano, que concluiu a graduação debruçando-se sobre a democratização do cinema nacional, mapeando as políticas públicas voltadas para a distribuição dos filmes. 

 

A partir do trabalho acadêmico, Bernardo percebeu que, apesar do crescente investimento em políticas de fomento nos últimos dez anos, há uma desproporção entre os valores empregados na produção e na distribuição do cinema nacional. “A maior parte, 96%, são voltados para a produção, enquanto só 4% vai para distribuição”, constatou o jovem, que vê o cenário deteriorar ainda mais na gestão Bolsonaro. “O governo atual joga contra o povo e contra a cultura”, avalia o baiano, segundo o qual não é possível produzir se não houver políticas públicas de fomento favoráveis.

 


Aos 23 anos, Bernardo sonha em democratizar o cinema brasileiro e impulsionar o mercado audiovisual no Nordeste | Foto: Arquivo Pessoal

 

A pesquisa para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi também o que lhe credenciou a uma vaga de emprego na Vitrine Filmes, sediada em São Paulo, e o obrigou a migrar novamente, desta vez saindo de Pernambuco para a capital paulista. "No fim de 2019, Felipe Lopes viu minha pesquisa voltada para políticas públicas e eu fui convidado a trabalhar na Vitrine Filmes”, lembra Bernardo, citando o diretor da empresa.

 

“Entrei só como atendimento e curadoria. Alguns meses depois me passaram para o setor financeiro, para eu entender os modelos de negócio e como a Vitrine funciona. Depois me tornei assessor do diretor e hoje em dia sou supervisor de distribuição, estou em todos os departamentos”, narra o soteropolitano, que desde o ano passado aproveita a estadia em São Paulo para conciliar trabalho e a sequência de sua pesquisa, cursando uma pós-graduação em Gestão de Negócios Audiovisuais, pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP). 

 

Na labuta diária, mas de olho no progresso pessoal e da sociedade, Bernardo Lessa vê com entusiasmo o que o futuro lhe reserva, sobretudo mirando o próximo agosto no Festival de Cinema de Locarno. “Eu acho que o mais importante nessa seleção e o que me deixa mais feliz - eu chega fico lacrimejando -, é que eu, nascido e criado em Salvador, nunca vi esse lugar de mercado como um lugar que eu pudesse pertencer também. Porque quando olhamos o mercado de cinema, distribuidoras, o poder financeiro do cinema brasileiro está muito focado no eixo Rio-São Paulo”, confessa o baiano. “Tenho certeza que essa seleção vai ser uma virada de chave. E minha missão é levar mais dinheiro para o Nordeste, levar mais oportunidade e abrir portas, não só de produções, mas de mercado também. Por muitos anos o Sudeste explorou a arte do Nordeste e tirou dinheiro de nós, não pode ser assim e não vai ser assim”, prevê.